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Roberto Menescal faz 80 anos com turnê pelo Brasil

21/09/2017 00:00

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Alguns anos depois que o pai de Roberto Menescal morreu, uma espécie de diário foi encontrado em seus pertences. Ele dizia para os irmãos “cuidarem da ovelha desgarrada que não largava o violão”. Estava preocupado com o salário do garoto que queria tanto ganhar a vida com música naqueles anos 1950. Quem sabe não o convenciam a ser um engenheiro?

A lembrança faz Menescal sorrir. "Ele devia dizer o contrário, o músico é quem ajudaria os irmãos", brinca. A música vingou na vida de um artista que esteve em muitos pontos-chave das revoluções culturais pós-era do rádio. Menescal levava o violão para o apartamento de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Estava lá quando tudo surgiu, ao lado de Tom Jobim, Carlos Lyra, Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, Luiz Eça, Luiz Carlos Vinhas, Bebeto Castilho, Hélcio Milito, Eumir Deodato, Oscar Castro Neves, Edison Machado, Wilson das Neves, Antônio Adolfo, João Donato, João Gilberto, Elis Regina.

Ao chegar aos 80 anos, que serão arredondados em 25 de outubro, Menesca, como ficou conhecido, sai em temporadas por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, com uma série de convidados que estarão a serviço de canções que fizeram parte de sua história. "Não serão necessariamente músicas minhas, mas aquelas que marcaram essa trajetória", ele diz. Depois de concluir uma temporada em Brasília, de 8 a 10 deste mês, ele fica desta quinta-feira, dia 21, a domingo, dia 24, no Centro Cultural Banco do Brasil, passando sua história a limpo. Hoje, às 13h, se apresenta com Ivan Lins e Leila Pinheiro. Na sexta-feira, dia 22, às 20h, chama Simoninha e Sabrina Parlatore. No sábado, dia 23, no mesmo horário, estará com o saxofonista Leo Gandelman e os cantores Lula Galvão e Cris Delanno. E, no domingo, dia 24, terá duas gerações de bossa novistas no palco, Marcos Valle e Fernanda Takai.

A importância da geração de Menescal, vista muitas vezes como aquela que elaborou uma linguagem respeitável porém datada, vai além de banquinhos e barquinhos. Logo depois da chegada de João Gilberto às rádios, em 1959, com a gravação de seu LP Chega de Saudade, o efeito bossa nova teria implicações dentro e fora do Brasil. Aqui, os músicos migravam seus talentos para a criação de canções em um formato de excelência harmônica, canto retraído e poética bucólica tendo a zona sul do Rio de Janeiro como cenário. Lá fora, o mundo conhecia não mais o Brasil exótico, mas uma potência cultural. Até então, norte-americanos e europeus faziam uma grande confusão com a imagem e o ritmo de Carmen Miranda, misturando samba a calipso ou chá chá chá como se fosse tudo música do mesmo balaio.

Menescal coloca mais um feito em sua conta. "Foi essa nossa geração que mostrou que os jovens classe média dos apartamentos do Rio poderiam fazer uma música relevante." Sim, até então a produção popular legitimada estava, sobretudo, nas mãos dos grandes sambistas das esferas mais abaixo dos apartamentos da Avenida Atlântica. Noel Rosa, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Cartola, Wilson Baptista. Havia duas décadas que Luiz Gonzaga saíra do sertão de Exu, em Pernambuco, para espalhar seu baião pelo País. O Brasil reconhecia-se na música caipira, no choro, no samba-canção e n