Existem profissões que aparentam ser cercadas de diversão. Por exemplo, imagine só poder tocar nas melhores festas, saborear drinks e mais drinks e ainda ser o responsável pela trilha sonora do ambiente. Tentador, não? Pois a vida de um DJ é muito mais complicada do que isso (apesar de não podermos apagar a parte da diversão e das bebidas).
Glamour e realidade
Nos dias de hoje, boa parte das pessoas acredita que ser DJ nada mais é do que atuar como um 'bon vivant', principalmente pela popularidade de nomes conhecidos do público, como David Guetta, Tiesto e até Jesus Luz, ex-Madonna. Realmente, a vida destes indivíduos causa inveja em muitos, pois quem não gostaria de participar das festas mais bombadas do mundo, cercado de celebridades e mulheres bonitas? Entretanto, a realidade não é tão bela assim, para ingressar neste ramo, que mesmo com sindicato próprio ainda não é reconhecido como profissão pelo governo federal, é preciso ralar bastante.
Com 20 anos de carreira e especialista em música eletrônica, Nelson Patriota ou simplesmente DJ Nelsinho, garante que a estrada é longa e é preciso ter muita determinação. "Quando comecei, há 20 anos atrás, tocava escondido, quase dentro da cozinha. Atualmente, a carreira conquistou espaço e admiração pelos jovens e tornou-se uma febre."
Nelsinho também critica os DJs celebridades e garante que muitos não sabem como usar os equipamentos."“Os 'DJs celebridades', em sua maioria, apenas querem se destacar em matérias publicitárias, e estes têm o auxílio de algum profissional que prepara seus sets ou até mesmo fica ao seu lado operando os aparelhos enquanto a celebridade aparece nas fotos. Sentir a pista e saber a música/versão certa para aquele momento e tipo de público, não se aprende da noite para o dia," salienta.
Dentre muitos dos atrativos da carreira está o salário, que para os bem sucedidos, é bem alto. Os cachês podem chegar até 15 mil reais por noite. Todavia, um DJ em início de carreira ganha em torno de 300 ou 600 reais por festa.
O começo de tudo
O primeiro contato dos DJs com os brasileiros aconteceu no início da década de 80, especialmente na cidade de São Paulo, que se tornou um verdadeiro point dos amantes da música. O carioca Nelsinho, que também comanda um programa musical na Rádio Transamérica do Rio de Janeiro, fala mais sobre a evolução da profissão.
"Dos anos 80 para cá, muita coisa mudou. Começando pelo equipamento, que era grande e pesado. Um engradado de vinil, por exemplo, comportava 220 discos e pesava cerca de 20 quilos. Os discos e headfones também eram caríssimos e as saletas onde os DJs ficavam comportavam toda essa tralha. Hoje, eles operam em palcos ou em salas menores, com equipamentos mais leves e menos caros. E, embora estejamos em tempos de internet e MP3, alguns, inclusive eu, ainda preferem ter o prazer de tocar vinis, quando possível," diz.
Falando em equipamentos, para quem atacar de DJ, é preciso ter dinheiro no bolso, pois custa caro conseguir bons aparelhos. "Os custos variam entre 1500 e 5000 reais cada. Como o custo de importação é alto, o menor preço encontra-se em lojas virtuais ou em sites de leilão (Mercado Livre, por exemplo)," conta.
O DJ Nelsinho aproveita para indicar quais são os melhores equipamentos. "Além do Mixer (misturador de canais), atualmente é possível encontrar várias opções para execução, analógicas ou digitais. Analógico são as Pickups (toca-discos). No ramo dos digitais existem os CDJs (CD players) e Controladores Midi (diretamente no computador)."
Vai rolar a festa!
Talvez a principal responsabilidade da vida de um profissional é escolher o repertório de uma festa. Seja em baladas ou eventos corporativos, o termômetro usado para saber se as pessoas estão se divertindo é a trilha sonora. "Cada evento é sempre uma surpresa. Não há como se programar. A música eletrônica possui diversas vertentes, e de acordo com o público de cada noite, o set deve ser alternado, com o intuito fazer todo mundo dançar," explica o DJ Nelsinho.
É fato que o começo é sempre complicado, entretanto, no caso do DJ, a recompensa pode ser muito boa, porém, Nelsinho afirma que não se deve pensar somente no lado bom da coisa, é necessário estar antenado com tudo o que acontece no meio.
"Não dá para olhar a profissão apenas pelo seu glamour. É preciso gostar de música, procurar se aperfeiçoar, aprender a mixar, conhecer o público e buscar novidades, inclusive fora do mercado nacional. O diferencial de quem quer crescer é ter visão de mercado, não só no presente, mas o que vai ser tendência. Colocar as pessoas para dançar é um instinto," encerra.