No milionário mundo das lutas, poucos são os atletas que podem se vangloriar por nunca terem, ao menos uma vez, beijado a lona. Mas, a verdade seja dita: luta sem nocaute é igual futebol sem gol, fica aquele sentimento de que faltou o clímax. E quem gosta de esportes de lutas sabe muito bem que os nocautes que marcam de verdade a memória não são só aqueles que deixam marcas de sangue ou um lutador qualquer estatelado no chão: é preciso que seja a queda de uma lenda. Afinal, cair (quase) todo mundo um dia cai, mas não se levantar mais é um fato para a história.
Há mais de dois anos os fãs do boxe aguardam ansiosos pela luta que promete ser a do século: Manny Pacquiao VS Floyd Mayweather Jr. Mas, enquanto ela não acontece, a luta entre o inglês Ricky Hatton e o invicto "Pretty Boy" Mayweather serviu para dar uma movimentada no esporte. No momento ambos estavam invictos – por isso o embate ganhou a alcunha de "Undefeated". O duelo acabou no décimo round com uma grande vitória de Mayweather em um incrível nocaute, mas para instigar ainda mais a rivalidade entre o americano e o filipino, o inglês ficaria também diante de Pacquiao, mas não por muito tempo: em apenas dois rounds, um massacre e um nocaute de literalmente deixar Hatton de queixo caído.
Por falar em grandes tijoladas do boxe, quem não se lembra de um nocaute histórico que marcou o boxe brasileiro? O ano era 1999 e Acelino Popó Freitas chegava à sua primeira grande decisão de cinturão (o WBO na categoria super-penas) com um cartel invejável de 20 vitórias (todas por nocaute) e nenhuma derrota. Já seu adversário estava próximo do fim de sua carreira, mas "havia sido" até aquele momento apenas um bom lutador (35-4). Acontece que em menos de meio round Popó colocou sua violência característica para rodar e o cazaque para beijar a lona – ao estilo Tyson, a luta não durou sequer três minutos. Da mesma forma que os nocautes são importantes para marcar o fim de carreiras, também marcam o início de outras.
8 – Evander Holyfield KO Adilson Maguila
Infelizmente hoje em dia muitos são os que tiram sarro das derrotas de Adilson Rodrigues, nosso eterno Maguila, para as lendas Holyfield e Foreman, mas se esquecem que só mitos como Lennox e Ali foram capazes de derrubarem estes grandes pugilistas. Além disso, Maguila já com 37 lutas no cartel, não vivia mais seu auge apesar de ter à época apenas duas derrotas como profissional, enquanto do outro lado, um Holyfield invicto, jovem e já campeão. Desculpas dadas, o nocaute daquele embate foi um dos mais violentos já registrados em disputas de título entre os pesos-pesado. Maguila estava muito bem na luta e ao menos parecia que ela iria mais longe do que se pensava. Mas, no 2º round Maguila levaria uma direita que nem uma parede suportaria.
E o rei dos nocautes de primeiro assalto não poderia ficar de fora da lista, ao menos uma vez, como protagonista. Foram muitos nocautes em sua carreira (44, e exatamente metade deles no primeiro assalto, uma marca assombrosa). Mas, o escolhido da vez se destaca por vários motivos: foi um dos mais violentos de todos eles, foi o último de sua vida (em 2003) e foi como manda o figurino, logo no primeiro assalto. Além disso, Clifford Etienne era um bom lutador, até ter sua carreira encerrada por um ótimo motivo: cumprir uma pena de 150 anos.
Oscar de la Hoya já havia feito história ao vencer por nocaute técnico uma das grandes lendas da História do boxe, Julio César Chávez. E desde então, dono de um grande talento e potência na canhota, sua carreira caminhava para uma grande hegemonia. Em 1999 ele até perderia sua primeira para um excelente pugilista, Félix Trinidad, mas por pontos, fato que se repetiu em 2000 e 2003 para Shane Mosley. Eis que em 2004 viria em seu caminho: Bernard Hopkins. Uma mão tão pesada que o primeiro nocaute não veio sequer de um tiro no rosto, mas sim na boca do estômago.
5 – Muhammad Ali KO Joe Frazier
Em 1971, Ali e Frazier se enfrentaram pela primeira vez. Naquela época ambos estavam invictos, um prato cheio para o marketing do embate, que logo classificaria a luta como The Fight of the Century (ou a Luta do Século). Para Ali, aquela que seria sua primeira luta de título depois de um hiato em sua carreira foi uma má lembrança: derrota por pontos. Três anos mais tarde a revanche estava marcada e veio o empate no duelo com uma vitória de Ali, também por pontos. Era hora de marcar então a luta que desempataria o entrevero. Seu nome: The Thrilla in Manilla. A luta estava parelha, com pequena vantagem crescente para Frazier, que parecia se aproveitar do cansaço de Ali. Mas, Ali é Ali: nada mais que uma armadilha. Eis que no décimo quarto assalto (a luta estava programada pra até o décimo quinto), Ali coloca suas manguinhas de fora e decide por resolver a parada logo, tirando energias de dentro da cartola. Frazier não chega a cair, mas passa metade do round balançando. Então, vendo que Frazier não suportaria o tranco do último assalto, sua equipe jogou a toalha. Ali agradeceu: um derby vencido por 2 a 1 com gol pra lá dos 49 minutos do 2º tempo.
