Depois de quase um século de mistério, um grupo de cientistas descobriu para que servia uma antiga placa de argila da Babilônia que ostenta inscrições de mais de 3.700 anos: trata-se da mais antiga tábua trigonométrica, provavelmente utilizada pelos antigos matemáticos para realizar cálculos na construção de palácios, templos e canais.
O astrônomo grego Hiparco, que viveu no século 2 antes de Cristo é considerado o pai da Trigonometria – a área da Matemática que estuda as relações entre ângulos e lados dos triângulos –, mas o novo estudo revela que os babilônios já haviam desenvolvido uma sofisticada trigonometria cerca de 1.500 anos antes dos gregos.
O estudo, liderado por Daniel Mansfield e Norman Wildberger, da Universidade de New South Wales (UNSW), da Austrália, foi publicado na quinta-feira, na revista científica Historia Mathematica. De acordo com Mansfield, a placa revela uma sofisticação matemática surpreendente.
"Essa peça tem intrigado os matemáticos há mais de 70 anos, desde que se percebeu que ela contém um padrão especial de números, conhecido como trios pitagóricos. O grande mistério, até agora, era seu propósito – por que os antigos escribas realizaram a complexa tarefa de gerar e classificar os números na placa", disse Mansfield.
Placa enigmática
Conhecida como Plimpton 322, a pequena placa foi descoberta em Senkereh, no sul do atual Iraque - onde ficava a antiga cidade suméria de Larsa - pelo arqueólogo, acadêmico, diplomata e negociante de antiguidades americano Edgar Banks – figura polêmica que inspirou o famoso personagem do cinema Indiana Jones.
A placa, com 13 centímetros de largura, nove centímetros de altura e dois centímetros de espessura foi vendida por Banks, por volta de 1922, para o editor americano George Arthur Plimpton. Na metade da década de 1930, o objeto foi doado com toda a coleção de Plimpton para a Universidade Columbia, em Nova York, onde é estudada até hoje.
Segundo Mansfield, a placa apresenta quatro colunas e 15 linhas de números gravados na escrita cuneiforme – o sistema de escrita mais antigo que se conhece. Em vez de utilizar o atual sistema numérico decimal (de base 10), os babilônios utilizavam um sistema sexagesimal, (de base 60).
"Nosso estudo mostra que a Plimpton 322 descreve os formatos de triângulos retângulos utilizando um novo tipo de trigonometria baseado em proporções, não em ângulos e círculos, como fazemos hoje. É um trabalho matemático fascinante que demonstra uma inegável genialidade", afirmou Mansfield.
Impacto no mundo moderno
De acordo com Mansfield, a placa não apenas corresponde a mais antiga tábua trigonométrica do mundo, mas também é a única tábua trigonométrica totalmente precisa, por conta da abordagem babilônica extremamente original da aritmética e da geometria.
"Isso significa que a descoberta tem grande relevância para nosso mundo moderno. Os matemáticos babilônios podem ter ficado esquecidos por mais de 3 mil anos, mas sua trigonometria possivelmente tem aplicações práticas em levantamentos, computação gráfica e educação. Trata-se de um raro exemplo da antiguidade nos ensinando algo novo", disse o cientista.
"Existe um verdadeiro tesouro de placas babilônicas, mas apenas uma pequena fração delas