A tensão que marcou o fechamento do novo rombo nas contas públicas, anunciado na terça-feira (15), não deixou dúvidas de que a disputa presidencial de 2018 ocupou lugar privilegiado nas reuniões do governo. Convencidos de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, trabalha para ser candidato ao Palácio do Planalto no ano que vem, interlocutores do presidente Michel Temer (PMDB) intensificaram a “fritura” do comandante da economia.
A nova temporada do “fogo amigo” passa não apenas por gabinetes do Planalto como pelo PMDB e PSDB, os dois principais partidos da coalizão. Filiado ao PSD - que integra o bloco conhecido como Centrão -, Meirelles voltou à berlinda política nos mais recentes capítulos da crise. Passou a fazer alianças estratégicas, como a parceria com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abriu em maio uma conta no Twitter - hoje com 23 mil seguidores - e começou a participar de eventos fora da agenda, como batizado de criança e até visita a igreja evangélica.
Nos bastidores, interlocutores de Temer acompanham com lupa os movimentos do ministro e o nome dele aparece em pesquisas de intenção de voto encomendadas por aliados, mas sempre com menos de 2%.
Embora uma candidatura de Meirelles seja considerada improvável no atual cenário de dificuldades, seus adversários lembram que em política as “nuvens” mudam muito rápido. Com 2018 no horizonte, argumentam que ele pode ter apenas mais sete meses e meio à frente da economia, se conseguir pôr de pé seu projeto eleitoral, já que o prazo para a desincompatibilização de cargos públicos termina em abril.
Embates
Os últimos embates travados entre a equipe econômica, ministros políticos e líderes do governo para a revisão das metas de déficit de 2017 e 2018 - definidas em R$ 159 bilhões - irritaram Temer, que, a portas fechadas, pediu “calma” à equipe.
Um exemplo das divergências ocorreu no dia 10, uma quinta-feira. Passava de 13h30 quando a temperatura esquentou no Planalto. Depois de ouvir a apresentação de Meirelles e do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, sobre o “pacote” do aperto para conter o rombo, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), não se conteve. “Presidente, essa solução de aumento de impostos não vai se concretizar. Não passa no Congresso”, disse ele, dirigindo-se a Temer. “Ainda mais neste momento político, em que não se sabe se vem mais flecha pela frente.”
Flecha foi o termo usado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para se referir às denúncias da Lava Jato encaminhadas por ele. A acusação por corrupção passiva contra Temer foi rejeitada pela Câmara no dia 2 deste mês, mas outras podem aparecer.
Naquela reunião, o presidente concordou com Aguinaldo, mas cobrou uma alternativa. “Se imposto não passa, como se faz?”, perguntou, sem esconder a contrariedade com o vaivém dos números. Ao ver um ministro com olhar fixo no WhatsApp, interrompeu a discussão e foi direto: “Vamos guardar o celular?”. Meirelles ensaiou ali o primeiro recu