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Cabeça de lutador

Partir para a porrada requer mais do que peito de aço. A mente também é um músculo

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"Não quero briga de rua", é o que mais se ouve o treinador dizer ao seu lutador durante uma luta no octógono, seja pelo UFC televisionado ou nas chamadas "luvas" que os atletas do MMA participam, em eventos menores e promovidos por academias de combate. O aviso funciona como um lembrete da estratégia até então vitoriosa traçada pelo profissional que pode ser considerado o responsável por cada vitória de - como diria Galvão - um gladiador do terceiro milênio. 

São, pelo menos, três meses de preparação para o duelo que não deve passar de cinco rounds, no caso de uma defesa de cinturão. É muito investimento físico e psicológico para perder o controle e ver todo o esforço sucumbir em uma noite. A pressão é gigante. E o treinador está lá para fortalecer o combate. “Ele é mais do que um profissional, ele é amigo, parte da família. O treinador incentiva nosso trabalho, acredita muito mais em nosso potencial do que nós mesmos”, confidencia o lutador Matheus Serafim, que possui em seu cartel 14 lutas com 11 vitórias, sendo oito por nocaute. 

Serafim adiciona que um atleta deve confiar 100% em seu professor, pois essa relação honesta entre a preparação e real condição física na hora de lutar garantirá que os objetivos a médio e longo prazo chegam alcançados. Quem reforça o coro é o treinador Luiz Eduardo Lula, responsável por Paulo Thiago que, além do cartel de 18 lutas e 14 vitórias, atualmente batalha pelo UFC, sem falar da carreira como soldado do Bope, no DF. “A confiança para uma luta se dá pelo treinamento árduo feito no dia-a-dia, e por isso a equipe técnica tem que exigir o máximo do atleta. Caso o treinador sinta que o atleta não está dando tudo no treino, é melhor mandá-lo de volta para casa para descansar. Melhor que ele se recupere para a sessão de treino seguinte do que puxar o atleta, desgastá-lo ainda mais e perder a sessão de treino consequente”, explica Luiz.


Existe, além do trabalho físico, um trabalho psicológico que Matheus define ser por etapas. “Em um primeiro momento, o treinador marca a luta e passamos a estudar seus eventos, saber seus pontos fracos. O segundo ponto é o estímulo contínuo para manter o atleta motivado, falando que estamos bem, com gritos durante as sessões. E antes da luta, naquela semana que antecede, assistimos a diversos filmes de superação no esporte”, comenta. O atleta explica que essa parte final é a mais crítica porque o lutador já está debilitado por conta do treino pesado, a oscilação no peso e o cansaço mental. 

Dentro e fora do covil

Antes de entrar no octógono, o treinador aponta tudo que o atleta já passou, as pessoas que o apoiam, sua preparação e o objetivos. “Você pensa em toda a dedicação e o professor sempre sabe o que falar. Antes de subir, pensamos não estar preparados, mas o treinador sabe e incentiva, aposta naquilo. Ouvir tudo isso é importantíssimo para subir e ganhar aquela luta”, afirma Serafim. 

Já do lado de fora, enquanto o pau come, a equipe técnica tenta manter acesa a chama da esperança. “Ninguém gosta de apanhar, mas o atleta tem que estar preparado para aguentar todo tipo de pressão, inclusive se estiver em uma situação desfavorável”, explica Lula. Em hipótese alguma, ainda seguindo o especialista em lutas, deve-se sair do plano de luta, pois essa saída pode colocar todo o trabalho por água a baixo. Daí a importância dos corners em falar com o atleta durante toda a luta e orientá-lo a fazer o que foi planejdo. MMA não é briga, é luta! E se engana quem acha que a luta são dois caras se agredindo. Luta requer concentração e planejamento, e é justamente isso que fazemos todos os dias durante o treinamento. Na hora H é só executar o que foi planejado e já está mentalizado”, pontua. 

E isso serve também para o estímulo da arena. “O barulho das pessoas, os assovios, tudo isso influencia sim, mas não é decisivo. O grande negócio é fazer com que o atleta mantenha a calma para seguir a estratégia. Muitas vezes durante o começo da luta, os atletas ficam se estudando, medindo a distância e a torcida começa a vaiar por causa da falta de combatividade. Em hipótese alguma o atleta pode se empolgar e partir para cima, pois ele pode acabar se expondo, levar um contra-golpe e jogar tudo a perder. O grande negócio é manter a concentração no adversário, na sua movimentação, na distância. Quando se está 100% concentrado nenhum fator externo atrapalha”, finaliza Luiz Eduardo.