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Inimigos íntimos

A relação de amor e ódio entre Andrés Sanchez e Juvenal Juvêncio

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"Mantenha seus amigos perto, mas seus inimigos mais perto ainda." A frase ganhou destaque na boca de Vito Corleone, o godfather vivido por Marlon Brando em O Poderoso Chefão. Do cinema para a realidade, parece definir com precisão a relação entre dois famosos dirigentes do futebol atual: Andrés Sanchez e Juvenal Juvêncio.

Nos últimos anos, o mundo da bola acompanhou a briga pública entre os dois. Nunca a disputa entre Corinthians e São Paulo foi tão quente fora das quatro linhas quanto nos dias de hoje. Sanchez já deixou o cargo de presidente do Timão, fazendo seu sucessor, Mário Gobbi. Hoje, é diretor de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Juvenal Juvêncio segue no comando do São Paulo até 2014 – aliás, por causa de uma mudança no estatuto do clube. Com os dois à frente dos rivais, uma relação de amor e ódio.

Em essência, eles são, aparentemente, opostos. Nascido em Limeira, no interior de São Paulo, Sanchez tem 48 anos, é um cara simples, que gosta de sair para ouvir pagode e beber sua cervejinha. Já Juvêncio nasceu em Santa Rosa do Viterbo, também no interior paulista, tem 80 anos recém-completos, é um senhor sofisticado, que gosta de viajar para a fazenda para apreciar cavalos e beber whisky.

No entanto, as aparências enganam. Apesar das diferenças, Andrés Sanchez e Juvenal Juvêncio mantém mútua admiração. Em entrevista à revista Brasileiros, em dezembro de 2011, quando deixava o comando do Corinthians com o título nacional, Sanchez lembrou que o modelo são-paulino serviu de exemplo para reerguer o time de Parque São Jorge. Ele assumiu o clube em outubro de 2007, pouco antes do rebaixamento à série B. Deixou o cargo depois de três títulos (Paulista, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro - além do título da Série B, em 2008), um moderno CT construído e um estádio em construção.

Juvêncio respeita o jeito brigador e, ao mesmo tempo, brincalhão do corintiano. O mandatário tricolor já “ajudou” o adversário, justamente no momento de rompimento entre os dois. No início de 2009, contrariando histórico de cordialidade entre os grandes clubes de São Paulo, Juvêncio decidiu dar a cota mínima de 10% dos ingressos para o Corinthians, em partida no Morumbi. Sanchez tentou contornar a situação e ligou várias vezes para o presidente tricolor, sem sucesso. Por meio de notas oficiais, os dois trocaram acusações, mas Juvêncio pediu cautela para não prejudicar Sanchez nas eleições do Corinthians, que aconteceriam uma semana depois.

Essa e outras histórias envolvendo os dois personagens estão em matéria publicada pelo diário LANCE!, em novembro de 2010, assinada pelo repórter Alexandre Lozetti (leia aqui). Lozetti diz que a relação entre os dois não é tão cordial quanto era no passado, quando os dois até trocavam beijos no rosto ao se encontrarem, cena típica de filme de máfia italiana.

“Houve uma época em que ambos estavam por cima e, por trás das rivalidades, havia um bom relacionamento, a ponto de Juvenal determinar que não prejudicassem Andrés na eleição corintiana. Só que o Andrés queria ver o São Paulo afundar e o Juvenal não admitiu ficar para trás, dentro e fora de campo. Quando a rusga chegou à disputa pelo estádio na Copa e a termos que ridicularizavam pessoalmente um ao outro, a brincadeira se tornou mais séria. Não é mais apenas um jogo de cena”, afirma o repórter.

Realmente, a disputa pelo estádio para a Copa do Mundo de 2014 acirrou os ânimos entre Sanchez e Juvêncio. Foi o ápice da briga de egos dos cartolas. O presidente são-paulino dava como favas contadas o Morumbi como palco dos jogos em São Paulo. No entanto, com as exigências cada vez mais rígidas da FIFA, o estádio do São Paulo acabou no escanteio. Sanchez aproximou-se do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e conseguiu colocar o futuro estádio do Corinthians, ainda sem nome, no mundial de 2014.

