Se antigamente a reunião de amigos envolvia apenas cerveja, futebol e truco, hoje uma nova moda está dominando a tradicional roda mensal ou semanal masculina: o pôquer. Tradição tipicamente norte-americana que desembarcou no Brasil e não demorou muito a criar raízes, o Texas Hold'em já virou para alguns até mesmo uma ótima fonte de renda. Caso de Caio Pessagno, bicampeão (2010 e 2011) e atual primeiro colocado no Ranking Brasileiro SuperPoker. É ele quem conta o caminho das pedras para os amadores que pensam em se profissionalizar e as dicas para os entusiastas da nova mania.
AreaH: Como você começou sua carreira?
Caio Pessagno: Em 2006 tudo começou. Meu primeiro contato com o Pôquer foi na casa de amigos, jogando por hobby, brincadeira. Aos poucos comecei a pesquisar sobre o esporte e descobri um mundo de informações, descobri pessoas que viviam regularmente disso. Então pensei: ''se eles conseguem eu também posso''. E com o tempo essa ideia foi evoluindo, o Pôquer no Brasil foi crescendo e minha dedicação foi aumentando cada vez mais.
AH: Quando percebeu que era possível ganhar dinheiro com ela?
CP: Comecei a me destacar entre 2009 e 2010 e aí ganhei o respeito da família e amigos, que até então não encaravam meu trabalho como profissão. Esse reconhecimento foi muito importante para continuar a seguir o caminho que havia traçado, e claro quando os resultados aparecem e tudo fica mais tranquilo!
AH: O que tornou o Pôquer tão popular em tão pouco tempo?
CP: Poker é um esporte muito sociável, da mesma forma que eu comecei na brincadeira e me tornei um "pró", a maioria das pessoas fica apenas na brincadeira e consegue levar o esporte como um hobby pro resto da vida! Conheço muitos grupos de amigos que se reúnem semanalmente para papear e jogar um bom poquerzinho.
AH: Como é sua rotina de jogador de pôquer?
CP: Me considero um jogador muito disciplinado e a rotina do jogador exige muito do corpo e mente. Não é apenas ficar sentado em uma cadeira por 12 a 15 horas, o esforço mental é tão grande que quando você termina uma sessão parece que correu uma maratona de tão cansado que seu corpo e mente ficam. Para aguentar essa rotina pesada de trabalho eu acordo entre 10 e 11 horas da manhã, faço exercícios físicos, tipo musculação e corrida com meu personal trainer e primo Albert Pessagno, o "Betão", e só às 14h inicio a sessão. Acho muito importante a preparação física antes da sessão. Há pessoas que acham besteira, mas isso ajuda muito a manter a saúde mental em dia, na concentração e no desgaste físico que você acaba tendo... a longo prazo com certeza os pequenos detalhes farão diferença.
AH: Quantas horas diárias e dias por semana?
CP: Normalmente esta sessão vai até as 24h, podendo se estender no máximo até umas 3h da manhã. As horas diárias dependem de como vai ser o decorrer da sessão. Quando pego um dia bom eu jogo o máximo que posso, já que nesta profissão os dias bons são minoria perto dos dias ruins. Com isso temos que aproveitar o máximo aquele dia em que o jogo está encaixando, as coisas fluem naturalmente. E ao contrário do que muitas pessoas pensam não fui eu que escolhi esses horários meio malucos, temos que nos ajustar a grade de torneios dos gringos, por isso temos que fazer mais ou menos esse horário de trabalho. Não é porque somos vagabundos e gostamos de acordar tarde!
AH: Com que frequência você joga torneios presenciais além dos online?
CP: É complicado manter uma rotina de online e live, e como hoje eu respiro a rotina do online tenho me dedicado menos ao circuito live, no qual a rotina requer muito tempo, pois você sempre tem que viajar e os torneios duram pelo menos 3 dias, mais 1 ou 2 dias que você perde no deslocamento. Ou seja, acaba sendo praticamente uma semana a menos no mês jogando apenas um torneio. E para quem vive do online é muito tempo uma semana no mês! Com isso eu jogo muito menos live do que online. Em um dia online eu consigo jogar até 200 torneios. No circuito live eu jogo um torneio dentro de um final de semana, ou seja, a diferença de volume é muito grande!
AH: Quais os torneios online e presenciais que você mais curte?
CP: Esse ano joguei e irei jogar outras etapas do evento MasterMindsPoker.com.br no qual fui nomeado como uma mente brilhante para representar o Pôquer como um esporte da mente. Pretendo também participar do WSOP em Vegas no meio do ano além de jogar o LAPT - Latin American Poker Tour e BSOP - Brazilian Series of Poker. Também estou aberto a convites para jogar os torneios do interior, torneios dos quais sou muito fã pelo clima do evento, rever os amigos, etc.
AH: Sabe-se que isso varia muito de jogador para jogador, mas qual é sua dica para tentar pegar um blefe de um adversário e para jogar um blefe efetivo nos rivais?
CP: Eu tento sempre entrar na mente do meu oponente. O primeiro passo é acompanhar de perto cada movimento dos adversários, tentar entender como ele se porta nas diversas situações. A partir dessas análises é possível identificar algumas falhas, erros dos oponentes. E é nesta hora que você vai conseguir pegar seu adversário blefando. Ou você mesmo pode aplicar este blefe, mas essa parte é muito complexa e já envolve técnicas avançadas do jogo. Enfim, é preciso muita prática para conseguir chegar em um nível desse. Eu gosto bastante de rever meus torneios depois, você consegue aprender com os erros e sempre seguir em frente!
AH: Existe algum tipo de treinamento psicológico ou de costume mesmo para se tornar um jogador que não revele seus sentimentos em um jogo presencial?
CP: A psicologia no jogo é um fator extremamente importante. Tudo depende da sua mente. O Pôquer é puro sentimento e na maioria das vezes ruim. Você aprende a lidar com frustrações diárias, o que acaba calejando e consequentemente te torna um jogador melhor. Todos os jogadores de sucesso que conheço não se deixam abalar por derrotas e continuam trabalhando sério em busca dos resultados. Controlar a sua própria mente para tomar as decisões corretas nos momentos certos é o grande desafio. Não se pode deixar ser influenciado pelo fator emocional, jogador tem que ser muito mais racional.
AH: Quais são seus ídolos no esporte e por quais feitos você os admira?
CP: Bom vou falar de alguns brazucas e depois os gringos: Andre Akkari, não só pelo jogo, o cara é campeão do mundo e luta demais pelo esporte no Brasil; Igor Federal, um dos precursores, tem muita experiência e é o nosso presidente da Confederação, responsável pela legalização do esporte no Brasil; CK e Raul, os primeiros que vi jogar, dispensam apresentações; Tiago Decano, por ser um jogador completo, mega winner online e live há muito tempo; e Ariel Bahia, nova geração, meu amigo pessoal e gênio do baralho! Quanto aos gringos, admiro muitos. Os três primeiros que me veem à cabeça, justamente pelo volume muito alto, mantendo um ROI (sigla inglesa para Retorno sobre investimento) excepcional e variância baixa: dean23price, inheritance e bfizz11.
Para quem se interessou pelo esporte, que é sim capaz de pagar boas quantias a jogadores profissionais, Caio dá aulas e ensina as técnicas mais avançadas através de seu Programa de Coach Cavalos do Pessagno. Os interessados podem entrar em contato com o jogador através de seu Site Oficial, de seu Blog ou ainda pelo Twitter.