Passarinhar pelo céu de jatinho ou helicóptero é um artigo de luxo comum a grandes personalidades. Há os que adquirem um “brinquedinho” desses de olho em status e aqueles que pretendem melhorar a logística de seus deslocamentos. A meu ver, nas duas situações o risco não compensa. Teco-tecos assim não me inspiram a menor confiança. Em dezembro de 1999, o repórter que aqui escreve entrou numa aeronave do sertanejo Daniel para concluir um perfil do cantor para a capa da revista de celebridades ISTOÉ Gente. Voamos por cerca de 30 minutos percorrendo um trajeto entre duas cidades do Rio Janeiro. O que mais chamava a minha atenção dentro daquele grande pássaro de hélices era a sensação de insegurança.

Eu tenho medo de altura, só que não sinto o menor pavor em voar em aviões de grande porte. Mas naquele jatinho, pequeno em relação aos aviões comerciais, que voava no ritmo balança mas não cai, me senti bem desconfortável, enquanto a trupe ali dentro fazia piadas e ria. Seis meses depois desse voo a trabalho, sou surpreendido com a notícia que aquele bimotor fizera um pouso forçado na rodovia dos Imigrantes, causando pequenos ferimentos em dois dos ocupantes. Um defeito no painel não havia identificado a falta de combustível da aeronave. Mesmo distante daquela ocorrência, pensei: “tive sorte”. 

Sorte que não teve o candidato à presidência da República pelo PSB Eduardo Campos, em agosto do ano passado, que morreu quando o Cessna no qual ele voava caiu no Boqueirão, em Santos. Poucas horas depois do acidente, eu já estava no local apurando para a revista semanal de informação ISTOÉ. Consegui entrar no quintal da casa – apesar de interditada – onde o jato caiu, ouvi os relatos espantados dos moradores desta residência, pude sentir de perto o cheiro de morte sem sentido e lembrei de novo do dia em que voei num treco semelhante ao que se espatifara ali na minha frente. Lembrei da minha sorte – e também do fogo do maior acidente aéreo da história do Brasil, em 2007, quando o Airbus da TAM derrapou na pista de Congonhas e bateu em um prédio da mesma empresa, presenciado de perto por mim quando cobri essa outra tragédia. 

No domingo passado, 24 de maio, a sorte esteve com os apresentadores Luciano Huck e Angélica, os filhos do casal, as babás e os tripulantes da aeronave que caiu em Rochedo, próximo a Campo Grande (MS). O jato no qual todos eles viajavam sofreu uma falha na bomba de combustível e um dos motores parou de funcionar. Para que o bimotor – nesse momento, voando monomotor – não capotasse na fazenda onde fez pouso forçado, o piloto chegou a desligar o outro motor no ato da aterrissagem. Manobra arriscada e de muita perícia que veio a salvar a vida de todos ali. Listo aqui 7 personalidades que se envolveram em acidentes aéreos fatais quando voavam de jatinhos ou helicópteros, “pássaros” motorizados vira e mexe alvejados pelo estilingue do destino. 

#1 Mamonas Assassinas – em março de 2016 completará 20 anos da queda do jatinho Lear Jet 25, na Serra da Cantareira, que ceifou a vida dos cinco integrantes da banda-sensação de meados dos anos 90.

#2 José Carlos Pace – o ex-piloto de Fórmula 1 que dá nome ao autódromo de Interlagos morreu, em 1977, quando o monomotor que viajava colidiu com uma árvore também na Serra da Cantareira.

#3 Ulysses Guimarães – um dos articuladores da redemocratização e da Constituição de 1988, o ex-deputado faleceu de acidente de helicóptero próximo a Angra dos Reis, em 1992. Até hoje seu corpo nunca foi encontrado.

#4 Fernanda Vogel – a ex-modelo, então namorada do empresário João Paulo Diniz, morreu afogada, em 2001, depois que o helicóptero em que ela e Diniz viajavam caiu na região da praia de Maresias, no litoral norte de São Paulo. 

#5 Rolim Amaro – o ex-proprietário da TAM, maior empresa aérea da América Latina, morreu, ironicamente, em um trágico acidente de helicóptero em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, em 2001.

#6 Fernandão – o ex-jogador, campeão mundial de clubes pelo Inter-RS, morreu em 2014 quando o helicóptero em que ele voava caiu em Aruanã, interior de Goiás. Tinha 36 anos.

#7 Thomaz Alckmin – o helicóptero em que o filho do governador de São Paulo voava caiu sobre uma casa em Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo, em abril passado. Thomaz morreu aos 31 anos.