Quando temos um gato ou cachorro macho, a recomendação veterinária costumeira é que se castre o animal, ou então coloque o garanhão para cruzar com uma fêmea qualquer esporadicamente. Caso contrário, em pouco tempo o cão passará a “bombar” em tudo o que lhe remeter uma cadela, e os felinos ficam insanos, mijando por tudo e destruindo estofados. Há uma determinação interior tão intensa que lhe deixa claro que ele vai foder e ponto final, seja uma cadelinha ou qualquer coisa no lugar.
A disposição contínua dos homens para o sexo numeroso e pouco seletivo por vezes coloca o gênero masculino numa condição de aparente inferioridade canina perante uma mulher de valores firmes, por exemplo. “Como vou dizer a ela que preciso trepar com muitas outras e isso não muda nada neste relacionamento?”, pergunta-se o pobre homem perdido em seu próprio papel. Os poucos que arriscam ser honestos sobre esta condição intrínseca, ao invés de agir pelas costas, quase nunca são levados a sério.
Mas o que impediria o macho, em completa abstinência sexual, de enlouquecer como outros mamíferos próximos a ele? Embora não seja exclusividade masculina, o homem que não transa passa a agir contra sua própria natureza não apenas na cama ou metaforicamente, mas de fato em atitudes danosas ao seu equilíbrio emocional e físico. Os antigos latinos pareciam aceitar muito melhor que os contemporâneos este fenômeno dividido pelo coletivo, levando em conta a máxima sperma retenta venenum est (em portguês literal, “esperma retido é veneno”).
Amigos privados de uma boa noitada sacana já me reportaram fortes dores de cabeça, insônia e até paranoia recorrentes durante o período de cárcere genital. Não pretendo aqui justificar ou aprovar as mentiras que os homens contam às mulheres para manter situações insustentáveis -- esta postura, porém, demonstra apenas o desespero comum a qualquer entrega inconsequente e jovial. Como as mulheres sofrem de maneira inquestionável e soberana ao bel prazer de seus ciclos menstruais, o que elas poderiam sequer suspeitar sobre o carma que os homens carregam em suas bolas? As motivações que estimulam a parceira a trair são maquinadas e dissimuláveis em caso de perigo -- existe um objetivo. Já os caras são pegos numa zona de conforto onde se entregam ao momento sem plano algum de defesa, e não raro se denunciam involuntariamente.
“A mulher é o verdadeiro sexo forte”, dizem os entusiastas de uma nova geração. O palpite precipitado, entretanto, ofusca a sublime inteligência emocional feminina, a qual a força está à serviço e é capaz de perdoar o homem por conta de sua astúcia limitada. Sensatos são aqueles que não se colocam como vítimas por desconhecerem a origem de seus impulsos, mas qual mulher está disposta a abandonar as sedutoras promessas ilusórias de felicidade e conforto para encarar o homem como ele é?
*Danilo Barba é jornalista e repórter do AreaH. Músico, programador e insone, passa boa parte do tempo duvidando, escrevendo e aprendendo com a experiência dos outros. Fã assumido de Cioran e Gaspar Noe, ainda não pensou em parar de fumar. No Twitter, @dambarba
