Que me perdoem as moças que ingerem APENAS carboidratos integrais, carnes brancas e grelhadas, alimentos funcionais capazes de acelerar o metabolismo e vegetais ricos em fibras, mas, para ser a MINHA namorada, comer também coxinha, pizza, donut, Nutella, queijos amarelos, Doritos e outras porcarias deliciosas é fundamental. Falo sério.
Eu até admiro a imensa força de vontade e a notável disciplina da mulher que, por anos – ou vidas inteiras! - consegue ficar longe das frituras, do açúcar refinado, das bebidas alcóolicas, dos refrigerantes e das muitas outras substâncias que são chamadas de “venenosas” pelas nutricionistas, mas não consigo, em hipótese alguma, imaginar-me namorando uma pessoa assim, tão best friend da quinoa, íntima do chá verde e inimiga do provolone.
E antes que alguém apareça por aqui para distorcer o meu discurso e afirmar que sou preconceituoso ou coisa do tipo, gostaria de deixar uma coisa bem clara: eu não tenho nada contra as mulheres adeptas de dietas – e de estilos de vida - que não permitem exceções, dobro de queijo e farinha branca. Elas simplesmente não ornam comigo e não se encaixam nos programas que eu considero essenciais para dar gosto a um namoro. Não rimam com a minha constante vontade de chutar o balde e soterrar bolinhos de arroz com maionese caseira. Não combinam com a alegria que sinto quando alguém topa dividir uma pizza de “catupa” comigo, em plena segunda-feira. Estão entendendo o meu ponto de vista?
Sei que para certos caras não há programa mais divertido do que despertar junto com o sol, comer mamão com chia e acompanhar a namorada em um corrida no parque. Porém, para mim, divertido mesmo é acordar bem depois do sol, encarar o que sobrou da pizza de ontem e correr... só até o boteco mais próximo. Percebe a incompatibilidade e o quanto uma namorada que curte postar suco detox no Instagram, cedo ou tarde, acabará se tornando uma pedra em meu sapato? E eu um enorme pedregulho no tênis de corrida dela, obviamente.
Eu sei que a paixão, em muitos casos, faz com que sejamos capazes de aturar o estilo de vida da nossa parceira. Mas como sobreviver à frustração que eu certamente sentirei a cada convite de chope que ela recusar? Como não sentir vontade de morrer nas vezes em que, ao invés de nhoque com molho branco e muito queijo derretido, o garçom me trouxer arroz integral acompanhado por algo orgânico e peito de frango grelhado? Pior ainda: como não sentir raiva de alguém que certamente me dirá: “Viu como um prato saudável pode ser bem mais gostoso do que um nhoque?”. Não dá! Não dá! Não dá! Impossível.
Sinto uma aflição torturante só de pensar em ter que procurar um boteco que além de torresmo, cerveja gelada e ovos coloridos também sirva porções de queijo branco light, sucos naturais e lanches sem glúten e lactose. E sinto uma leve torção nas tripas quando penso que uma namorada natureba provavelmente sumiria com todo o açúcar refinado de casa e me obrigaria a tentar – só tentar! - adoçar as coisas com açúcar mascavo ou mel. Já tentou adoçar algo com açúcar mascavo, irmão? Uma vez coloquei umas 12 colheradas de açúcar mascavo em uma limonada e, ao invés de obter um suco doce, como eu queria, vi-me diante de algo parecido com uma vitamina azeda e com textura de terra.
Sem contar que uma namorada natureba certamente enfiaria soja e derivados em minha goela, o que aumentaria o meu risco de acordar e, graças ao espelho do banheiro, perceber certo crescimento em minhas tetas (“A ingestão habitual de derivados de soja podem induzir ginecomastia em homens adultos normais”), segundo matéria publicada em uma das ediçoes da Veja.
Outra coisa: não quero namorar mulheres viciadas em whey protein. Já imaginou como é a crise de abstinência delas? “Amor, seu filho da puta, cadê o meu pote de whey? Preciso de mais uma dose urgente, antes que eu comece a catabolizar...” Não dá.
Brincadeiras e exageros à parte, não trocaria – nunca! – as gordurinhas da minha namorada devoradora de Ovitos pela bunda redonda de uma mulher que só tomará cerveja comigo no “dia do lixo”. E olhe lá.
Deixo a metade da laranja para homens que, na hora da sobremesa, costumam pedir saladinha de fruta. Eu sou muito feliz por ter encontrado a metade da minha pizza. E a tampa da minha panela cheia de risoto.
Sobre Ricardo Coiro
Vive entre o soco e o sopro. Morre de medo do morno e odeia caminhar em cima do muro. Acha que sensibilidade é coisa de macho e que estupidez é atitude de frouxo. Nunca recusou um temaki ou um café.
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