Rodrigo Vessoni, também repórter do LANCE! e que conhece bem os bastidores do Corinthians, diz que o bicho em caso de vitória contra o São Paulo engordou muito depois que Sanchez assumiu a presidência. Coincidência ou não, o Timão quebrou tabu de quatro anos contra o Tricolor logo no primeiro jogo com ele no cargo: 1 a 0, em outubro de 2007, com gol do zagueiro Betão.

No retrospecto dentro de campo, o dirigente corintiano tem ampla vantagem sobre o são-paulino: em 13 confrontos, são oito vitórias do Corinthians contra apenas uma do São Paulo (no centésimo gol de Rogério Ceni, em março de 2011), além de quatro empates. O último jogo, nova vitória do time de Parque São Jorge, 1 a 0, com gol de Danilo, no Pacaembu, pelo Paulistão de 2012, já tinha Mário Gobbi na presidência.

Vessoni concorda com o colega Lozetti e diz que a briga entre os dois virou baixaria nos últimos tempos. “Eles pegaram pesado nas declarações e, hoje, é impossível dizer que a relação não está abalada”, afirma, referindo-se aos últimos "pegas" entre os dois, sempre via imprensa.

No último, em fevereiro deste ano, Juvêncio chamou Sanchez de “analfabeto”, depois que o corintiano tentou não atender ao pedido do São Paulo para que Lucas, convocado por Mano Menezes para o amistoso contra a Bósnia e Herzegovina, se apresentasse depois do clássico contra o Palmeiras.

Sanchez brigou publicamente com o técnico do São Paulo, Emerson Leão, e chegou a dizer que o time do Morumbi estava “queimando cartuchos” com a seleção e a CBF. "Como ele é analfabeto, não entendi o que falou sobre cartuchos", respondeu Juvêncio, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. A peitada no São Paulo foi o primeiro ato de Sanchez à frente da direção de seleções da CBF.

Impossível dizer quando a briga entre os cartolas vai acabar. Aguardem cenas dos próximos rounds!

Alguns rounds de Andrés Sanchez X Juvenal Juvêncio

“O problema do Andrés é o mobral inconcluso. Quando ele concluir isso, vai dar uma melhorada. Infelizmente, o mandato está acabando e não vai dar tempo de ele arrumar agora. Ele precisa estudar um pouco mais. Eu jamais votaria nele para presidente da CBF. Nem para presidente da Fiel (risos)” - JJ

"Tenho muito orgulho das pessoas que concluíram o mobral. Eu não fiz o mobral, fiz só até o ginásio e me arrependo disso. Não é vergonha quem se formou no mobral. Isso é um preconceito terrível, é péssimo, é pejorativo. 85% dos brasileiros me entendem" – AS
 
“Ele agora só sabe de show de rock. Esse tipo de contratação o Juvenal ainda sabe fazer…” – AS, referindo-se ao grande número de shows que o Morumbi passou a receber depois que o Corinthians parou de jogar no estádio, justamente em retaliação à cota mínima de 10% para o visitante em clássicos, o estopim da briga entre os dois cartolas.

“Não esperava, claro, até porque nem sabia que existia este cargo. É de uma sutileza de dromedário (animal da família do camelo) fazer neste momento. Enfim, estamos no Brasil, né?” – JJ, sobre a nomeação de Sanchez como diretor de seleções da CBF, no final de 2011.

"Eu sabia que o Juvenal era prepotente, metido, mas não sabia que ele era ‘cagueta’ (dedo duro)” - AS, garantindo que foi Juvêncio que deixou vazar a gravação do vídeo em que o corintiano chama a TV Globo de “gângster”, em reunião do Clube dos 13.