Sabe aquelas cenas de filme em que personagens aparecem num estande de tiros descarregando balas e frustrações? Pois então esqueça delas agora, pois o Tiro Prático é um esporte que exige muito mais do que topete alto, peito empinado e disposição para meter bala em qualquer canto - arma nem sempre é sinônimo de violência.
Bem antes da polêmica, o tiro esportivo chegou ao Brasil em meados do século de XIX, junto com os primeiros imigrantes europeus e seus costumes. Não é à toa que muitas cidades interioranas brasileiras que abrigaram italianos e alemães ainda possuem clubes de caça e tiro.
Em 1976, nos EUA, foi fundada a IPSC (International Practical Shooting Confederation, ou Confederação Internacional de Tiro Prático) por representantes de nove países praticantes. Hoje em dia ele é praticado em 87 países – todos desenvolvidos, sem exceção.
Para entender mais sobre este esporte dinâmico e emocionante, conversamos com o atirador e Presidente do Clube Águia de Haia, Jaime Roberto Saldanha, também vice-presidente da Federação Paulista de Tiro e colecionador de ínumeros títulos em diversas categorias.
PONTOS x TEMPO
Nesse esporte, o atirador é posicionado numa pista montada onde o objetivo é acertar os alvos no menor tempo possível com a pontuação mais alta. O alvo aqui é apenas mais um obstáculo, já que os pontos são divididos pelo tempo, e o resultado final é que vale – não é só ser o mais rápido ou apenas acertar os alvos.
Dentro do Tiro Prático, ainda temos o Tiro Rápido de Precisão, a modalidade Saque Rápido, e o Tiro de Superprecisão – a distância varia entre 25-200 m, dependendo do calibre. O filho de Saldanha, Jaime Saldanha Jr, também desportista de tiro, é um dos mais ligeiros do mundo atualmente, sacando e disparando uma pistola em somente meio segundo.
MAIORIDADE
Os menores de 18 anos também podem praticar o Tiro Prático, desde que obtenham autorização judicial. Feito o pedido, o juíz faz uma entrevista com os pais, checando todo o relacionamento familiar. Para garantir a segurança, é necessário ainda um laudo psicológico, e inclusive a convivência do menor na escola é avaliada. Após todas as aprovações, crianças e adolescentes só podem atirar na presença dos pais.
COMPRA DE ARMAS
A compra é permitida a partir dos 25 anos. É preciso ter residência fixa, boa conduta moral, comprovar trabalho lícito, apresentar todas as certidões criminais e eleitorais, certidão de auditoria militar, laudo psicotécnico e (ufa!) de uma certificação de capacitação técnica emitida por um instrutor credenciado pela Polícia Federal ou o Exército.
Para começar, o aspirante do tiro primeiramente tem que estar filiado a algum clube, onde irá aprender o beabá do esporte . A partir daí, ele pode dar entrada num Certificado de Registro de Atirador junto ao Exército. Com ele, o atleta solicita uma autorização de compra da arma, a qual é analisada pelo Exercito numa série de avaliações, que envolvem até mesmo a vistoria da residência da pessoa, para saber se há condições para a guarda do equipamento.
De acordo com Saldanha, a venda de armas continua normal no país, e o atleta pode comprar a sua em qualquer loja – o comércio não é proíbido. "A lei ficou um pouco mais rigorosa, mas isso é bom", concorda Saldanha, sempre salientando que a segurança é colocada em primeiro lugar.
TRANSPORTE
Deve ser solicitado o Guia de Tráfego de arma, uma espécie de licença com validade para transporte da arma de acordo com à instituição a qual o atleta é afiliado – somente para treinamento ou competição. Na Europa, eles exigem até mesmo o convite de participação do campeonato para permitir o transporte de um ponto a outro.
REVÓLVER OU PISTOLA?
Cerca de 95% das armas utilizadas no Tiro Prático são pistolas, pois no Brasil alguns calibres são proibidos. Apenas pistolas até 380 e revólver até 38 são permitidos.
Revólver – É aquela peça que tem o tambor, o qual é aberto para inserir as balas. Comum em filmes de faroeste, é classificado como uma arma de repetição.
Pistola – Além de ser semiautomática, este tipo de arma traz um ferrolho que possibilita seu travamento.
BENEFÍCIOS
Ser atirador não é só ficar parado atirando em alvos como no videogame. Na verdade, para praticar o Tiro Prático, é necessário ter um bom condicionamento físico e equilíbrio – os percursos exigem explosão física de arrancada e parada bruscas, agachamentos e curvas acentuadas. A rapidez e precisão do esporte geram muita concentração, e tanto o esforço mental quanto físico são responsáveis por uma intensa liberação de endorfinas, promovendo um relaxamento profundo após sua prática.
ALVOS
Os alvos nunca podem ter ou aludir à figura humana. Como não se trata de um treinamento de defesa, mas sim um esporte, eles geralmente têm formatos de discos, círculos e retângulos. O objetivo aqui é testar a rapidez e precisão do atleta.
CUSTO
O curso de tiro básico tem 9 horas de duração e custa R$ 500. Ministrado pelo próprio presidente do clube, há muito treinamento "em seco" – que não exige o disparo real da arma – mas já se começa a atirar para pegar o recuo da arma e adquirir memória muscular. Cada disparo custa cerca de 60 centavos de real, e o próprio clube fornece o equipamento para começar a praticar, caso o atleta ainda não tenha certeza se irá investir no esporte.