Foi muito pouco. Não bastou ter se jogado no pré-Carnaval, no Carnaval e no pós-Carnaval. Carnaval é uma palavra que você não consegue tirar da cabeça, que inspira uma saudade que só o próximo Carnaval pode curar.
Mesmo com a resistência imunológica destruída por dias dançando, pulando, bebendo, beijando, cantando e fazendo não se sabe mais o quê, você ainda queria que a folia não tivesse acabado – alguns lugares ainda têm um resquício de festa, como nos eventos fechados que acontecem neste final de semana em São Paulo, mas não é a mesma coisa, a euforia coletiva esmoreceu.
A professora Débora Soifer, de 35 anos, que se dedicou a curtir os blocos de rua em São Paulo, ilustra bem o que milhões de brasileiros sentem quando o Carnaval se vai.
“Eu sinto saudade do Carnaval o ano todo! Sou dessas que vivem essa abstinência”, diz ela, rindo. “Sei que é necessário voltar à realidade, principalmente pelos abusos de algumas pessoas, que promovem muitas consequências negativas para a cidade e a população, mas confesso que iria para os bloquinhos fora de época.”
Já Fernando Luiz Aguiar, gerente de projetos, gostaria que a festa acontecesse “duas vezes por semestre”.
“É legal porque está todo mundo no mesmo momento de alegria, no mesmo clima. É diferente de uma festa ou balada normal, em que uns vão porque é comemoração de aniversário, outros para acompanhar o amigo que pediu ou só porque o final de semana chegou e parece que é obrigação sair”, explica ele, que tem 35 anos. “Depois disso tudo, é uma tristeza voltar ao trabalho.”
O ator Pedro Dix, de 25 anos, também queria que o período oficial do Carnaval durasse mais um pouco – “pelos menos até sexta-feira”. Ele destaca, porém, que a efemeridade da festa a faz mais especial. “Acho que aquilo que torna o Carnaval esse momento tão legal é porque é uma semaninha só no ano.”
Fantasia humana de interação
O psicólogo social Hélio Roberto Deliberador, professor da PUC-SP, explica essa adesão maciça ao Carnaval é realmente muito prazerosa e também “libera mais energia” que outros eventos, normalmente restritos, aos quais vamos ao longo do ano. Além de democrático, o especialista diz que a folia é uma catarse coletiva.
“Vivemos uma vida muito individual, muito separada, com dificuldades de contato – e contatos que podem ser muito perigosos”, afirma. “Então, poder relaxar um pouco esta situação, e se colocar em um cenário de acesso ao outro, com socialização, e vivenciar um pouco de erotismo, sexualidade, é uma fantasia humana.”
“Depois tem a volta à realidade: o trabalho, desemprego, a crise econômica, todo este contexto que nós temos de Brasil neste momento. É o cotidiano da vida a ser carregado. Por isso é importante esse momento de extravasamento, de grande festa. Ele exerce uma função compensatória”, completa.
Embora a cada ano a folia agregue mais ritmos musicais além da batucada tradicional, ouvindo o psicólogo e os foliões é difícil não lembrar dos últimos versos da música Tem Mais Sa