Impossível não fazer uma seleção de melhores nocautes sem incluir ao menos um de uma lenda chamada Lennox Lewis, capaz de "apagar" do mapa alguns bichos papões do pesos-pesados nos anos 90 e 2000 com incrível classe (com ou sem nocaute), tais como Evander Holyfield, Francois Botha, David Tua, Mike Tyson e Vitali Klitschko. Mas, sem dúvidas seu triunfo na revanche com o único que conseguiu colocá-lo no chão seria um nocaute inesquecível. Em abril de 2001, Hasim Rahman era um dos grandes do meio, ainda que sem grandes títulos na carreira a não ser na WBU (World Boxing Union), um conselho menor. Veio então o desafio a um monstro. Lewis era dono dos cinturões WBC, IBF e IBO, três dos quatro principais da categoria. Um belo nocaute, sim, mas não tanto quanto o que ele sofreria alguns meses depois, na revanche marcada para novembro de 2001. Uma verdadeira pancada para não deixar dúvidas de que os cinturões voltariam para o lugar certo.
3 - Rocky Marciano KO Joe Louis
Para muitos fãs de boxe, Rocky Marciano foi o maior lutador de boxe de todos os tempos. Nunca o ítalo-americano beijaria a lona e manteve até o fim da vida um cartel impecável de 49-0, sendo 43 nocautes. Mas, naquela noite, do outro lado estaria outro Rei dos nocautes, um dos grandes boxeadores já vistos de todos os tempos: Joe Louis, que apesar de já estar mais perto do fim de sua carreira, não estava longe de seu auge. Seu cartel era de 68 vitórias (54 delas por nocaute, e apenas duas derrotas). Um embate digno de parar o mundo. Mas, quando todos esperavam uma luta absolutamente parelha e que terminaria nos pontos, eis que Marciano arranca no oitavo assalto um coelho da cartola ou, se você preferir, dois coelhos: o primeiro de esquerda, derrubando Louis pela primeira vez, que se levanta, tenta voltar à luta, mas sofre a segunda queda, agora com um potente golpe de direita de Marciano. Sem dúvida um dos mais importantes e emblemáticos nocautes da história do boxe.
Muitos dizem que Mike Tyson nunca mais foi o mesmo depois do primeiro embate com Evander Holyfield, uma luta histórica realizada em 1996. Mas, a verdade é que naquela luta, uma vitória incontestável de Holyfield por nocaute técnico, Tyson já demonstrava que não era o mesmo havia algum tempo: seis anos para ser mais exato. Afinal, nem Holyfield conseguiu um nocaute efetivo em Tyson como um verdadeiro azarão chamado James Douglas. O desafiante de Tyson nem era um lutador ruim, mas em tempos de Holyfield e Tyson, ele era só um coadjuvante (para outros apenas um aquecimento para a luta que todos realmente esperavam assistir). Mas no décimo assalto, o então invicto cartel de 37-0 de "Iron Mike" teria sua primeira e inesperada mancha. Mesmo irreconhecível, Tyson se deixou ser dominado por Douglas, e ainda que tenha sido derrubado uma vez (o que teria acabado com a luta), o azarão enfiou a mão com gosto na fuça do então campeão, que desmoronou feito uma panqueca. Aquele foi, sem dúvidas, o princípio do fim de um lutador que parecia não conhecer limites, mas que se afundou.
1 - Muhammad Ali KO George Foreman
Não houve (e talvez não haja) uma luta de boxe igual à lendária e épica The Rumble in the Jungle. E, como se não bastasse ter sido um marco para a história do esporte, aquela luta terminaria com um improvável nocaute de Ali no então invicto (e no auge da forma física) George Foreman, dono de um cartel de 40-0 naquela altura do campeonato. Para se ter uma ideia da importância do nocaute daquela noite, ele seria o único que determinaria uma derrota de Foreman em mais de 25 anos de carreira (de 1969 a 1997). Mesmo em seu auge, nem Holyfield conseguiria tal feito, tendo vencido o bom velhinho das grelhas saudáveis somente nos pontos. E como Ali teria alcançado tal êxito? Com uma tática bastante arriscada e incomum: deixar o adversário bater a vontade, até cansar. Então, no nono assalto, foi só assoprar Foreman para que ele desmoronasse e beijasse a lona pela primeira e única vez. Provas da incrível capacidade de Ali dentro do ringue.