Além de acordar com uma banda de axé music dentro da cabeça e sem conseguir abrir os olhos, o uísque falso tem muitos outros reflexos no day after. Um bom scotch tem a mesma cara que um mau scotch, caro leitor, mas para nos ajudar a detectar este "crime" contra a nossa paixão engarrafada, convidamos o expert colecionador de uísques Alexandre Campos, também proprietário da Single Malt Brasil, com formação avançada em destilados pela WSET de Londres. Sim, pode invejar. Ele manja mesmo.
Antes de dar as dicas para reconhecer a bebida adulterada, Alexandre sacramenta: "Bebidas falsificadas representam, acima de tudo, um risco à saúde. O álcool metílico (metanol), por exemplo, advindo de um processo de destilação mal feita, quando ingerido, pode causar sérias intoxicações, cegueira permanente e inclusive a morte."
Assustou? Pois é, o assunto autenticidade de um uísque é recheado de folclores e lendas urbanas. Não é raro escutarmos os famosos testes de sacudir a garrafa para checar as bolhas, ou tocar a garrafa com caneta para se verificar o som produzido, todos grandes bobagens em termos de atestarmos se um uísque é falso ou não.
E como evitar e conhecer um uísque falso? Em restaurantes e bares, por exemplo, a única forma confiável é conhecer em detalhes os sabores e aromas do uísque que estamos escolhendo. Um Johnnie Walker Black Label ou Double Black têm que apresentar notas enfumaçadas e defumadas. Já um Chivas tem que ser frutado com notas de figo, panetone e baunilha. Do contrário, estamos falando de uma falsificação.
Alguns estabelecimentos, entretanto, tornam nossa tarefa ainda mais difícil ao servir a bebida com bastante gelo mascarando, portanto, seus sabores e aromas, de forma que não possamos distinguir o que é original do que é falso. Mas normalmente esses uísques apresentam aromas pronunciados de álcool, solvente e resina, já que o destilado falsificado não passou por um processo de envelhecimento em barris de carvalho.
Quando estiver comprando seu uísque em lojas ou supermercados, existem duas formas de se proteger contra os falsificados comercializados no Brasil:
1 - Exigir o selo de recolhimento de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) na tampa de suas garrafas. O lacre da Receita Federal confirma que a bebida foi importada corretamente já que a selagem ocorre junto ao produtor no exterior, garantindo, portanto, a procedência da bebida. E o selo não serve apenas para as bebidas importadas, mas para lacrar as nacionais também. Do contrário, você estará comprando uma bebida clandestina e de procedência duvidosa.
2 - Verificar as informações em português do importador e distribuidor brasileiro nas garrafas.
Uísques mais comuns são falsificados usando-se garrafas originais vazias e enchidas com bebidas mais baratas, mas no Brasil essa ocorrência é menor entre os blends mais caros. O problema da adulteração dos mais caros se dá entre nossos países vizinhos, que fornecem os single malts e blendeds premium piratas e adulterados ao mercado brasileiro.
Lembre-se, conheça mais o perfil do seu uísque preferido em bares e restaurantes e exija sempre o selo do IPI e as informações em português do importador e distribuidor brasileiro nas garrafas! E denuncie a Receita Federal caso seja enganado e receba um produto sem essas informações.