Confesse: quando você vai jogar bola e aquele “atleta” se prontifica a “pegar no gol” você logo conclui que se trata do grosso da turma, daquele que mal sabe as regras do futebol e que foi pra debaixo das traves por pura necessidade ante a iminente exclusão do jogo. Acertei?!

Pois saiba que esta concepção está bastante distorcida. Não se trata de mimimi de mais uma minoria (já temos suficiente nos tempos atuais, não?), mas da constatação de que ser goleiro é uma arte, tão relevante quanto o artilheiro-matador ou mesmo o zagueiro-armário-que-não-deixa-passar-nada (adversário e/ou a bola).

Goleiro, guarda-metas, arqueiro, guarda-redes ou porteiro. Independentemente da nomenclatura sua função é sempre a mesma: subverter a ordem natural do jogo; impedir que o passe vire gol. Ser o anti-herói (e herói) diante do clímax da partida.

Por isso sou goleiro. E gosto de sê-lo. Ninguém me impôs. Escolhi. E, com experiência de quase 4 décadas, posso separar algumas razões práticas para enaltecer a profissão:

1) Você sempre jogará mais que os seus colegas: afinal, via de regra, sempre tem (ao menos) um time “de próximo”, esperando para poder jogar, ao passo que os goleiros tendem a ficar permanentemente na quadra. Isto é resultado da absoluta carência de mão de obra “para os arcos”. Encontre uma prova cabal e secularizada disto acessando, por exemplo, o Goleiro de Aluguel, uma plataforma que encontra goleiros para os times deste Brasilzão (!)

PS: comparativamente, você não encontra por aí um site para agrupar jogadores de linha...    

2) ...Pagando menos (ou nada!): afinal, quem já não testemunhou aquele incentivo extraordinário aos goleiros que, se forem ao futebol de quinta à noite, “estarão isentos de rachar a mensalidade da quadra”?

3) A visão da partida é privilegiada: ali detrás vislumbramos toda a movimentação das equipes, o jogador desmarcado, a oportunidade do melhor passe.

4) Não é preciso jogar numa posição que não gosta: a relação com o gol é binária, se gosta ou não. Já os atletas de linha, muitas vezes, acabam jogando como zagueiros (quando gostariam de estar lá na frente marcando gols) ou correm desenfreadamente como laterais (quando queriam mesmo trabalhar na armação da equipe). Ponto pra nós!

5) Você é único neste desporto!: que jogador pode trabalhar com as mãos? Qual aquele que toda a partida para enquanto está lesionado? Apenas nós, amigos goleiros!

Mas, no fundo, a razão mais gostosa de tudo isto é poder imaginar, logo após uma defesa decisiva, daquelas que o goleiro se estica todo e toca a bola com a ponta dos dedos, o narrador emplacando um:

Espaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaallma Rodrigo!

É melhor que ter feito um gol! (se tem dúvidas a respeito, procure ouvir o lendário José Silvério narrando algumas importantes defesas do arqueiro Marcos, que fez historia no Palmeiras – e olha que nem palmeirense sou)