Soa estranho dizer que o vício em sexo é considerado um problema psicológico e precisa ser tratado com o auxílio de especialistas. Entretanto, os viciados existem e sofrem bastante com este distúrbio que acaba atrapalhando tanto a vida profissional, quanto a pessoal dos que se encontram nesta situação.
Pouco conhecido no Brasil, o vício em sexo atinge ainda uma pequena parcela da população, cerca de 2% dos brasileiros praticam o sexo compulsivamente. Todavia, muitos podem conviver com este problema e não saber o que fazer para saná-lo.
Para o viciado em qualquer tipo de coisa, a maior dificuldade é admitir o problema, seja por medo da reação das pessoas, ou por temer encarar a realidade de frente, com o obcecado por sexo a história não é diferente. Psicodramatista e Terapeuta Sexual do Instituto Kaplan, em São Paulo, Maria Cristina Romualdo Galati, que também é Mestre em Ciência da Saúde da UNIFESP, explica como é possível diagnosticar o distúrbio. "Só podemos dar um diagnóstico com uma avaliação psicológica e psiquiátrica. Não se pode afirmar que qualquer pessoa seja viciada em sexo sem que se faça a avaliação correta."
Maria Cristina exalta também a importância dos amigos e familiares. "Quando a pessoa, ou aquelas com quem convive observam um isolamento, a falta de atividades comuns de convivência, lazer e profissional como os demais, pode ser um indicativo da dependência."
Sou viciado, e agora?
Como todo o vício, a parte mais complicada é quando ele começa a interferir na vida pessoal. A compulsão é tão grande que o indivíduo não mede esforços para conseguir o que quer. Em função disso, muitos obcecados por sexo assistem sem reação o fim de casamentos de longa data, a deterioração do relacionamento com os filhos e familiares e até o fracasso da vida profissional.
"A falta de dedicação, atenção e tempo para outras atividades, sejam as obrigações ou o lazer, são motivos de preocupação. A pessoa deixa de 'ter vida' além da sua dependência, o que pode gerar prejuízos financeiros, profissionais e até mesmo afetivos. Este isolamento também leva à solidão e carência. A ansiedade é outro fator que contribui para a dependência."
Por manter relações com um número elevado de pessoas, a chance do viciado que não pratica o sexo seguro contrair algum tipo de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), dentre elas o vírus da Aids, é bem grande. "Se a pessoa não tem um companheiro fixo e se relaciona com vários parceiros, há o risco de transmissão de doenças, caso não pratique o sexo seguro," alerta a Mestre em Ciência da Saúde da UNESP Maria Cristina Galati.
Caminho para cura
A falta de informação e conhecimento da população ainda prejudica muito o viciado em sexo. No Brasil, não existem tratamentos específicos oferecidos pelo governo, porém é possível encontrar grupos de autoajuda, como o Dependentes de Amor e Sexo Anônimos, que funciona no mesmo molde do Alcoólicos Anônimos, por meio de reuniões em grupo. O Hospital das Clínicas e o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo criaram em 1993 o Prosex (Processo Sexualidade), que apesar de não tratar especificamente da compulsão por sexo, atende às necessidades sexuais de homens e mulheres.
Maria Cristina também fala sobre as formas de controle e tratamento. "Psicoterapia com foco na problemática, ou seja, na dependência e, muitas vezes, o tratamento medicamentoso, feito por um psiquiatra se faz necessário," assinala.
Celebrity rehab
Não só os anônimos sofrem com a compulsão por sexo, algumas celebridades da música, cinema e esportes também lutaram ou lutam contra o vício.
Michael Douglas - Conhecido por papéis em filmes como 'Dia de Fúria' e 'Instinto Selvagem', Michael sempre teve fama de mulherengo (deve ter puxado o pai, Kirk Douglas). O americano sofreu com o problema na década de 90 e teve que se internar em uma clínica de reablitação.
Amy Winehouse - A britânica, conhecida por seu abuso de drogas e álcool, é outra que travou uma batalha com o sexo. Antigos affairs garantem que Amy tinha compulsão pelo ato.
Ronnie Wood - O guitarrista dos Rolling Stones sempre foi conhecido por gostar de vodka e mulheres (tanto que namorou com uma 40 anos mais nova), porém Ronnie também é outro viciado em sexo. De acordo com fontes próximas, o músico esteve internado recentemente para se tratar.
Tiger Woods - Talvez o caso mais emblemático seja o do golfista americano. Aclamado como um dos principais nomes do esporte mundial, Tiger admitiu recentemente estar se tratando para controlar o distúrbio. Dono de recordes intermináveis, Woods passou seis semanas em uma clínica de reabilitação, tudo em função da descoberta de diversos casos de traição envolvendo o golfista. O problema trouxe sérios danos à imagem de Tiger Woods, que perdeu patrocinadores e se afastou dos campos de golfe.
Para fechar, Maria Cristina resume o que é comportamento sexual compulsivo. "É a falta de controle da pessoa sobre seu próprio desejo sexual. Ela busca sua própria satisfação sem ponderar as consequências e prováveis prejuízos, que podem atingir a esfera profissional, financeira, social e afetiva, tendo consciência ou não do sofrimento que isso possa lhe causar."