Ele é a última esperança do time. Quando a bola sai da defesa, passa pelo meio de campo e chega ao ataque, só resta um obstáculo a ser vencido: o camisa 1, o dono das traves.
O goleiro deve estar sempre atento e bem posicionado. Reflexo, impulsão, habilidade com os pés e com as mãos também são características fundamentais deste jogador. Mas para desenvolver estas e outras habilidades é preciso muito treinamento e dedicação.
Carlos Pracidelli é treinador de goleiro do Palmeiras e já atuou como guarda metas em times como o Nacional de São Paulo, XV de Jaú, Juventus, Atlético Paranaense, Pinheiros e Santo André. Como treinador, já trabalhou no Chelsea e na Seleção Brasileira durante a campanha do penta em 2002, nas duas oportunidades ao lado do comandante Felipão. A principal dica que o ex goleiro cita para quem seguir seu exemplo é simples e direta: “É preciso ter vontade de ser goleiro!”, afirma Pracidelli.
Além de estar disposto a levar boladas, o aspirante a goleiro precisa ter estrutura para exercer sua função. “Quando ainda são meninos, os jogadores que desejam atuar no gol são recebidos para uma avaliação de biotipo. Um garoto baixinho não está banido do gol, mas é preferível escolher um cara alto e magro”, diz o profissional.
Por volta dos 12 / 13 anos, os meninos passam a conhecer os fundamentos do goleiro e a ter sua coordenação motora estimulada. O treinamento de um arqueiro se aproxima ao máximo das situações de uma partida real e consiste em aperfeiçoar:
• Força;
• Velocidade;
• Passadas laterais (saber em qual perna apoiar quando for saltar para a esquerda ou para a direita;
• Parte lateral do corpo (prepará-lo para usar bem o lado esquerdo e o direito);
• Explosão (estar preparado para reagir em um espaço curto de tempo e em uma área limitada;
• Movimentos rápidos (o principal treinamento faz com que o jogador salte uma corda elástica na frente do gol para melhorar o reflexo);
• Musculação (importante para preparar o corpo para reagir rapidamente e aguentar a demanda)
Os exercícios exigem fôlego e atenção do goleiro, imagine a situação: Seis bolas no chão, o jogador está posicionado de frente para as redes de seu gol. O treinador dá um sinal (um grito alto) e ao mesmo tempo chuta a bola para o gol. Neste intervalo de tempo, entre o grito e o chute, o jogador deve saltar em direção a bola e praticar a defesa. “Esta é uma dificuldade que não existe no jogo, mas que serve para deixá-lo mais preparado”, comenta Pracidelli.
Além da coordenação e da musculação, Pracidelli também é responsável pelo psicológico do jogador. “A cabeça do goleiro deve ser a mais confiante possível e eu busco conversar bastante com o atleta e mostrar tudo o que esse cara já passou para chegar até lá. A moral dele deve estar lá em cima, com o ego bem aflorado. É um jogador que recebe muita pressão e é importante que ele entre em campo se sentindo o melhor goleiro do mundo!”, completa o treinador.
Os 10 melhores goleiros da história
Pedimos para quem entende do assunto nos listar seus eleitos debaixo das traves. Celso Unzelte é jornalista e pesquisador histórico, ou seja, manja muitoooo de futebol. Atualmente está na ESPN Brasil, no programa Loucos por Futebol.
Confira quem são os imortais das traves brasileiras:
1) Gilmar dos Santos Neves
Imortalizou-se ao conquistar o bicampeonato mundial pelo Brasil em 1958 e 1962. Foi também o goleiro do Santos de Pelé, nos anos 60, e do Corinthians por 10 anos, entre 1951 e 1961. As poucas imagens que sobraram dele jogando mostram um goleiro elástico, arrojado e muito seguro.
2) Taffarel
Titular do Brasil na conquista do tetra, nos Estados Unidos, em 94, com participação ativa na decisão por pênaltis diante da Itália (defendeu um deles). Na Copa seguinte, na França, em 98, defendeu mais dois pênaltis, na semifinal contra a Holanda, porém o Brasil ficou só com o vice. Sua principal qualidade era a frieza e a boa colocação: parecia transformar em fáceis as defesas mais difíceis.
3) Leão
Não conseguiu ganhar nenhuma Copa do Mundo jogando (ainda muito jovem, era o terceiro goleiro na campanha do tri, no México, em 1970), mas foi responsável direto por levar o Brasil até a quarta colocação, em 1974, e à terceira, em 1978. Como não era muito alto, fazia da boa colocação e da obsessão em treinar e jogar as suas principais qualidades.
4) Marcos
No Palmeiras, virou santo – o “São Marcos”, canonizado principalmente por fazer defesas e pegar pênaltis decisivos que levaram o clube à conquista da Libertadores, em 1999. Na Seleção atuou pouco, mas o suficiente para ter participação ativa como o seguro titular na campanha do penta, em 2002.
5) Barbosa
Titular do Brasil na final da Copa de 50, perdida para o Uruguai em pleno Maracanã e injustamente marcado por isso. Mais do que a vítima do famoso gol do uruguaio Ghiggia, porém, Barbosa — sóbrio na maior parte do tempo, espetacular quando as circunstâncias do jogo exigiam — foi o maior goleiro de sua época, antes e depois daquele lance que marcou sua vida.
6) Castilho
No Fluminense era considerado um milagreiro, apelidado de “Leiteria”, além de um goleiro de muita sorte. Castilho, porém, era também um líder de sua equipe, que esteve presente como reserva em três Copas do Mundo (1950, 1958 e 1962) e como titular em uma (1954).
7) Félix
Titular contestado do Brasil tricampeão mundial em 1970, mas que teve participações decisivas naquela Copa, principalmente na difícil vitória por 1 a 0 sobre a Inglaterra, na primeira fase. Goleiro sóbrio porém eficiente.
8) Carlos
Reserva de Leão na Copa de 78, terceiro goleiro na de 82, titular do Brasil na de 86, Carlos entrou para a história como um goleiro azarado, principalmente por conta do pênalti cobrado pelo francês Beloume que bateu nas suas costas, entrou e eliminou o Brasil da Copa de 86. Injustiça: foi antes de tudo um goleiro frio, seguro e regularíssimo, espécie de precursor de Taffarel, tanto que acabou lembrado para jogar três Mundiais.
9) Manga
Na Seleção foi mal, na Copa de 66. Mas em clubes como o Botafogo de Garrincha, o Nacional do Uruguai e o Inter bicampeão brasileiro em 75/76, deixou seu nome na história, à base de defesas arrojadas praticadas até além dos 40 anos de idade.
10) Dida
Na seleção (reserva em 1998 e 2002, titular em 2006), nunca teve tanta sorte quanto nos clubes. Mas entrou para a história do Cruzeiro e do Corinthians principalmente como um especialista em defender pênaltis.