Clube da Luta: 20 anos Clube da Luta completa duas décadas em 2016. Aproveitamos para recapitular seus pontos mais importantes gplus
   

Clube da Luta: 20 anos

Clube da Luta completa duas décadas em 2016. Aproveitamos para recapitular seus pontos mais importantes

Confira Também

“Nas montanhas da Bolívia, um lugar onde o livro ainda precisa ser publicado (...), todo ano, as pessoas mais pobres se reúnem em vilas no alto dos Andes para celebrar o festival ‘Tinku’.

Lá, os homens do campo arrebentam uns aos outros na porrada. Bêbados e ensanguentados, eles socam uns aos outros apenas com os punhos e cantam: ‘Nós somos homens. Nós somos homens. Nós somos homens...’

Os homens lutam com os homens. Eles lutam do mesmo jeito que têm feito há séculos. No mundo deles, (...) a coisa que eles mais esperam o ano todo é o festival.”

É com estas palavras que o autor de Clube da Luta, o norte-americano Chuck Palahniuk, encerra seu posfácio na reedição de 2012. Se dizem que não devemos julgar um livro por sua capa, me sinto no total direito de elogiar um por seu posfácio intrigante. Intrigante como toda a história que o ianque publicou originalmente em 1996.

No aniversário de 20 anos da obra, reconhecida como um dos romances mais originais e provocativos de sua década, decidi revisitar as linhas de Palahniuk.

Havia assistido ao filme no início dos anos 2000 – e na época, no alto de minha pré-adolescência, fiquei boquiaberto, impactado, surpreendido.

Por uma daquelas coincidências da vida, me deparei semanas atrás com uma ótima promoção do livro (que nem sabia que existia!). Como bom sovina, uni o útil ao agradável e acrescentei o mesmo em minha lista de leitura. Posso afirmar: é nitroglicerina pura, assim como o longa-metragem que havia assistido em fita VHS! Aproveitei para rever o filme (agora na Netflix, em HD!) e, mesmo sabendo de cor e salteado as frases e desfecho da narrativa (não, não haverá spoilers por aqui!), mantive a adrenalina lá em cima e “me deixei surpreender” novamente pela narrativa. Seguramente, é daqueles textos embebidos em testosterona e dos melhores direcionadas ao público masculino.

Agora, com livro e “dois filmes” no currículo (além de algumas leituras que encontrei pela Internet, incluindo o site oficial do autor), aproveito para pontuar algumas questões importantes que fazem de Clube da Luta uma história tão especial, evidenciando – e criticando – diversos males que experimentamos na vida (masculina) moderna:

Somos uma Sociedade Fútil, Consumista e que não conhece a verdadeira Realização e Felicidade

Clube da Luta é um ataque direto e muito sincero ao consumismo desenfreado que a vida moderna nos impõe e enaltece. O personagem principal, catálogo em mãos, passa ligando para uma loja de móveis para tentar deixar seu apartamento o mais “aconchegante” possível mas, na verdade, encontra numa verdadeira pocilga um lar para chamar de seu. E se dá conta de que nós, homens (ou seres humanos, de forma mais ampla), talvez não precisemos mesmo daquela mesinha de centro importada, ou do capacho multicolorido, para termos um teto em que nos sintamos cômodos.

Com as roupas temos o mesmo aprendizado: para que colecionar pares e mais pares de sapatos, gravatas das mais variadas cores? Poderíamos, fácil e racionalmente, nos atermos a umas poucas roupas de couro animal que durariam décadas.

O consumo até nos traz aquele efêmero sentimento de realização mas, no longo prazo, em nada colabora para nos tornar melhores e mais realizados homens.

Nosso Trabalho é uma grande fonte de Infelicidade

A grande maioria de nós já teve experiências profissionais que são um verdadeiro pesadelo. A bem da verdade, na sociedade moderna, arriscaria dizer que apenas uma pequena minoria vivencia momentos de realização através do trabalho. Pela própria natureza do processo laboral moderno, terminamos realizando tarefas repetitivas, burocráticas. E que nos tornam profundamente infelizes.

Clube da Luta escancara esta realidade ao mostrar nosso “herói” acordando, de aeroporto em aeroporto, de hotel em hotel, entre refeições miniatura em aviões, cada vez mais deprimido, depressivo e com aquele ar de desejar que tudo exploda – pois seria um sofrimento menor do que encarar as infindáveis rotinas de trabalho. 

Insônia

Quem nunca sofreu de um dos males da vida moderna, a odiada insônia? 

Eu mesmo, confesso, já tive profundas crises para conseguir dormir, principalmente aos domingos. E, na busca pelo sono, já tentei de tudo. Hoje, consigo minimizar seus efeitos através de uma singela combinação de: exercícios (mais longos no domingo, liberando o máximo de endorfina), um pouquinho de cerveja à noite (para relaxar corpo e mente) e um bom tapa-olho (para que nenhuma fresta de luz seja motivo para arregalar os olhos de madrugada).

Em Clube da Luta, nosso personagem principal tem crises agudas de falta de sono. Daquelas que te deixam com a sensação, por dias, de que está tendo uma experiência extracorpórea. A solução para este mal? De acordo com a história, além de frequentar alguns círculos de ajuda (como o “Homens Remanescentes Unidos”, constituído por homens com câncer de testículos), o ideal é o homem “soltar os bichos”, sair na porrada (como no exemplo real boliviano, acima descrito), literalmente. A partir daí, ter-se-á o sono de um bebê, com corpo e mente devidamente extenuados.

Somos uma geração de homens criados por mulheres

No cerne da sociedade moderna, temos uma geração marcada por famílias desmontadas, em que as mães – em muitos casos – acabam ficando com a tarefa de educar suas crias masculinas. Isto, de acordo com a teoria da história, nos torna homens frágeis, sem boas referências de como ser um verdadeiro representante do gênero masculino. 

EM SUMA: deveríamos voltar às origens da humanidade

Como a vida moderna, de acordo com a obra, é um grande problema, o homem deveria voltar ás suas origens, vivendo em pequenas comunidades (como fez o grupo de nosso personagem principal e do herói/anti-heroi Tyler Durden), realizando trabalhos manuais (plantar, produzir insumos de uso diário, como sabão, por exemplo), externando seus sentimentos mais animais e viris como forma de expurgar o ódio e trabalhar o corpo (daí surgem os clubes de luta) e deixando o fútil consumo como algo no passado (ou, neste caso, no futuro).

Esta é, em minha opinião, a grande mensagem que Clube da Luta deseja passar.

Curiosidade #1: O que veio antes?

Chuck Palahniuk comenta, no referido posfácio, que quando sua obra se tornou reconhecida, passou a ser questionado sobre suas fontes de inspiração. Homens o paravam nas ruas perguntando onde era o clube da luta mais próximo, como podiam fazer parte. O autor afirma que tais clubes não passam de ficção, de uma ideia banal que lhe passou à cabeça quando escrevia um texto. Será?

Curiosidade #2: Clube da Luta 2

Fato que desconhecia e que tive contato através do site oficial do autor de Clube da Luta: ele deu continuidade à sua obra-prima através de uma sequência de 10 capítulos, no formato HQ, que podem ser adquiridos através do site: chuckpalahniuk.net

Um alívio para os fãs de um grande ícone literário masculino!


Rodrigo Moreno