Tenho o hábito de entrar em livrarias pelo menos uma vez por semana para olhar novidades e garimpar. Nem sempre saio com algum livro, mas gosto de percorrer estantes, ver capas, ler lombadas de edições, abrir, sentir o cheiro das páginas e da tinta. E também gosto de descobrir por acaso autores e livros, sem qualquer tipo de preconceito. Tenho até um método para isso: abro um livro aleatoriamente e leio a primeira página. Se o autor me fisgar pela abertura, quase sempre acabo levando para casa.
Há alguns dias abri um livro e fiquei chocado com a descrição de uma cena: uma mulher sendo violentada num tribunal cheio de homens durante um julgamento – sem ninguém se incomodar com isso. Não consegui parar de ler e avancei várias páginas na loja mesmo. Acabei passando no caixa com Clímax, o novo livro de Chuck Palahniuk, o autor de Clube da Luta.
Como em Clube da Luta, que virou filme e teve seu principal personagem, Tyler Durden, interpretado no cinema por Brad Pitt, Clímax é um soco no estômago, uma surpresa atrás da outra. Se você, homem, já fica bem aborrecido e estressado quando sua namorada ou mulher cogita lhe punir com um período de “greve de sexo” por causa de uma discussãozinha, imagine se isso fosse definitivo. Palahniuk foi além.
O personagem central do livro é o megabilionário da indústria de tecnologia C. Linus Maxwell, ou ClíMax, conhecido mundialmente por manter casos com as mulheres mais lindas e desejadas do planeta – de atrizes de cinema a chefes de Estado. Surpreendentemente, ele se interessa por Penny Harrigan, uma garota normal do interior dos Estados Unidos que trabalha num escritório de advocacia de Nova York.
Penny vê sua vida se transformar: passa a jantar em restaurantes elegantes e caros, viaja com frequência para Paris, aparece nos noticiários e colunas de fofoca. Vira assunto. Também acaba envolvida numa experiência que vai mudar o rumo da humanidade. Maxwell a usa como cobaia de produtos e brinquedos sexuais que pretende lançar em breve, uma linha chamada Beautiful You (este é o nome do livro em inglês).
A proposta de C. Linus Maxwell é transformar radicalmente o prazer, e ele consegue. Quando lança seus produtos, milhares de mulheres no mundo ficam viciadas em masturbação – assim como acontece com drogas como cocaína ou crack. Elas compram vibradores, géis e outros itens eróticos de alta tecnologia e se trancam em seus quartos para nunca mais sair. As ruas ficam tomadas por homens solitários, desolados. E as mulheres, que antes acreditavam terem, finalmente, alcançado a independência (de nunca mais precisarem de um homem para nada mesmo), tornam-se na verdade escravas do prazer – TODAS ELAS, exceto uma.
Palahniuk descreve cenas de sexo com riqueza de detalhes. Faz uma narrativa de erotismo moderna, que põe qualquer 50 Tons de Cinza no chinelo. Critica o preconceito, satiriza o marketing, a indústria da moda e da autoajuda, assim como a fama e a ciência. Seu personagem boa pinta conhece e domina todas as artes do sexo, graças a um longo “estágio” que fez com uma anciã no Himalaia.
Maxwell é uma pessoa manipuladora, que destila ódio contra as mulheres e mesmo contra os homens. Quer, sim, dominar – literalmente – as pessoas pelo seu ponto mais fraco: o prazer.
E talvez consiga (não vou dar spoilers aqui). Só acho que Clímax é um livro que todo homem deveria ler.
Ficha Técnica:
Clímax, de Chuck Palahniuk
Editora Leya
224 páginas
R$ 39,90
Avaliação: BOM
Sobre Marcelo Ventura
Sócio e editor do AreaH, é jornalista e tem mais de 20 anos de correria em grandes redações. Hoje prefere correr em ruas e parques. Gosta de ler e de vinhos, mas não dispensa uma série na TV ou uma cerveja.
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