A iminente retirada de 3 mil Policiais Militares (PMs) de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), anunciada para intensificar o patrulhamento nas ruas e reduzir os índices de criminalidade no Estado, deverá penalizar a população das favelas, acreditam oficiais da reserva da corporação e moradores de comunidades assistidas ouvidos pela reportagem na última quarta-feira.
Criado em 2008, o programa chegou a reduzir em até 65% as mortes nas áreas em que foi instalado, mas está em crise há pelo menos quatro anos, com a intensificação de tiroteios, casos de balas perdidas e ataques a policiais.
No lançamento, as UPPs foram apresentadas à população pelo então governador Sergio Cabral Filho (PMDB) como a solução para a violência no Rio, por focar na expulsão de traficantes e na retirada de fuzis das comunidades. Representava, no discurso oficial, uma mudança nas relações entre PMs e moradores das favelas e uma trégua na lógica da guerra às drogas, implementada há décadas e marcada por ações sangrentas.
“A pacificação não existe”
O redesenho, que atrela as UPPs aos batalhões da PM, é defendido pela Secretaria de Segurança para tentar conter o crescimento dos indicadores, como o de letalidade violenta. De janeiro a junho deste ano, crimes como homicídios e roubos seguidos de morte subiram 16,3% em relação ao mesmo período de 2016, com ocorrência de 19 mortes por dia.
Outro motivo alegado pela pasta para as mudanças nas UPPs é a crise financeira do Estado, que impede a contratação de novos policiais.
“Acho que a tendência é tirar tudo, dar cabo do projeto. Nas próximas eleições, deve acabar. No início, a UPP funcionou, mas agora é raro não ouvirmos tiro. A pacificação não existe. A sociedade do asfalto pede mais policiamento, a secretaria atende”, analisou Luiz Soares, liderança comunitária na Favela de Manguinhos, zona norte. A comunidade é uma das mais violentas do Rio, mesmo com uma UPP instalada desde 2013.
Bom relacionamento
Em sentido inverso, Sebastião Gonçalves, representante dos moradores do Morro do Salgueiro, não quer mudança. A favela onde mora, na zona norte, recebeu uma UPP em 2010 e viu a violência desabar. “Eu não quero que mude nada, temos ótimo relacionamento com a UPP. A polícia não respeitava, agora respeita. Estou com muito receio”, lamentou.
Desmonte do projeto
Ex-comandante da PM do Rio, o coronel da reserva Ibis Silva manifestou dúvidas sobre a decisão de incorporar as UPPs aos batalhões. Para ele, as pacificadoras estão sendo desmontadas.
“Subordinando a UPP ao batalhão da área, que está preocupado com a mancha criminal, como garantir que os policiais continuarão envolvidos com a tarefa da pacificação? [A redução] é muito triste e preocupante, vai expor os policiais que ficarem. As medidas, na prática, desmontam as UPPs e as transformam nos antigos Destacamentos de Policiamento Ofensivo”, disse ele.
O oficial se refere ao antigo modelo em que a PM mantinha postos nas favelas, mas sem o compromisso de se aproximar da população.
Fazer mais com menos
O atual comandante da PM, coronel Wolney Dias, declarou ontem à Rádio CBN que “está falando uma grande besteira quem diz q