O que leva um homem ao isolamento?
Num século marcado pela interação social frequente, viver longe das pessoas pode parecer uma loucura. Por outro lado, as coisas nem sempre foram assim: grandes pensadores como Nietzsche e Aldous Huxley defendiam que a solidão é que desperta o homem do entretenimento para a realidade.
Em busca da abnegação, um médico renomado decidiu construir seu próprio retiro natural numa remota ilha finlandesa. Instalada num bosque de pinheiros à beira de um lago de águas avermelhadas por minerais, a casa de veraneiro de Dr. Petteri Knudsen, 48, prova que seu objetivo é mesmo abrir mão de boa parte dos confortos da vida moderna.
Diretor da farmacêutica GlaxoSmithKline na Finlândia, Knudsen vive e trabalha a cerca de duas horas e meia de carro ao sul da residência, em Helsinki. Segundo ele, em sua propriedade não há possibilidade nem mesmo de usar o celular.
Os poucos equipamentos elétricos que usa -- como lâmpadas e um rádio -- são alimentados por baterias, mas ele ainda conta com alguns painéis solares para captar parte da energia que necessita.
Aquecida por duas lareiras à lenha, a casa não possui água encanada. Além de tomar banho no lago, Knudsen preferiu ter um banheiro externo, porém não muito distante da residência.
CUSTO E CONSTRUÇÃO
Projetada por Ville Hara, arquiteto e ex-namorado do médico, a construção dos 74,32 m² da casa saiu por € 250 mil ( cerca de R$ 634 mil). Para suportar os invernos rigorosos da região, as obras tiveram ainda a colaboração de Anu Puustinen, do escritório de arquitetura Avanto, em Helsinki.
No terreno de cinco acres (2,02 hectares) adquirido por US$ 60 mil (cerda de R$ 114 mil) em 2007, a construção se eleva a cerca de um metro do chão sobre os pilares de concreto -- o que reduz os danos por conta da neve. Recheadas de linho para isolamento térmico, as paredes apoiam o telhado, por sua vez forrado comum material produzido a partir de jornais reciclados. Já as janelas, que vão do chão ao teto, receberam vidros duplos para isolar o local tanto térmica quanto acusticamente.
DECORAÇÃO
Embora siga uma linha clean com poucos itens, o interior do recanto de Knudsen foi meticulosamente mobiliado.
Um sofá acinzentado com desenho assinado por Harri Koskinen vem muito bem a calhar à mesa de centro feita por Hara, o ex-namorado, a partir de uma porta reaproveitada. O tapete de couro de vaca faz a ponte até a sala de jantar, que apresenta uma mesa feita com madeira bétula - da fábrica finlandesa Nikari. Sob a luz da a brilhante e esférica luminária "Satellite", criada por Louis Poulsen, é difícil imaginar que as cadeiras de madeira tenham sido “resgatadas do lixo”.
A casa ainda “esconde”, à direita da entrada, os únicos cômodos com portas: um closet e o quarto. Em seu interior, luminárias da Ikea exibem uma cama de segunda-mão comprada na Hästens e uma cadeira "butterfly" (borboleta), popularmente conhecida como “cadeira morcego” na Finlândia.
LUXO TRADICIONAL
A parte mais moderna da casa também é a mais antiga: a sauna. Knudsen cumpre o ritual tradicional na Finlândia e aproveita o vapor quente e úmido, para, em seguida, mergulhar no lago.
Montada a partir de uma estrutura de 24 m², a instalação feita de madeira de pinheiros abriga uma sala de vapor e outra para hóspedes. Sua construção custou US$ 65 mil (R$ 123 mil).
No entanto, para Knudsen o que há de mais agradável em sua casa de veraneio é a presença da floresta densa por todos os lados. Por conta das janelas amplas, você tem a nítida impressão de que "o interior e o exterior tornam-se um".
