Filmes, séries e comerciais de televisão, por muito tempo, serviram de espaço para o "Air Jordan", o tênis preferido de personagens da ficção cinematográfica e de figuras famosas ao redor do mundo. Além disso, foi motivo de grande adoração por parte da comunidade jovem, especialmente a estadunidense, em meados da década de 1990 e também já nos anos 2000.
Os modelos, muito conhecidos pelo design singular, arrojo e cores impactantes, significaram a consolidação de uma marca ao calçar os pés de boa parte da população norte-americana. As palavras "Air Jordan", quando proferidas por alguém, são facilmente associadas à Nike, detentora de seus direitos, e ao estilo urbano.
LEIA TAMBÉM
O primeiro Air Jordan foi lançado oficialmente em abril de 1985. Desenhado pelo britânico Peter Moore, o tênis surgiu para calçar e ser representado por Michael Jordan, maior nome do basquete mundial. Na época, diversas marcas eram representadas por jogadores, o que fez a Nike investir no maior astro do esporte.
A novidade surgia em preto e vermelho, em alusão às cores do Chicago Bulls, equipe de Jordan. A NBA - liga de basquete norte-americana -, no entanto, proibia que atletas utilizassem calçados nas cores do produto recentemente lançado pela Nike.
Apesar de o craque de Chicago não poder usar o tênis preto e vermelho enquanto jogava oficialmente na NBA, as vendas do produto foram crescendo de forma gigantesca. O fato de um novo modelo aparecer no mundo do esporte foi tão inovador quanto um jogador negro ser o garoto-propaganda de uma marca.
A década de 1980 foi de bom crescimento da Nike, que já rivalizava há algum tempo com concorrentes de peso, como a Adidas e a Puma. E foi em 1988 que Tinker Hatfield lançou seu primeiro projeto de Air Jordan ao prestar serviços para a Nike. Numerado como número "III", o calçado chegou às lojas nas cores branco e cinza, predominantemente.
EX-ATLETA E DESIGNER DE SUCESSO
Tinker Hatfield nasceu no ano de 1952, em Oregon, EUA. Ex-atleta do meio universitário praticando atletismo, precisou se afastar de competições devido à lesão que teve no tornozelo. Após cirurgias e dois anos de recuperação, o estudante de arquitetura da Universidade de Oregon sentia que não era o mesmo de antes; mancava e sabia que o futuro no esporte era incerto.
Para ajudá-lo, Bill Bowerman - co-fundador da Nike e seu treinador - criou uma sapatilha com suporte no calcanhar que o ajudava nos desconfortos. "Assim aprendi a solucionar o problema dos outros, pois entendo as consequências de uma lesão", conta Tinker em entrevista ao documentário "Abstract", ao lembrar do episódio.
Com seu talento para o desenho percebido naturalmente e cursando arquitetura, Hatfield começou a fazer esboços de tênis para Bowerman ainda na faculdade. Com a interrupção na carreira atlética, Tinker desenvolveu um projeto para uma sapatilha de atletismo e, aos poucos, foi ganhando espaço em sua nova atividade na seara dos calçados, até que recebeu em suas mãos uma oportunidade chamada Air Jordan.
Hatfield, sujeito de olhar centrado e estilo próprio - frequentemente acompanhado por seu chapéu -, fez da relação com o então craque do Chicago Bulls, Michael Jordan, um modo de melhorar o trabalho nos calçados. "Tinker saltava com vara e eu praticava um esporte com muito salto, então foi fácil encontrar uma sinergia", diz Michael ao explicar a relação com o parceiro, em entrevista à Netflix.
A relação entre o jogador e a marca, no entanto, não estava tão boa nos últimos anos da década de 1980. De acordo com Hatfield, Jordan não havia gostado dos modelos anteriores e estava quase deixando a parceria com a Nike. A importância de lançar um tênis que resgatasse a satisfação do maior garoto-propaganda da empresa era mais do que necessário, e isso era uma das missões de Tinker Hatfield.
Após um longo período de desenhos e esboços no novo Air Jordan, viagens e rotina pesada para entregar o tênis, o designer conseguiu convencer o astro da NBA. De acordo com ele, tudo foi "uma correria, sem dormir por semanas e meses".
Mas valeu a pena. O jogador do Bulls começou a temporada usando o novo produto da Nike. Em um de seus saltos icônicos para enterrar a bola na cesta, o "Air Jordan III" está em seus pés. Em tom de brincadeira, Hatfield diz que acreditam que ele ajudou a salvar a Nike.
O designer, atualmente com 66 anos e um dos mais prestigiados do mundo na área, continua trabalhando no ramo que o consagrou. Em 2016 lançou o "AJ XXX", modelo que assina em parceria com Mark Smith. Hatfield também foi fundamental no desenvolvimento do "Air Max" - outro modelo de sucesso da Nike -, conhecido pela tecnologia de "cápsulas de ar" inseridas nos tênis para aumentar o conforto dos usuários.
Devido às possibilidades que o produto oferecia, tanto ao praticar atividades físicas como em situações casuais, não demorou para o "Max" se tornar outra sensação mundial.
Apesar de todo o sucesso e dos questionamentos sobre a 'arte' de seu trabalho, Hatfield é taxativo ao reforçar que seu desejo é apenas contribuir para o bem-estar dos clientes. "Não acho que seja arte. Minha percepção de arte é a maior autoexpressão de um indivíduo criativo. Para mim, como designer, o maior objetivo não é a autoexpressão. Meu objetivo é solucionar o problema das pessoas."
Sobre Rudiney Freitas
Apaixonado por livros, esportes, cinema, música, a vida e seus passageiros. No mundo do jornalismo porque gosta de se comunicar, até por sinal de fumaça.
[+] Artigos de Rudiney Freitas
Apaixonado por livros, esportes, cinema, música, a vida e seus passageiros. No mundo do jornalismo porque gosta de se comunicar, até por sinal de fumaça.
[+] Artigos de Rudiney Freitas