Especial Senna: 20 anos do tri Em 20 de outubro de 1991, Ayrton Senna garantia em Suzuka seu tricampeonato de Fórmula 1: o último dele e do Brasil na categoria. gplus
   

Especial Senna: 20 anos do tri

Em 20 de outubro de 1991, Ayrton Senna garantia em Suzuka seu tricampeonato de Fórmula 1: o último dele e do Brasil na categoria.

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Há exatos 20 anos, Ayrton Senna da Silva, a bordo de uma McLaren MP4/6 Honda, até hoje presente na memória dos mais apaixonados fãs de automobilismo, conquistava pela terceira vez o mundo. Seria aquele seu último título mundial, em um ano em que pela primeira vez desde seu primeiro triunfo, já pela McLaren em 1988, Senna via surgir um carro à altura de competir com seu talento, o qual chegaria depois a chamar de um "carro de outro planeta", a Williams FW14, que tanto desejou dirigir.

Mal sabíamos que este sonho tornaria-se num grande pesadelo, do qual muito de nós nunca conseguimos acordar, e que aquele tri de 1991 seria, até hoje, o último não apenas de Senna, mas também do Brasil na categoria. E se para você a Fórmula 1 hoje em dia não tem mais a menor graça, não se preocupe, você não é o único. Para os nostálgicos e eternos fãs dos tempos em que a categoria era mesmo uma corrida de carros, nada melhor que relembrar as boas memórias do homem de capacete verde, amarelo e azul, sinônimo de domingos mais felizes.

Suzuka, 20/10/1991: a corrida do tri
Apesar do domínio técnico durante todo o ano, alguns tropeços do time de Sir Frank Williams e a regularidade de Senna permitiram ao brasileiro chegar a Suzuka com boas condições para o título - diferentemente dos três últimos anos, em corridas muito tensas. As McLaren's apresentavam melhor rendimento nos treinos de sábado desde o GP da Hungria, com a nova versão do motor Honda e a entrada do câmbio semi-automático, ambos muito efetivos, principalmente nas mãos de Senna, que já havia feito sete poles ao longo do ano. Mas, justamente naquele final de semana decisivo, não seria o brasileiro quem largaria na primeira colocação, e sim seu companheiro Gerhard Berger.

Senna estava logo atrás, no segundo posto, a frente das duas Williams. Naquele momento, Senna com 85 pontos apenas dependia dos próprios resultados para o título, já Mansell com 69, precisava de uma combinação improvável para ter chances de alcançar o brasileiro em Adelaide, último GP da temporada.

Na largada, esperava-se que Berger entregasse a liderança a Senna, mas o jogo de equipe traçado por Ron Dennis era outro. O austríaco manteve a primeira posição e disparou, enquanto o brasileiro, que segurou o segundo posto, segurava Mansell, em terceiro. Com um carro mais equilibrado, Mansell pressionava no miolo do circuito, mas o potente motor Honda segurava a onda nas retas longas. Este resultado já dava o tri ao brasileiro, porém, afoito como de costume, Mansell tentou se aproximar de Senna no final da reta dos boxes, entrou no vácuo do brasileiro e, logo na nona volta da corrida, perdeu o controle do carro. Rodou, foi parar na brita e abandonou a prova, garantindo por antecipação, o tri.

Na 18ª volta, o brasileiro chegou a ultrapassar Berger, um de seus grandes companheiros e amigos na Fórmula 1, mas em homenagem e retribuição por dois anos de muita entrega por parte do austríaco (e por uma ordem de Ron Dennis, é bem verdade), Senna devolveu, na última reta, a liderança a Berger, que chegou então à sua sexta vitória da carreira, a primeira na McLaren. E, assim, a sina se manteve: pela quinta vez consecutiva, Suzuka definia um campeonato em que Senna entrava com chances de título: três deles a seu favor (88, 90 e 91) e dois contra (87 e 90).

Por que ele faz falta?
Não são apenas os números que definem a razão do fanatismo e a admiração que muitos brasileiros até hoje possuem por Ayrton Senna. Ele faz falta por colocar o Brasil no topo em uma época na qual tínhamos pouca coisa para nos orgulhar e nenhum herói ao qual nos espelharmos. Em Senna a admiração era verdadeira, pois como o povo brasileiro, ele lutava até o fim, mesmo quando seus carros eram mais lentos que o dos adversários. Era sempre na raça, no coração, "no braço". Ao redor do mundo, seus fãs o admiram por seu talento único com o volante nas mãos e o acelerador no pé, e por uma coleção de vitórias que fã nenhum esquece, como a sua primeira em Interlagos, a corrida do primeiro título mundial em Suzuka, ou ainda a quinta vitória em Mônaco, segurando Mansell e sua Williams na ponta dos dedos.

