Qual o problema em dizer: Eu te amo? Já repararam nas comédias românticas? O galã e a mocinha, geralmente, passam o filme inteiro lutando para não soltar essa frase. Como se ela carregasse alguma maldição terrível.
Amar deveria ser algo muito mais simples. Eu amo minha mãe. Eu amo meus irmãos. Eu amo meu filho. Eu amo meus amigos. Eu amo minhas amigas. Qual o problema? Aparentemente, nenhum. Você só não pode declarar seu amor para alguém, quando existe sexo no meio, por cima, por baixo, ou dos lados, vai saber.
- “Ele só queria era me comer, o cafajeste!”
- “Aquele ali fala ‘eu te amo’ pra qualquer uma!”
Então, quer dizer que esse tipo de amor é maior, é mais importante, é mais sublime que o amor que você tem pela sua família? Pelos seus amigos? Pelo seu próprio filho?
Acho que não. Porque dificilmente deixamos de amar nossa família, nossos amigos ou amigas. Mas aposto que você já amou várias mulheres, de quem nem se lembra mais.
- Então, você não amou de verdade! Porque quando é de verdade... – elas costumam reclamar...
É pra sempre? É essa a conclusão? O amor de verdade é aquele que você vai ter apenas com uma pessoa, aquela com quem você vai passar o resto de sua vida? Quando amamos na adolescência, dificilmente será para sempre. Então, não é amor? Quando namoramos seis meses apenas, não é amor? Afinal, quanto tempo precisamos ficar com alguém para que valha a pena antes declararmos: Eu te amo! E isso significa que estou pensando numa relação de, no mínimo, três anos, cinco meses e dez dias com você. CONTINUA-->
Ainda existem pessoas, principalmente, mulheres, que acreditam que só existe uma mulher para cada homem, um amor verdadeiro na vida. Que dividem os homens em Lobo Maus ou Príncipes Encantados.
Amar é bom. Amar é ótimo. Não há problema algum em amar. E, portanto, não deveria haver problema algum em dizer: “Eu te amo!” A questão é que as pessoas confundem amor com compromisso. É como se ao dizer “Eu te amo”, a partir daquele momento, você assinasse um contrato de exclusividade, que te obriga a amar somente aquela pessoa, fazer sexo apenas com ela, não olhar com desejo para mais nenhuma outra pro resto de sua vida. Ou, pelo menos, durante o tempo em que durar aquele amor. Porque, hoje em dia, as pessoas já admitem que o amor pode ser eterno enquanto dure, mas um dia ele pode acabar.
O que as pessoas, homens e mulheres incluídos, se esquecem é que amor não tem nada a ver com castração, com posse, com controle, com fidelidade, com exclusividade; absolutamente nada a ver com compromisso. Um casal que se ama pode, é claro, optar por exclusividade, por fidelidade, por compromisso. São acordos que fazemos em função de uma relação, de planos de longo prazo, de objetivos comuns.
Mas amar é muito mais simples e muito mais fácil do que manter uma relação, tanto que nos separarmos de pessoas que amamos, mas com quem a relação às vezes é desastrosa. Como já escreveu aquele escritor de teatro lá da Inglaterra, o tal do Shakespeare: “beijos não são contratos e presentes não são promessas”. E ele disse isso há muito tempo! Por que as pessoas ainda não aprenderam?
Por isso, quando alguém jogar na sua cara que você lhe disse “Eu te amo” pra te cobrar alguma coisa, esta é a prova de que ela não entende nada do que é amar. Talvez a solução seja dizer: “Eu te amo. Mas é só isso. Nada além! Não vá começar a pensar bobagens!” CONTINUA-->
*Emilio Boechat nasceu em Niterói, mas mudou-se para São Paulo aos 24 anos para trabalhar, é claro (e parar de se sentir mal por não ser bronzeado). Queria mesmo tocar guitarra. Mas, em 1991, escreveu a Camila Baker e não parou mais. Ainda em teatro, destaque também para: Luluzinhas, Tudo De Mim e Eu Era Tudo Pra Ela... E Ela Me Deixou, que lhe rendeu uma indicação ao Troféu Mambembe de melhor autor, que ele não ganhou, lógico. Desde 1999, escreve para televisão porque sobreviver de teatro é dureza. Já passou pela GLOBO (Zorra Total e Angel Mix); BAND (Floribella); e GNT (Mulheres Possíveis). Atualmente, está na RECORD, onde escreveu como colaborador Luz do Sol, Amor e Intrigas, Os Mutantes, Promessas de Amor e Bela, a feia.