Preso na Suíça por agentes do FBI e acusado de corrupção e recebimento de propina, o ex-presidente da CBF, José Maria Marin é um dos 14 executivos da Fifa que foram surpreendidos por policiais à paisana em um hotel em Zurique e terá de se explicar às autoridades do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Esse órgão planeja denunciá-los por corrupção, lavagem de dinheiro, fraude bancária e 20 anos de má governança no mundo do futebol após três anos de investigações.
Marin é o cara em cujo currículo aponta ligações com os ditadores que sangraram o Brasil. Marcantes em sua passagem pela CBF estarão para sempre o Mineiraço, a sova de 7x1 que a Alemanha aplicou na Seleção na semifinal a Copa do Mundo e o levante dos atletas, por meio do Bom Senso F.C., contra os desmandos no futebol nacional. Assim acontece em confederações em que a negociata, a falta de transparência, se sobrepõe aos valores esportivos e educacionais. A prisão de Marin deixa ainda mais escancarado o fato de que a democracia, aquela que varreu os generais da política e do controle do País, não alcançou ainda o esporte.
Não são poucos os cartolas que se perpetuam em cargos por décadas. Conduzindo o destino de modalidades esportivas, eles criam feudos e deixam a promoção das atividades em segundo plano. O velejador Lars Grael, do alto de sua patente de medalhista olímpico, resumiu certa vez essa prática nefasta para a construção de uma excelência no esporte: “Da forma como estão, federações e confederações assemelham-se às histórias das capitanias hereditárias. Ou seja, com transferência de comandos sem qualquer tipo de oposição, favorecendo o continuísmo de dirigentes que se perpetuam em seus cargos”.
Marin estava na Suíça para a eleição, veja só, que pode dar a Joseph Blatter um quinto mandato à frente da Fifa. São estruturas engessadas, viciadas e pouco democráticas assim que precipitam frequentemente notícias de má gestão e corrupção no âmbito esportivo. Marin foi um presidente tampão da CBF por três anos. Assumiu depois que Ricardo Teixeira renunciou depois de mais de duas décadas sem largar o osso dourado do esporte brasileiro, o futebol. Mesmo assim, ele acena ter herdado o jogo de interesses, a troca de favores escusos e os esquemas de corrupção que pontuam a gestão esportiva mundo afora. Listamos sete dirigentes que agem ou agiram de forma antidemocrática na gestão do esporte.
#1 Joseph Blatter – há 17 anos, o suíço comanda a Fifa e quer mais um mandato, o quinto, a frente da entidade máxima do futebol.
#2 Ricardo Teixeira – permaneceu 23 anos no cargo de presidente da CBF, entre 1989 e 2012, quando renunciou após denuncias de corrupção.
#3 João Havelange – o brasileiro ficou à frente da Fifa por 24 anos. Passou o bastão para Blatter em 1998.
#4 Carlos Arthut Nuzman – é presidente do COB há 20 anos. Antes, havia presidido a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) por 21 anos, entre 1975 e 1997.
#5 Coaracy Nunes – o ex-nadador é o mandatário da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) há absurdos 27 anos!
#6 Ary Graça Filho – esteve à frente da CBV por 17 anos. Em 2014, renunciou após denúncias de corrupção na entidade em sua gestão.
#7 Mario Vázquez Raña – falecido em fevereiro deste ano, o mexicano, mais do que ditador do esporte, foi um dirigente imperador. Ele reinou até a morte, durante 40 anos, a Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa).
Sobre Rodrigo Cardoso
Rodrigo Cardoso é jornalista. Escuta mais que fala. Deu certo na arte de contar histórias de gente (de Mandela a Andressa Urach) apesar da memória seletiva.
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