Mas, nada supera seu talento debaixo d’água. Não houve outro "Rei da Chuva" após Senna. Foi assim em seu primeiro cartão de visitas às grandes equipes da Fórmula 1 em 1984, correndo pela Toleman nas estreitas ruas do Principado de Mônaco – onde só não ganhou por uma intervenção devido justamente à intensa chuva que caía no GP (para dizer a verdade, uma atitude apenas política, já que o brasileiro iria estragar a festa à la francesa de Prost em poucas voltas). Exemplo esse que se junta a corridas memoráveis, como sua primeira vitória da carreira, um show em Estoril (1985), seu fantástico triunfo em Silverstone (1988) e claro, aquela que para muitos foi sua maior vitória: Donington Park (1993), colocando uma volta sobre todos os seus adversários (entre eles, Prost). Na chuva, Senna fazia com que o melhor dos carros parecesse só mais um e que, inevitavelmente, ficaria atrás do seu.

Brasil: 20 anos sem títulos
Com a morte prematura de Senna, no trágico final de semana do GP de Ímola de 1994, o Brasil perdeu sua principal referência dentro das pistas, algo que não acontecia desde o início da década de 70, com a aparição de Emerson Fittipaldi – que passaria o bastão na década de 80 a Piquet, até que ele chegasse a Senna para os anos 90. Rubens Barrichello, então com apenas 21 anos, vivia apenas sua segunda temporada na categoria e embora talentoso, ainda não estava pronto para segurar o rojão de substituir justamente o mais carismático dos ídolos nacionais - muito menos em uma modesta Jordan.

Desde então, muitos brasileiros passavam pela categoria, mas sem sucesso: Christian Fittipaldi, Pedro Paulo Diniz, Ricardo Rosset, Tarso Marques e tantos outros. Barrichello teve que amadurecer muito mais cedo que o esperado e neste meio tempo fez temporadas muito boas por Jordan e Stewart. Mas, sempre lhe perseguiu o fantasma de substituir Senna. E quando já havíamos perdido o entusiasmo com a Fórmula 1, eis que Rubinho garante uma vaga na Ferrari, algo inedito para um piloto brasileiro. Mas, como era de se esperar, seu desafio era grande demais: superar os privilégios e o talento de Schumacher.

Rubinho sempre era o mais lento entre os quatro carros que disputavam o título. Veio em 2000 a primeira vitória - brilhante - em Hockenheim, mas os resultados que o credenciariam a disputa de um título jamais vieram. Houve quem disse à época que era melhor vê-lo em quarto lugar sofrido e suado com uma Jordan, aos tantos terceiros lugares em um carro de ponta. Mas, se o título era algo muito distante, ao menos vencer no Brasil era um tabu possível de ser quebrado. Então, todos sabem, uma sucessão de tentativas frustradas em Interlagos, que não fazia ninguém sequer lembrar as épicas vitórias de Ayrton Senna, e o GP da Áustria de 2002, o famoso vexame de Ferrari e Schumacher, foram a gota d'água. Afinal, dar vitórias para os outros foi demais aos brasileiros, tão acostumados com Senna e Piquet.

Muitos desistiram novamente da F1. Rubinho saiu da Ferrari pela porta dos fundos e Felipe Massa, que não tinha nas costas a mesma pressão herdada por Rubinho, parecia embalar para tirar o país da fila. Sua grande chance veio há três anos, quando o preguiçoso Raikkönen era seu companheiro de equipe. Muitas lambanças da Ferrari e um novato inglês, Lewis Hamilton, tomariam por um só ponto a chance de Massa quebrar a seca (ainda mais, correndo no Brasil). Hoje, veio Alonso à Ferrari e, com isso, as chances de Massa são muito pequenas. Sem revelações ou promessas, o país se vê diante de um cenário que apenas aponta para a continuidade deste tabu por mais algum tempo...

Homenagem no dia do tri
O Instituto Ayrton Senna, que desde 1994 desenvolve ações em nome da promoção da educação básica, criou a campanha Senna Tri 20 Anos, que visa homenagear esta data tão especial para o piloto, realizando uma mobilização nas redes sociais. No hotsite www.sennatri.com.br, é possível publicar uma foto para uma bandeira virtual e que será confeccionada e usada por Bruno Senna no final de semana do GP Brasil 2011, que acontece no final de novembro. Além de Bruno, o inglês Lewis Hamilton também participa da campanha. Através da hashtag #SennaTri, é possível enviar perguntas para o campeão da temporada 2008 - as cinco escolhidas serão respondidas em um vídeo exclusivo.