A ameaça zumbi que assola o roteiro de livros, RPGs e filmes parece nunca ter chegado tão perto da realidade. Em menos de dois meses, três casos de ataques extremamente violentos contra pessoas foram registrados nos EUA – todos envolvendo canibalismo. O pior deles foi o de Rudy Eugene, 31, morto a tiros pela polícia de Miami após se recusar a tirar os dentes do rosto de Ronald Poppo, 65, sem-teto que dormia embaixo de um viaduto num sábado à tarde.
Além da peculiaridade sobre a carne humana, todos eles também tinham outro ponto em comum: os bath salts (ou “sais de banho”). Produzida sinteticamente à base de mefedona, metilona, ou MDPV – fortes estimulantes – são chamados assim “pelo fato desses compostos serem comercializados com a etiqueta ‘sais de banho’, ou ‘fertilizante’ nas ruas dos EUA e Canadá”, explica Frederico Cesarino, engenheiro químico, mestre em Sociologia e pesquisador da Universidade Federal do Amazonas.
Segundo ele, a “viagem” da nova droga, também chamada de “cloud 9” e “ivory wave”, provoca uma paranoia intensa através de alucinações incontroláveis e eventual tendência suicida, depois de muita agitação durante até três horas – dependendo da quantidade. O risco de overdose também é iminente, já que o estimulante administrado em excesso pode resultar em parada cardíaca.
Embora defenda que a relação entre o canibalismo e a droga ainda não foi comprovada, Cesarino reconhece que os bath salts elevam bastante a temperatura do corpo, gerando uma onda de calor – o que justificaria o fato do canibal de Miami ter cometido o crime completamente nu.
“O produto causa alucinações fortíssimas e incontroláveis (existem drogas alucinógenas cuja alucinação pode ser controlada por nosso cérebro)”, alerta o engenheiro. Ele esclarece ainda que os ingredientes para a sintetização dos bath salts podem ser encontrados em produtos vendidos legalmente, como a mefedona, presente em adubos, fertilizantes e cosméticos.
Mesmo sem causar dependência química, como salienta Cesarino, a viagem dos bath salths é mais intensa que a do crack. Por não ser ilegal em diversos lugares, a fabricação e comercialização descomplicada deste superestimulante podem representar um perigo real não só para o fulano que vai experimentar, como para a todos à sua volta.