O tempo passa e (quase) tudo muda. Seja no design dos carros, nas músicas que fazem sucesso com as novas gerações, mas principalmente na forma de expressão dos jovens, "morou"? E foi com esta infindável e interessante matéria-prima que o jornalista e escritor Alberto Villas criou o "Pequeno dicionário brasileiro da língua morta", um grande presente à memória da linguagem coloquial das gerações passadas e uma fonte quase inesgotável desta antiga cultura informal às novas gerações.
"Não houve uma ideia fundamental para escrever este livro. Eu comecei a observar, pois tenho filhas bem jovens e às vezes quando estou conversando com elas e uso uma palavra do meu tempo, elas sempre me perguntam: 'pai, que palavra é essa?'. Então, como sou colecionador de revistas, comecei a usar algumas delas como fonte para anotar estas palavras", explica o criador da obra.
Ao todo são mais de 900 verbetes divididos em minicrônicas que explicam o significado destas palavras e exemplos de seus usos à época. Para quem conhece outras edições de Villas, tais como "Admirável Mundo Velho", no qual o autor enumera expressões que caíram em desuso, ou "O mundo acabou!", best-seller que reúne um inventário de produtos, marcas e objetos do passado, seu lançamento segue a mesma linha.
E assim como frases clássicas do tempo da onça, como "tirar uma casquinha", "com a pulga atrás da orelha" ou "tomei um chá de cadeira", Villas revelou o AreaH dez dessas palavras ou expressões que caíram em desuso, mudaram de sentido ou que voltam à moda nos últimos tempos. "Tenho feito meus livros com o pensamento de não fazer desaparecer estas expressões", confessa Villas. Então, vire a página e relembre-as.
Achei um abacaxi: Assim como "tenho um abacaxi para resolver", este termo também é pejorativo. Quando alguém não gostava de alguma coisa (como um filme ou uma música), não falava que tinha achado uma porcaria, mas sim um abacaxi. Vai entender.
Macaca de auditório: Esta é bem antiga, mas fácil de ser desvendada. Macaca de auditório nada mais é que a tiete de algum programa de televisão (como ao estilo Silvio Santos) ou de um artista. Não sabe o que é tiete? É uma espécie de fã.
Tirar uma Abreugrafia: "Certa vez eu estava em um hospital e perguntei onde poderia tirar uma Abreugrafia. A moça não soube me dizer!", lembra Villas. Pudera, é que a Abreugrafia era como se chamava o Raio-X pulmonar. Sabia dessa?
Mulher de balaio grande: Se você está pensando que é desse tipo de mulher que o Ronaldo Fenômeno gosta, você está errado! O balaio não é esse que você está pensando. Balaio é a gíria de bunda mesmo. "Hoje seria a Mulher Melancia", brinca.
Chame a Assistência: Acalme-se, a TV não quebrou! Hoje em dia, um jovem jamais conseguiria decifrar esta expressão, muito comum antigamente. Isso porque Assistência era uma forma muito comum de se referir a Ambulância.
Jogo irradiado: Nada além de um jogo com transmissão de TV ou rádio. Como antes o rádio era o veículo mais comum para se ouvir uma partida, o termo era bem comum, hoje substituído pelo televisionado. Os portugueses ainda usam esta palavra, mas com um significado bem diferente. Um jogador irradiado seria um jogador afastado.
A festa gorou: Para explicar melhor esta, só com a gíria da atualidade: miou. Antigamente quando alguma festa, encontro e reunião tinham sido desmarcadas ou postergadas, era com esta "gíria" que as pessoas se comunicavam.
Preciso transar hoje: Pornográfico? Nem um pouco. Na onda hippie a gíria “transa” não tinha o sentido que tem hoje. Transar era algo como fazer, pensar, refletir, escrever. Enfim, entrar em transe. Já hoje, não é preciso nem dizer nada.
Sentou no tamborete: Mais uma que poderia muito bem ser levada para o mal sentido hoje em dia. Mas, no passado não era nada mais normal que sentar em um tamborete – nada mais que um banquinho.
Hoje cai o ordenado: Não, o “ordenado” em questão não é nenhum Ministro no Governo Dilma. Ordenado nada mais é que um sinônimo de remuneração ou salário. Tim Maia bem disse sobre isso em uma canção: "O meu ordenado é pouco, desse jeito eu acabo louco!
Título: Pequeno dicionário brasileiro da língua morta
Autor: Alberto Villas
Editora: Globo
Páginas: 304
Formato: 16cm x 23cm
Preço: R$39,90