Foram 74 capítulos. Aproximadamente 3.330 minutos. O equivalente a 55 horas (ou 2 dias e mais uma manhã). Este foi o tempo que investi – e me entreti – para completar mais uma (excelente) série exibida pela Netflix: Pablo Escobar – El Patrón del Mal.
Produzida no início da década pela TV Caracol (uma espécie de Rede Globo – ou talvez SBT? – da Colômbia), a série-novela é uma riquíssima narrativa sobre a infância, adolescência, vida adulta – auge e queda – do intrigante Pablo Escobar.
Se Narcos, em sua primeira temporada, fez renascer a história do “Capo”, El Patrón del Mal preenche lacunas, esclarece, esmiúça, detalha a trajetória de um homem amado e odiado por multidões, na Colômbia e no mundo. Com toques de novela mexicana do SBT (ou mesmo das recentes produções turcas transmitidas pela Band), pecando em alguns momentos por falhas de fotografia e dramaticidade exagerada, a série contrabalanceia estes pontos fracos com uma narrativa impecável, vibrante e cheia de momentos de tensão.
Nela, contrariamente à série protagonizada por Wagner Moura, temos acesso a um Escobar mais humano, híbrido: capaz de planejar a explosão de uma bomba que atinja dezenas de inocentes civis ao mesmo tempo que afaga um de seus filhos. Um homem que perde a cabeça por uma amante que, em dado momento, lhe ignora; que fica cheio de temores e paranoias quando seus inimigos finalmente começam a encurralá-lo – mas que, com uma frieza ímpar, encomenda mortes como se estivesse chamando uma pizza delivery.
El Patrón de Mal traz também um rico acervo audiovisual da época, escancarando a perplexidade e comoção presentes na sociedade colombiana. Isto também permite entrarmos mais a fundo no cenário pintado por Escobar e seus sócios de cartel, mostrando o verdadeiro drama que figuras importantes da Colômbia viveram: ministros, candidatos à presidência, militares. São muitas as figuras – e famílias – que sofreram o impacto de um tsunami chamado Pablo Emilio Escobar Gaviria.
Em mais uma comparação, enquanto Narcos foi construída sob a ótica de um agente ianque, a série da TV Caracol tem no narcotraficante sul-americano seu personagem principal e absoluto. A bem da verdade, El Patrón del Mal passa longe do papel norte-americano nesta história. O foco é a Colômbia com suas peculiaridades e mazelas.
Por fim, se me perguntam qual das duas séries é melhor, meu placar pessoal é um disputado 10 a 9 para a produção colombiana. Em tempos de expectativa pela segunda temporada de Narcos, aproveite para conhecer El Patrón del Mal. A satisfação é garantida!
Curiosidade 1: ao longo dos meses que fui assistindo El Patrón del Mal tive a curiosidade de buscar notícias, vídeos, imagens da época. Fiquei (ainda mais) impressionado com as semelhanças dos atores e as figuras da vida real. A produção caprichou neste quesito!
Curiosidade 2: você seguramente encontrará algumas diferenças nas narrativas de Narcos e El Patrón del Mal. Fatos que remetem a obstáculos relacionados a direitos autorais passando por versões e pontos de vista distintos em seu bojo. Como sou metido a historiador, procurei analisar ambas versões em comparação com que viveu de fato muito próximo ao “Capo”: seu filho (falei um pouco sobre esta obra literária neste artigo). Resultado: há muito mais semelhanças com as histórias da série colombiana do que encontramos em Narcos, o que nos faz inferir que a primeira produção pode realmente ser uma versão “mais próxima da verdade histórica”.
Curiosidade 3: a trilha musical de El Patrón del Mal é lindíssima. Contemplando de hip hops (o tema principal você pode escutar aqui) a lindos temas mais lentos (meu predileto é El Guerrero), são um atrativo à parte.
Sobre Rodrigo Moreno
Um dos fundadores do AreaH, é pai da Sofia e da Bianca, são paulino que torce para o Uruguai. Workaholic e grisalho desde jovem.
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