O ideal cantado por Lobão de viver 10 anos a mil do que mil anos a 10 já era. A atitude de artistas que costumavam beber vodka no café da manhã, tomar doses de ácido lisérgico como se fossem balinhas de Tic Tac, entrar com carros dentro de piscinas, incendiar guitarras no palco e jogar aparelhos de TV pelas janelas de hotéis cinco estrelas deu lugar a roupas justas com uma duvidosa combinação de cores, cabelos estrategicamente espetados e desalinhados, e ao meigo gesto do coraçãozinho com as mãos.
A rebeldia, irreverência e contestação próprias do autêntico espírito do rock mudaram para uma atitude pacata, responsável e com carência crônica de criatividade. A geração que viveu na pele a santíssima trindade “sexo, drogas e rock n’ roll, hoje vê seus filhos entoarem o mantra “punheta, Smirnoff Ice e Restart”.
Os ídolos também são outros: Restart dita as tendências de comportamento para milhares de jovens e, mesmo fora do cenário musical, personagens como Harry Potter e o vampiro sensível da saga Crepúsculo fazem o mesmo. O fenômeno do “bom mocismo” de hoje está presente até em algumas celebridades musicais da velha guarda, como Bono Vox, do U2. Além de emprestar a sua imagem para causas sociais, o vocalista da banda irlandesa é casado (e se mantém fiel) há mais de 30 anos com a mesma mulher, algo que um cara como Gene Simmons, vocalista do Kiss, que já declarou ter transado com mais de 4 mil mulheres, provavelmente acharia um absurdo.
Na década de 80, Cazuza já reclamava que seus heróis morreram de overdose. E de fato, ícones geniais como o guitarrista Jimi Hendrix, Jim Morrison (vocalista do The Doors), a cantora Janis Joplin, Keith Moon (baterista do The Who), Bon Scott (vocalista do AC/DC) e John Bonham (baterista do Led Zeppelin), para citar apenas alguns, deixaram este planeta de forma trágica, mas que também os imortalizou no Valhalla da música mundial.
Em terras brasileiras, Raul Seixas foi outro artista que detonou o corpo até morte, assim como os excessos do próprio Cazuza lhe garantiram um final idêntico.
Depois deles, o movimento grunge dos anos 90 também criou seus mártires, com as mortes de gênios perturbados como Kurt Cobain (Nirvana) e Layne Staley (Alice in Chains).
No caso do rock, a massificação imposta por bandas pré-fabricadas por produtores musicais que ocupam quase todo o espaço na mídia pode ser um dos motivos. Para o músico, jornalista e crítico musical Kid Vinil, “o herói do Brasil”, ex-vocalista da banda Magazine, nos anos 80 a mídia abraçou espontaneamente a causa do rock nacional e havia menos concorrência com outros gêneros, como pagode e sertanejo, que ele carinhosamente chama de praga.
“Existe um jogo de interesses muito grande na indústria da música no Brasil e o rock é considerado um subgênero. Os jovens muitas vezes não se ligam no que está rolando de novo nos EUA e na Europa, porque as rádios simplesmente não tocam”, O músico, que atualmente faz shows com a banda Kid Vinil Xperience, emenda dizendo que “o espírito do rock sobrevive mesmo é no circuito alternativo, com bandas como Velhas Virgens, Matanza e Dead Fish”.
No entanto, para a alegria de muitos e a perplexidade de todos, nem só de cadáveres célebres vive o rock n’ roll. Alguns artistas que já chegaram a colocar os dois pés na cova e fizeram de tudo para ficar no imaginário dos fãs como jovens ídolos eternos falharam na missão e continuam vivos até hoje! Veja alguns casos interessantes de sobrevivência que desafiam a ciência.
Keith Richards, 67
“Não tenho problema com drogas. Tenho problemas é com a polícia”
Highlander master no quesito sobrevivência, um dos músicos que melhor personifica a imagem do guitar hero em todos os tempos, o guitarrista dos Rolling Stones continua respirando (e tocando) mesmo depois de décadas de consumo desenfreado de álcool e de todos os tipos de drogas já inventadas na humanidade.
ele assina a coluna “Pergunte ao Dr. Ozzy”, publicada num jornal britânico, na qual ele dá dicas de saúde aos leitores. O material já foi compilado em livro e acaba de ser publicado no Brasil sob o título “Confie em mim, eu sou o Dr. Ozzy”, pela Editora Benvirá.