Desde que a imprensa internacional divulgou seus primeiros artigos a respeito de um estudo realizado pela Universidade de Auckland sobre os benefícios à saúde do consumo moderado do vinho, tem sido cada vez mais comum encontrar cardiologistas que recomendam as famosas duas taças diárias da bebida a seus pacientes. Mas, isso não quer dizer que esta discussão que nasceu polêmica há quase dez anos atrás (mesmo na classe médica) esteja resolvida.
Se de um lado estão resveratrol, substância do vinho tinto que está sendo ligada à redução de LDL (mau colesterol), dos riscos de doenças cardiovasculares e até de alguns tipos de câncer (como o de próstata) e os flavonóides, antioxidantes e, em tese, protetores das células contra a ação dos radicais livres, há do outro lado desta questão o álcool, substância considerada pela própria classe médica como uma das catalisadoras de incontáveis males à saúde.
É preciso compreender o que cada corrente defende sobre uma das bebidas que mais cresce em consumo ao redor do mundo (e muito forte em alguns de nossos vizinhos sulamericanos). "Não existem duas verdades. O texto produzido pelos neozelandeses não é uma tese, mas sim apenas uma hipótese, porém, tão desaconselhável como recomendar bebidas alcoólicas para todas as pessoas é promover a abstinência. No ato de beber existem riscos e benefícios que devem ser avaliados para cada pessoa", explica o cardiologista Jairo Monson de Souza Filho.
Jairo também aponta que existem hoje evidências científicas de que a ingestão moderada de bebidas alcoólicas é benéfica para a saúde do homem (em particular o vinho devido a suas propriedades e substâncias específicas), porém, evidentemente apenas por quem não tenha contra-indicações ao seu uso. Em contrapartida, é quase unânime entre os médicos que o consumo prolongado da substância (ainda mais se em excesso), é muito prejudicial à saúde.
Entre os cardiologistas, principalmente no Brasil, a grande maioria recomenda a bebida, fato enfatizado nos últimos congressos nacionais da categoria - em especial o vinho tinto, uma vez que boa parte destas substâncias benéficas está na casca da uva (macerada no processo de produção apenas do tinto, dando sua coloração característica).
Os perigos estão no excesso
"O uso prolongado e excessivo de álcool promove uma diminuição da massa do cérebro, que fica mais leve e encolhido do que o cérebro de pessoas sem história de alcoolismo, acarretando na perda de funções intelectuais superiores como o raciocínio, capacidade de abstração de conceitos e lógica, além de afetar a memória e a coordenação motora", aponta o psicólogo Paulo César Ribeiro.
Mais recentemente, estudos de países como Estados Unidos, Inglaterra, França e Dinamarca apontaram que o consumo moderado da bebida reduziu em até 35% o risco de desenvolvimento de doenças ligadas ao coração. Outros vão além e apontam propriedades na bebida capazes de combater câncer e até mesmo o envelhecimento – tudo em função do tal resveratrol. Seria o vinho então um elixir da longa vida, uma panacea? Esse tipo de certeza ainda não é possível de se garantir, mas as chances são muito grandes de que o prazer do bom vinho acompanha sim inúmeros benefícios à saúde.