Enquanto muitos desistiram de seus sonhos ao se depararem com o primeiro obstáculo, eles seguiram em frente. Para superar seus limites físicos e mentais, deixaram o máximo de si a cada treinamento árduo que se propunham a realizar. Seus objetivos eram nítidos desde criança: ser o melhor. E foi assim, motivados pelo amor à modalidade e pela vontade de vencer que surgiram as lendas do esporte.
Após anos de carreiras vitoriosas, eis que o desejo de se aposentar começa a pairar sobre a cabeça desses atletas. Mas, depois de tantos anos se dedicando ao esporte, a aposentadoria nunca é uma fácil decisão. Não à toa, mesmo após se aposentarem, a mesma vontade e amor pelo esporte que o fizeram imbatíveis, os fazem voltar à tona. Relembre cinco lendas do esporte que voltaram à ativa após se aposentarem.
Pelé
A primeira aposentadoria do Rei do Futebol se deu no dia 2 de outubro de 1974. Mesmo com dores, Pelé entrou em campo na Vila Belmiro para enfrentar a Ponte Preta e se despedir da torcida santista, que durante 18 anos acompanhou sua carreira.
Após quase fazer um gol de cabeça, o camisa 10 sentiu, aos 22 minutos, que não daria para continuar mais. Então, como se fosse o dono da partida, Pelé pegou a bola com as mãos e se dirigiu ao centro do gramado. Ajoelhou-se e levantou os braços. Após os jogadores perceberem que tal gesto simbolizava o adeus do Rei aos gramados, todos eles – inclusive aqueles que vestiam uniforme pontepretano – foram cumprimentá-lo. Sem ninguém se importar mais com a partida que ainda estava 0 a 0, Pelé tirou a camisa e, acompanhado de muitos jornalistas e curiosos, correu pelo gramado até sair de campo, chorando.
Mas, ao contrário do que se pensava, este não foi o último jogo de Pelé, nem o último jogo dele com a camisa do Santos. Foi só no dia 1º de outubro de 1977 que o Rei do Futebol abandonou de vez os gramados. O jogo de despedida foi disputado entre as duas únicas equipes em que Pelé atuou oficialmente: Santos e New York Cosmos, onde jogou por dois anos após sair do time da Vila Belmiro.
Após Pelé jogar um tempo em cada time e anotar um gol pelo New York Cosmos, a equipe nova-iorquina venceu o Santos por 2 a 1. Depois da partida, o camisa 10 entoou as palavras “Love! Love!” que foram repetidas pelas milhares de pessoas presentes no estádio e, posteriormente, eternizada em uma música de Caetano Veloso.
Michael Jordan
Considerado por muitos o melhor jogador de basquete da história, Michael Jordan se despediu das quadras por três vezes.
A primeira foi em outubro 1993. Tricampeão da NBA aos 30 anos, Jordan pegou o mundo de surpresa ao anunciar que abandonaria as quadras por motivos pessoais. Segundo o camisa 23 do Chicago Bulls, não havia mais graça em jogar bola sem o apoio de seu pai, assassinado meses antes do anúncio.
Depois do ídolo do basquete largar as quadras no ápice de sua carreira, o mais inusitado ainda estava por vir. Em meados de 1994, Jordan resolveu realizar o sonho de seu pai e começou a jogar beisebol profissionalmente. Entretanto, após atuações sem brilho pelo Chicago White Sox, em março de 1995, ele decidiu que o melhor era voltar ao Bulls, que naquele momento brigava para se classificar para os playoffs da NBA. Após um ano e meio longe das quadras, Michael Jordan não só conseguiu uma média de pouco mais de 30 pontos por jogo como também levou o Chicago Bulls às semifinais da Conferência Leste.
Após a temporada que marcaria seu retorno ao basquete, Jordan, determinado a voltar ao topo, readquiriu sua brilhante forma e conquistou mais três consecutivos títulos da NBA pelo Bulls. Já com status de “lenda”, Michael Jordan se rendeu à “exaustão mental e física” e, pela segunda vez, anunciou aposentadoria como jogador de basquete em janeiro de 1999.
Porém, no ano seguinte, Jordan voltou a integrar um time da NBA, mas dessa vez “somente” como presidente de operações de basquete e co-proprietário do Washington Wizards. Apesar de ter afirmado que tinha 99,9% de certeza de que não jogaria por outro time além do Bulls, Jordan não aguentou ficar de fora do jogo e, em 2001, vestiu a camisa do Wizards para jogar. Depois de duas temporadas bem abaixo daquele Michael Jordan que brilhava nos anos 90, sua última aparição como jogador profissional de basquete foi em 16 de abril de 2003, quando, em uma partida contra o 76ers, marcou 13 pontos e foi ovacionado por uma multidão de mais de 20 mil fãs.
Michael Shumacher
Quando se pergunta “quem foi o melhor piloto de Fórmula 1 (F1) de todos os tempos?”, a resposta “Ayrton Senna” é quase unânime, principalmente entre nós brasileiros. Entretanto, estatisticamente, nenhum piloto supera Michael Schumacher, o único a conquistar sete títulos mundiais.
Dono de uma carreira das mais invejáveis do automobilismo, Schumacher fez belíssimas atuações em praticamente todas as temporadas que participou da F1. Não foi diferente em 2006, ano em que abandonou o esporte depois de 15 anos acelerando nas mais difíceis provas do mundo. Apesar de ter ficado em segundo lugar no ranking geral de pilotos, Michael Schumacher fez ótimas corridas e conquistou 7 vitórias em 2006. Nesse ano, alguns especialistas até chegaram a afirmar que, apesar do título de Fernando Alonso, o piloto alemão foi bastante superior ao longo da temporada.
