Criado na idade média por monges escoceses, o uísque, acreditem se quiser, surgiu para ser usado para fins medicinais. É evidente que a ideia não deu certo e a bebida cresceu e se tornou uma das mais tradicionais do mundo. Ao falar sobre uísque, logo se pensa nos clássicos fabricados na Escócia, dentre eles Johnnie Walker (chamados de scotch) ou nos de sabor forte vindos do Tennessee (EUA), como o inconfundível Jack Daniel's.
Pode até causar surpresa para alguns, mas os japoneses também entendem de uísque e são um dos produtores mais antigos da bebida no mundo. "O Japão tornou-se um dos primeiros países produtores e consumidores de uísque do mundo. A origem do uísque japonês passa, necessariamente, por dois homens: Masataka Taketsuru e Shinjiro Torii, fundador da sociedade Suntory," explica o sommelier Adriano Dias.
Pois a Suntory, tradicional fabricante de bebidas japonesa, fundada em 1899 na cidade de Osaka, resolveu entrar com força total no mercado e lançou três modelos de uísque que prometem acabar com a fama de que japonês só entende de saquê.
A bebida
Com festas pomposas de lançamento na emergente Índia e também na cidade de Londres, a empresa mostrou ao mundo três novas criações: Yamazaki, líder do mercado dos uísques de malte no Japão; Hakushu, com uma textura verde, a bebida tem um sabor refrescante e é ideal para as refeições; Hibiki 30 anos, eleito o Melhor Blended do mundo.
Para os que acham estranho saborear um bom uísque junto com as refeições, Adriano garante que a experiência é muito prazerosa.
"Ao contrário do que muitos pensam, o uísque é uma bebida que pode sim ser harmonizada com comida e, na verdade, poucos conhecem sua versatilidade. O movimento de harmonização de uísque com comida é recente, mas vem crescendo em paralelo com a popularização dos uísques do tipo Single Malt, que possibilitam uma variedade maior de harmonizações, por serem mais intensos e ricos em sabores do que os do tipo Blended," diz o sommelier.
De acordo com os desenvolvedores da bebida, um dos principais objetivos é aliar o sabor do uísque com a culinária japonesa, que por sinal é bem mais leve do que a brasileira. Na mesa, é possível combinar o uísque com saladas, comidas apimentadas, frutos do mar, sobremesas e até chocolate.
"Pode-se harmonizar uísque com pratos que vão da entrada às sobremesas. Eles apresentam, normalmente, sabores tostados de café, turfa queimada, amêndoas, nozes, canela, baunilha, chocolate, especiarias, caramelo e frutas cítricas. Dessa forma, todos os pratos que combinam com esses sabores são candidatos à harmonização," conta Adriano.
Para quem ficou curioso, experimente tentar combinações com queijos, castanhas, salmão e claro, o chocolate. "Talvez não exista bebida que combine melhor com chocolate que uísque," comenta Adriano Dias.
Responsável pela marca, Eric Ariyoshi afirma que o grande segredo de seus produtos é a suavidade, ao contrário de muitas das marcas tradicionais. Adriano explica que os consumidores procuram justamente pelos sabores mais leves.
"Os uísques japoneses possuem como característica típica um sabor mais suave, justamente para se harmonizarem de uma melhor forma com a gastronomia e com os hábitos alimentares do Japão. O produto japonês se assemelha bastante ao uísque escocês. Esta suavidade e a qualidade dos aromas encontrados na bebida japonesa garantem uma bebida agradável e acessível ao paladar mundial. Devemos, ainda, levar em conta que a suavidade no sabor do uísque é buscada pela maioria dos seus consumidores e, muitas vezes, tal suavidade, assim como uma maior complexidade da bebida, só é alcançada com seu envelhecimento, características tais que o uísque do Japão pode fornecer sem maiores dificuldades."
No Brasil
Por aqui, os uísques são famosos por seus altos preços, especialmente os conservados há mais tempo. A conta é simples, quanto mais velho, mais caro será o uísque. O Yamazaki 1984, por exemplo, custa cerca de 100 mil ienes (ou 2 mil reais). Uma das justificativas é o tipo de material usado para conservar o produto. Ao todo são três tipos de carvalho: o americano, espanhol e o japonês mizunara. Mas fique calmo, pois o Hibiki 12 anos está sendo vendido em média por 150 reais.
Em média, os valores são bem parecidos com os mais 'clássicos'. Uma garrafa de Jack Daniel's, por exemplo, não sai por menos de 90 reais. Os mais requintados como o Green Label, da Johnnie Walker, envelhecido por no mínimo 15 anos, é encontrado por até 250 reais.
"Durante o processo de maturação, o carvalho ajuda a retirar compostos de enxofre não desejados do uísque, além de fornecer taninos, sabores e aromas. Em termos de adição de sabores durante a maturação, como regra geral o carvalho americano fornece sabores e aromas de avelã, baunilha, canela, caramelo, castanhas, gengibre e mel.
Ao passo que o carvalho europeu contribui principalmente com sabores e aromas de figo, frutas cristalizadas, frutas secas, laranja, noz-moscada, panetone e passas. Já o mizunara dá suavidade e notas picantes, que lembra o incenso," diz.
Os interessados em adquirir um dos três vão precisar importar, já que ainda não é possível comprar um destes por aqui.