Ainda somos o país do futebol? Na data em que o esporte mais popular do mundo é celebrado é preciso fazer uma reflexão sobre o momento delicado da nossa Seleção gplus
   

Ainda somos o país do futebol?

Na data em que o esporte mais popular do mundo é celebrado é preciso fazer uma reflexão sobre o momento delicado da nossa Seleção

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Em 19 de julho é comemorado o Dia do Futebol. Mas no Brasil, reconhecido como o maior celeiro de craques e grandes escretes da história do esporte, sem falar dos nossos cinco títulos mundiais, há poucos motivos para celebrar a data. Desde a conquista de nossa última Copa do Mundo, em 2002, com um time de qualidade questionável e que enfrentou adversários bem fraquinhos, a decadência é progressiva.

A começar pelo mais recente ranking da Fifa, divulgado no dia 04 de julho, ficou a sensação de que estamos indo ladeira abaixo. Afinal, a 11º posição – pela primeira vez desde a criação da lista, em 1993, estamos fora do top 10 – causou espanto, mas não indignação, pois crítica e torcida sabem que o time Canarinho vive um dos momentos mais negros de sua história. Hoje, o Brasil está atrás de países como Croácia e Dinamarca e a anos luz da Espanha, atual campeã mundial e bi da Eurocopa.

E justamente a Fúria precisa servir de espelho de alguma forma para nos livrarmos desta clara crise de identidade que nossos jogadores vivem com a bola. A seleção espanhola é o time de 1982 que deu certo. Aquela fantástica equipe, comandada por Telê Santana, e que contava com craques como Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Cerezo e Leandro, representou um divisor de águas nos rumos do futebol mundial. Ao encantar o mundo com grandes atuações, o título mundial era dado como certo. 

Mas, para espanto e tristeza dos amantes do jogo bonito, a arte com a bola foi punida pelo defensivismo, pragmatismo e violência dos italianos que, além de conquistarem a Copa do Mundo de 1982, inauguraram a era do futebol de resultados. E as recentes vitórias dos espanhóis precisam ser comemoradas, pois foi o triunfo do toque refinado, da plástica e dos craques que botam a pelota no chão e atuam com a cabeça erguida diante dos botinudos e retranqueiros. 

Porém, infelizmente, hoje, a Seleção Brasileira, outrora o mocinho da história, está do lado dos vilões do esporte. Parece exagero, mas a verdade é que estamos desonrando nossa tradição de futebol pra frente, moleque, atrevido e apaixonante ao adotar uma postura covarde e com atletas que não têm envergadura para trajar a camisa mais vitoriosa do esporte bretão. Afinal, quem tem cinco estrelas acima do escudo no mundo?

Depois da Copa de 1994, quando vencemos mais na raça que na qualidade, apesar do brilho de Romário e Bebeto, revelamos grandes craques que jogavam para frente, como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Kaká, além de outros muito bons como Adriano e Robinho, mas não formamos grandes times como os de 58, 62, 70 e 82. Trocamos o encantamento por lampejos. 

Em 2002, podemos dizer que vivemos uma ilusão. Aquela Copa conseguiu bater o Mundial de 1990 em termos de mediocridade técnica. Na Itália 90’, apesar de termos presenciado o momento mais pragmático do futebol até então, houve presença maciça de grandes craques, como Maradona (ARG), Matthäus (ALE), Gullit e Van Basten (HOL), Lineker (ING), Fancescoli (URU), Baggio (ITA) e o nosso Careca.  

Já na Copa da Coreia e do Japão, para se ter uma ideia, vimos os grandes sofríveis em campo (Argentina e França, então atual campeã, foram eliminadas na primeira fase), os sul-coreanos, pela primeira vez, chegar a uma semifinal – quando foram notoriamente favorecidos pela arbitragem contra Itália, nas oitavas de final, e Espanha, nas quartas –, os EUA quase eliminando a Alemanha, nas quartas de final, e Bélgica e Turquia colocando o Brasil em perigo. Muitas coisas estavam fora do lugar.


Há dez anos, ganhamos o caneco, mas não encaramos nenhum time de peso. Fomos campeões com “craques” do porte de Roque Júnior, Edmílson, Gilberto Silva, Kléberson e Juninho Paulista e com os "fenomenais" Vampeta e Denílson no banco. Se não fosse pelos gols e ótimas tramas de Ronaldo, Rivaldo e até de Ronaldinho Gaúcho e da segurança de Marcos no Gol, o risco de não faturar o Mundial mais fácil de todos os tempos seria enorme.

E foi justamente nesse momento que nos deixamos levar pela falsa sensação de que éramos os melhores, praticamente imbatíveis. Não à toa fizemos um papelão, em 2006. Com ótimos jogadores no elenco, o comprometimento deu lugar à acomodação e às noitadas fora da concentração. Resultado: levamos um passeio da França e voltamos para a casa, literalmente, de ressaca.

Em 2010, o clima de quartel general implantado por Dunga lembrava muito os métodos de Felipão. Mas, diferente da Família Scolari, os “soldados” do capitão do Tetra estavam sisudos e mais preocupados em dar uma resposta aos críticos do que simplesmente jogar com jeito de Brasil e conquistar o hexa. Mas, num apagão no segundo tempo das quartas de final contra a Holanda, quando ganhávamos por 1 a 0, as falhas da até então “muralha” Julio Cesar e do cyborg Felipe Melo foram cruciais para que o sonho da sexta estrela fosse adiado para 2014.

Voltando a 2012, o cenário é mais do que desanimador. Neymar é um verdadeiro representante do nosso estilo de jogar, mas ele está longe de ser um Maradona a ponto de conseguir carregar um time nas contas e ganhar a taça Fifa, como visto em 1986. O craque do Santos mostrou, na última decisão do Mundial Interclubes, quando o Peixe tomou um vareio do Barcelona (4 a 0), que ainda está longe de fazer frente ao mais legítimo sucessor de Don Diego: Lionel Messi.


A dois anos da Copa do Mundo no Brasil, a Seleção ainda não tem uma cara. Nossos principais jogadores atuando na Europa são zagueiros, Thiago Silva e David Luiz. Falando em Velho Continente, mais um motivo de vergonha foi o fato de nenhum brasileiro figurar entre os 32 finalistas do prêmio de melhor atleta dos gramados europeus na temporada 2011/2012. 

A nova geração que conta com Lucas, Ganso e Oscar, além de Neymar, tem qualidade, mas, às vésperas da Copa, é muito pouco para fazer frente à Espanha e Alemanha e até outros selecionados como Itália, Uruguai, Argentina, Holanda e Portugal. Podemos até nos sagrarmos hexacampeões, por conta do fator casa, mas time nós não temos. Mano Menezes ainda não mostrou a que veio.  

Mais que 11 craques em campo, o Brasil precisa voltar a ser Brasil e parar de se preocupar em só revelar brucutus, com vistas ao mercado estrangeiro, e dar atenção aos garotos de talento e que saibam tratar a bola com carinho. Com o avanço da biomédica, é possível melhorar o condicionamento físico dos meninos mais franzinos, mas que têm habilidade de sobra. 

Em vez de investir milhões em medalhões com mais de 30 anos, os clubes precisam olhar com carinho para as divisões de base e implementar uma filosofia própria de formação, como faz o Barcelona. É a única saída para voltarmos a ser a maior fábrica de craques do mundo. Quem sabe, num futuro próximo, possamos comemorar novamente com orgulho o Dia do Futebol?