O São Paulo Futebol Clube anda matando o seu torcedor do coração. O time, que fechou o ano passado com o vice-campeonato no Brasileirão, não engrenou ainda neste ano. Vive uma crise braba. Não venceu nenhum clássico no nada empolgante Campeonato Paulista, já foi surrado duas vezes pelo rival Corinthians, tomou gol perto do meio-de-campo do Palmeiras e, pelo pífio futebol apresentado por mansos jogadores como Pato e Ganso, corre grande risco de ser eliminado logo na primeira fase da Libertadores.
Coincidência ou não, o Tricolor Paulista parece não fazer mal apenas aos torcedores. Na portaria do estádio Morumbi deveria haver um letreiro do tipo “O Ministério da Saúde adverte: treinar esse time é prejudicial à saúde”. Nos últimos 20 anos, três foram os treinadores que viram a saúde ser minada enquanto treinavam o São Paulo. Muricy Ramalho, o mais recente a jogar a tolha por problemas médicos e entregar o cargo de treinador, costumava dizer, ao se referir à pressão que é dirigir o clube tricampeão do mundo: “Isso aqui é um Boeing, meu filho, não é mole, não!”
Desde a segunda-feira 6, Muricy não pilota mais esse Boing – ou, melhor, essa barca que virou o time do São Paulo, com jogadores desunidos e uma diretoria trapalhona e calçada de empáfia. A saúde do agora ex-treinador gritou para ele rapidinho tirar o time de campo. Ela definhou nessa segunda passagem de Muricy pelo São Paulo, que corria o risco de ser rebaixado para a segunda divisão do Brasileirão, em 2013, quando ele lá chegou. Muricy deixa o São Paulo sem título e com uma diverticulite, uma inflamação no intestino grosso, séria e uma operação na vesícula em vista para a retirada de uma pedra.
Antes dele, porém, dois outros comandantes passaram mal no Tricolor. Em 2010, Ricardo Gomes sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) após um clássico contra o Palmeiras, pelo Campeonato Paulista. No final daquele ano, deixaria o hospício do Morumbi, na época administrado pelo – vamos dizer peculiar – Juvenal Juvêncio, amante de um bom “uíííxque”, e se transferiria na sequência para o Vasco da Gama. Lá, em um jogo contra o Flamengo, sofreu um AVC hemorrágico que quase o matou e que até hoje o impede de exercer sua profissão. O primeiro aviso veio, porém, no São Paulo, onde ficar à beira do gramado parece ser como pegar uma fila no SUS. Você, com muito esforço, até entra no hospital, mas sair de lá com saúde é motivo para socar o ar à la Pelé.
Que o diga Telê Santana, que de “pé-frio”, por sucumbir em duas Copas do Mundo (82 e 86) no comando da Seleção, virou “mestre” ao forrar de glórias o Tricolor Paulista no início dos anos 90 com conquistas como dois Mundiais interclubes, duas Libertadores, Recopa, Supercopa, Copa Conmebol, Campeonato Brasileiro e Paulista. O treinador mineiro de Itabirito sentiu o baque da dedicação profícua ao clube que ele tornou gigante. Em 1996, uma isquemia cerebral o afastou do comando do São Paulo. Telê chegou a assinar com o Palmeiras, onde seria diretor-técnico, mas nunca assumiu o cargo por complicações em sua saúde. Advinha quem assumiu o Tricolor, à época? Muricy Ramalho, este que acaba de pedir o boné do clube que ele diz amar e que estava o matando aos poucos. São Paulo, o time da fé, anda mal de saúde.
Sobre Rodrigo Cardoso
Rodrigo Cardoso é jornalista. Escuta mais que fala. Deu certo na arte de contar histórias de gente (de Mandela a Andressa Urach) apesar da memória seletiva.
[+] Artigos de Rodrigo Cardoso
Rodrigo Cardoso é jornalista. Escuta mais que fala. Deu certo na arte de contar histórias de gente (de Mandela a Andressa Urach) apesar da memória seletiva.
[+] Artigos de Rodrigo Cardoso