Aposentado, em 2009, Michael Schumacher chegou a ser cogitado para voltar à Ferrari após o grave acidente que tirou Felipe Massa do resto da temporada. Porém, apesar da vontade de correr, as dores resultantes de um acidente de moto impossibilitaram o retorno do alemão à F1.
Mas nem tudo estava acabado. No mesmo ano, a nova Mercedes, que acabara de comprar a escuderia Brawn GP, anunciou Michael Schumacher e Nico Rosberg para a temporada de 2010. Apesar dos três anos que alemão correu pela Mercedes ter passado bem longe do brilhantismo de seus tempos áureos, o alemão ainda demonstrou sua genialidade por mais uma vez. No GP da Europa de 2012, Schumacher fez uma histórica corrida de recuperação ao largar em 14º lugar e alcançar a terceira colocação, conquistando seu único pódio pela Mercedes.
Já aposentado, no dia 29 de dezembro de 2013, Michael Schumacher sofreu um acidente que mudou sua vida de forma drástica. Enquanto esquiava com seus filhos nos Alpes Franceses, o ex-piloto bateu a cabeça e sofreu traumatismo craniano. Após passar nove meses internado, ele recebeu alta e passou a ser tratado em sua casa, na Suíça, onde possui médicos à disposição 24 horas por dia. Segundo o jornal britânico The Mirror, a família de Schumacher já gastou mais de 10 milhões de libras (50 milhões de reais) com seu tratamento. A saúde do alemão ainda é um mistério para a maioria das pessoas, já que os parentes mais próximos a ele mantem forte sigilo sobre sua recuperação.
Royce Gracie
Apesar de não ostentar um cartel à la Rocky Marciano, Royce Gracie escreveu a ouro as primeiras linhas da história do UFC. Isso porque quando a maior instituição de MMA (artes marciais mistas) da atualidade estava apenas começando, ele derrotou lutadores de diversas modalidades e pesos utilizando uma técnica de luta desenvolvida por sua família, o Gracie Jiu-Jitsu.
Ao evidenciar para o mundo a eficácia do Gracie Jiu-Jitsu (que a partir daí começaria a ser chamado de “brazilian jiu-jitsu”) e tornar o domínio dessa luta um requisito mínimo para entrar em um ringue de MMA, Royce Gracie ganhou grande relevância e reconhecimento no cenário das artes marciais.
Distante dos ringues desde 2007, quando venceu o lutador japonês Kazushi Sakuraba pelo evento K-1 Dynamite!! USA, poucas pessoas ainda tinham a esperança de ver Royce Gracie voltar a lutar em um grande evento de MMA. Eis que, após quase 10 anos, o histórico lutador da família Gracie voltou aos ringues. Em fevereiro deste ano, o lutador brasileiro, que já possui 49 anos, mostrou que não esqueceu como luta e venceu Ken Shamrock – seu antigo rival, agora com 52 anos – pelo Bellator 149. Como em seus antigos combates, Royce demonstrou alta qualidade técnica durante a luta.
Michael Phelps
Maior medalhista olímpico da história – com 22 medalhas de ouro – e dono de uma série de recordes olímpicos e mundiais, Michael Phelps largou a natação profissional em 2012, depois das Olimpíadas de Londres.
Após anunciar em 2008 que se aposentaria depois da próxima Olimpíada, Phelps diminuiu o ritmo de treino e consequentemente, em 2012 não igualou a incrível campanha que fez nos jogos de Pequim. Mesmo assim, o nadador conquistou quatro ouros em Londres.
Longe das piscinas, Phelps não se sentia o mesmo e chegou a revelar à Reuters que teve problemas para dormir depois de abandonar a vida de atleta. Desde então a vida do nadador americano só piorou. Atravessou polêmicas, alcoolismo e depressão. Chegou a ser condenado a cumprir pena em liberdade condicional por dirigir bêbado.
Ao perceber que estava indo em direção ao fundo do poço, Michael Phelps procurou uma clínica de reabilitação. Internado no Arizona, ele voltou a acordar cedo para nadar em uma pequena piscina do centro de recuperação. Em pouco tempo, o fenômeno da natação reencontrou a felicidade e passou a treinar exaustivamente.
Logo, os resultados apareceram. Impedido pela Federação Americana de Natação de participar do Mundial de Natação que acontecia em Kazan, no ano passado, Phelps procurou retomar o ritmo de competição no Campeonato Nacional dos Estados Unidos. Lá, o nadador impressionou todos os presentes ao fazer marcas incríveis que dariam a ele o título mundial se estivesse competindo em Kazan.
Motivadíssimo em 2016 e com percentual de gordura menor do que em 2012, Michael Phelps se prepara para vir com tudo para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em busca de aumentar sua coleção de medalhas. Mas avisa: “se eu não ganhar nenhuma medalha (no Rio) e tiver feito tudo que podia para me preparar, vou ficar feliz porque terei feito tudo que podia”. Aguardaremos para ver o mito em ação novamente.
Sobre Guilherme de Souza Guilherme
Prefere perguntas a respostas e está num relacionamento sério com o jornalismo. Fã de música e livros, é zagueiro adepto do bom futebol, palmeirense-roxo e ex-taekwondista.
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