R$ 408.600,00 ou 1,9% de 21.377.300,00. Às 12h25 do dia 6, essa era a quantia arrecadada pelo MOP (My Own Player ou Meu Próprio Jogador), site que tenta viabilizar a contratação do meio-campo Wesley para o Palmeiras. Se não vive em Marte, você deve ter lido, visto, escutado e clicado muito sobre isso nas últimas semanas. Mas, afinal, o que é o MOP? E, antes de qualquer coisa, o que é crowdfunding?
O AreaH vai esclarecer algumas dúvidas com relação ao novo modelo de negociação, inédito no futebol brasileiro e mundial. Antes, tá na hora de explicar o que é esse tal de crowdfunding. Na tradução livre para o português, significa “financiamento pela multidão”. Leia-se “vaquinha” ou “passar o chapéu”!
Segundo a Wikipédia que, aliás, é um site mantido por doações de pessoas, a primeira iniciativa de crowdfunding surgiu em 1997. Fãs americanos do grupo britânico de rock Marillion arrecadaram, via internet, mais de US$ 60 mil para realizar a turnê da banda pelos EUA. A iniciativa partiu dos próprios fãs, sem o conhecimento do grupo. Depois, o próprio Marillion utilizou-se da estratégia para gravar e promover vários álbuns, como Anoraknophobia, Marbles e Happiness Is the Road.
No cinema, os pioneiros foram os franceses Benjamin Pommeraud e Guillaume Colboc, da companhia Guyom Corp.. Em agosto de 2004, eles lançaram uma campanha pela internet para financiar o filme Demain la Veille (Esperando por Ontem). Em três semanas, arrecadaram quase US$ 50 mil e conseguiram rodar o longa.
Outra referência importante do crowdfunding no mundo é o site americano Kickstarter. Mais de 400 mil pessoas conseguiram recursos para realizar ideias das mais variadas, como filmes independentes, álbuns de música ou livros infantis. No Brasil, a ideia começou a aparecer com mais força nos últimos dois anos. O Catarse, que começou em janeiro de 2011, se autoproclama como “a primeira plataforma de financiamento colaborativo de projetos criativos do Brasil”. O site é voltado para as áreas de arte, música, design, cinema e projetos comunitários.
Tá, entendi um pouco como funciona esse tal de crowdfunding, mas o que eu ganho se der uma grana para uma ideia?, pergunta o esperto e atento leitor do AreaH. Há inúmeras contrapartidas oferecidas. No caso do filme dos franceses, citado acima como pioneiro do crowdfunding no cinema, os diretores colocaram os nomes dos doadores nos créditos, deram cópias da obra em DVD e até permitiram que alguns presenciassem as filmagens no set.
E no futebol, como isso vai funcionar? André Barros, um dos sócios do MOP, explicou a ideia e o funcionamento do site e esclareceu algumas dúvidas da inovadora e inédita estratégia dentro do mundo da bola. Barros está envolvido com negócios do futebol há quase 10 anos. Em 2009, criou a C2B Sports, que tem atuação na área de transferência de jogadores, além de também gerenciar a carreira de novos valores do futebol. Ele ainda é um dos donos da empresa.
Pelo contato diário com o universo do esporte, que envolve clubes, jogadores, empresários, entre outros atores, Barros percebeu a dificuldade dos times em viabilizar a contratação de craques. Como se sabe, a má gestão e corrupção que ainda prevalecem no futebol brasileiro dificultam o desenvolvimento do esporte no País. Mas, isso é papo para outra reportagem.
“Vi como os clubes se endividavam com bancos, se comprometiam com empresários e grupos de investimento para fazer contratações. Até hoje é assim. A gente começou a desenvolver uma ideia que pudesse suprir essa necessidade. Ao longo de dois anos e meio, trabalhamos até chegar ao modelo do MOP”, conta Barros.
