Por Ricardo Lorenzi, chef de cozinha

De uns tempos pra cá, venho notado um gosto estranho na carne bovina, não se trata do estado de conservação e frescor da mesma, mas um gosto forte, semelhante a bife de fígado, que simplesmente não sentia antes. Como chef de cozinha, me senti na obrigação de sair à busca de uma explicação que me satisfizesse e que explicasse de uma vez por todas de onde vinha aquele gosto. Depois de pesquisar e conversar com alguns veterinários a respeito do tema, concluí que o tal gosto é decorrente da alimentação do gado, mais especificamente devido à inclusão do caroço de algodão na dieta dos “chifrudos”, em substituição ao farelo de soja por ser mais barato.

Isso se dá principalmente no período de confinamento, quando os pastos estão se recuperando no período de estiagem. De qualquer forma, acredito que independentemente do período, o gado acaba ingerindo o tal caroço de algodão em algumas épocas do ano e isso certamente acaba alterando o sabor da carne.

Ao conversar com um amigo veterinário, o mesmo me disse que as carnes destinadas à exportação não têm esse gosto, pois os mercados europeu e americano não aceitam carnes com o referido sabor e portanto as devolvem, caso sejam provenientes de gado cuja dieta contenha caroço de algodão. E “nóis” ficamos com o que eles não querem, “as usual”.

O engraçado é que não é todo mundo que percebe o tal gosto forte na carne. Às vezes pergunto a alguns amigos se eles sentem o gosto na carne e muitos dizem que nada percebem. Talvez por isso ainda não haja uma diminuição no consumo de carne bovina. 

Resumindo a ópera, pra garantir é melhor usar carne argentina e uruguaia pois a nossa, apesar de já ter sido boa, hoje já não é mais aquela.

Agora, se você não sente diferença, taca-le pau na nacional mesmo.