O UFC 183 marcou a volta de Anderson Silva aos octógonos. E o que a gente queria? Aquele nocaute tão certeiro e potente que o adversário não teria nem tempo de suar. Ocorre que o oponente da lenda Spider não deixou que se filmasse uma briga de porta de colégio.
Nick Dias tem uma marca: a de nunca ter sido nocauteado na carreira. Anderson um objetivo: voltar aos "palcos" com um espetáculo digno de muitos aplausos no final. De igual ambos são profissionais que trabalham literalmente guerreando. Sangue no chão, corte na cara, galo na cabeça, perna quebrada, destroços humanos.
Os espetáculos de lutas de gladiadores empolgavam as platéias da Roma Antiga, trocamos os leões por seres humanos e seguimos cultivando o prazer pela violência física. Estranho, não?
O divertimento sanguinário com violência realista apenas endossa nosso caráter selvagem. Guardadas às devidas proporções, quando a população pega um criminoso no meio da rua e resolve fazer justiça com as próprias mãos a grande maioria vai à êxtase. Hummm...
Outra coisa que pós-luta me chamou muita atenção: despertar a humanidade para o reconhecimento do mérito. Anderson era o grande favorito do UFC 183, é, sem dúvida qualquer, o maior nome das artes marciais mistas da atualidade. Após 13 meses fora e uma fratura na perna esquerda voltou às atividades com vitória, porém, após 5 rounds e não logo de cara, o que fez surgir críticas como: ele não é mais o mesmo, ele "quase perdeu", ele está acabado.
Oi?
Pensa se você fosse Anderson Silva e não tivesse com a mira em dia... Fala do cara, mas é ele quem estava lá tomando soco na cara. Por que a gente não aceita uma vitória com 5 rounds? Gol é gol, certo? Então vitória é vitória. Mas não, a gente queria que ele desmaiasse o antagonista com um chute alto com a mesma perna esquerda que foi fraturada há 13 meses na revanche contra Chris Weidman. Sabe o que significa isso? Que tem muita gente que achou a derrota de dezembro de 2013 mais triunfante que a vitoria de sábado.
Eu não vi ninguém comentando que ele chutou o rival sem medo com essa mesma perna esquerda recuperada, mas que, vamos lá, não se esqueçam: é uma perna fraturada. Pra mim: palmas pra ele porque é muita coragem. Você já quebrou alguma parte do corpo? Então, eu tenho dois pinos no joelho e posso garantir: quem volta a lutar com essa "deficiência" tem muito préstimo, merecimento, superioridade, talento, virtude e principalmente BRAVURA e VALENTIA.
Queria ver se o cara que fala que ele não é mais o mesmo tem culhão de subir no octógono contra um cara que nunca foi nocauteado. Aham... A par dos riscos que corria, Spider foi lá e fez o que tinha que ser feito. Ponto pra ele.
No mais, provou do próprio veneno, pois acostumado a desestabilizar os adversários, Anderson encontrou um oponente atrevido, que "chamou pro pau" com a mesma ironia que o Spider fazia valer no passado e dessa vez mostrou um amadurecimento que segurou o "ex-ídolo" a não perder a linha.
Anderson tem mais 14 lutas no contrato com o UFC. Aos 39 anos, ninguém sabe se ele segue na atividade. Nem eu, nem você e NEM ELE. De qualquer forma, tem meu respeito, ganhando ou perdendo - é um exemplo vivo de um gladiador que vai até a exaustão. E antes de falar mal dele, faça um exercício: coloque-se no lugar dele e pense se você faria tão bem quanto ele - ganhando ou perdendo.
Sobre Denise Molinaro
Denise Molinaro é jornalista, paulista mas prefere o Rio de Janeiro. Gosta de observar as pessoas para escrever sobre elas. Edita o AreaH. Manda sua sugestão de pauta pra ela.
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