A ideia é simples. Primeiro, um jogador é escolhido pelo clube para ser contratado. O site do MOP disponibiliza ferramentas de enquetes para que os torcedores possam opinar sobre qual craque querem ter no time. Com o nome escolhido, o MOP faz a ponte entre o clube interessado e quem detém os direitos econômicos do jogador em questão.
As bases são acertadas, um valor é estipulado e as doações começam. No caso de Wesley, o montante total é de R$ 21.377.300,00, já incluídos os 10% de comissão do MOP, taxas de transferência, impostos, quantia a ser destinada ao clube formador do jogador (nesse caso, o Santos), entre outros valores.
Os palmeirenses têm até o dia 25 de março para realizar doações. Os valores são estabelecidos por cotas de R$ 100. O torcedor se cadastra e pode doar quantas cotas quiser. A quantia fica bloqueada do cartão de crédito, mas não é debitada da conta do doador.
A grana sai somente se a negociação é concretizada, ou seja, se toda a quantia for arrecadada. Se, no dia 25 de março, o valor de mais de R$ 21 milhões não for atingido, o negócio não sai. A grana é desbloqueada da conta do doador e o MOP não ganha nada.
Mas, e o Wesley, volta para o Werder Bremen, clube detentor dos direitos econômicos? O Palmeiras já disse que tem uma carta fiança de um banco que garante a transferência do jogador. No entanto, apostou na ideia inovadora e resolveu ver o que vai dar.
“Esta é uma inovação no mundo do futebol e estamos animados por sermos o primeiro time a fazer uso da plataforma. Confiamos muito no projeto, contamos com o apoio da torcida e temos certeza de que Wesley trará muitas alegrias para os palmeirenses”, disse Arnaldo Tirone, presidente do clube alviverde.
“Os direitos econômicos ficam 100% com o clube. É o grande barato. O clube tem a possibilidade de ter um jogador de 24 anos para, de repente, vender depois da Copa, porque ele tem boas chances de ir para a seleção. O clube pode revender o atleta e ficar com 100% da receita”, lembra André Barros.
Ele acredita que o negócio vai sair e também é otimista em relação ao sucesso do modelo no Brasil, apesar de opiniões negativas e piadas que envolvem a iniciativa. “É uma ideia nova. O torcedor ainda não sabe como funciona, porque foi pouco divulgado. Aos poucos, vamos passar credibilidade e segurança para o torcedor”.
“A gente está oferecendo ao torcedor uma experiência que o dinheiro não pode comprar em troca de uma colaboração ao clube, de trazer dinheiro novo, de emancipar o clube da necessidade quase eterna de terceiros para fazer contratações, para se reforçar, para poder arcar com seus compromissos. A gente acredita que o negócio deslancha”, completa Barros.
As contrapartidas para o torcedor que doar grana vão desde ter o nome na camisa de Wesley no jogo de estreia até poder viajar com a delegação e almoçar com jogadores e comissão técnica na concentração. O benefício depende do valor doado pelo torcedor. Mas, o fanático só ganha se o negócio for fechado.
O sócio do MOP revela que as campanhas vão começar nesta semana e aumentar a visibilidade da ideia. “Estamos guardando como surpresa o plano de mídia, mas tem coisa boa. Tem vídeos bacanas com o próprio Wesley e outros nomes importantes do Palmeiras. Vamos soltar aos poucos e trabalhar, principalmente, com mídia social e com sites importantes. Vamos focar esse público que tá conectado”, conta.
Negociações com empresas também estão em andamento. “A gente abriu as cotas de empresas no meio da semana passada. São pacotes de doações, com alguns benefícios de exposição de imagem. E agora a gente está em conversa com algumas empresas, para entrarem no projeto também”, revela Barros.
Sobre outros clubes entrarem no modelo de negócio, o sócio do MOP disse que já existem algumas conversas encaminhadas. Ele conta que, em geral, os dirigentes têm recebido a ideia com entusiasmo.
Então, atenção torcedor brasileiro, fique de olho, porque você pode ajudar a contratar um craque para o seu time! Os palmeirenses já estão colocando a grana no porquinho, ou melhor, ajudando o Porco!