Além da saúde, que é inquestionavelmente imprescindível, quais são as coisas mais importantes que você tem em sua vida? Pergunta difícil, né? Pra caralho, eu sei. Mas arrisco dizer que são os amigos, os verdadeiros e que não lhe abandonarão por nada nesta porra.
Em minha barba, até então, só há um pelo branco, um solitário fio albino - e mais duro do que o restante– que sempre brota do centro do queixo, mas, se me pedissem para dar uma de sábio chinês, desses que alisam suavemente o cavanhaque enquanto lançam verdades capazes de mudar a órbita de planetas, eu, muito provavelmente, mandaria algo como: “Cultivar as amizades é essencial para manter a sua existência florida!” E, se quer saber, não me sentiria nem um mindinho charlatão ou profeta de Facebook; porque apesar de se tratar de um conselho que para muitos pode parecer extremamente óbvio, é algo que vem sendo esquecido, esmagado pela correria do dia a dia, soterrado pela nossa crescente incapacidade de priorizar o que realmente tem valor e amortecido pela falsa sensação de “estou fazendo a minha parte da camaradagem” que as redes sociais nos dão.
Eu sei que você tem trabalhado feito chapeiro no domingo de manhã. Sei, também, que está determinado a transformar suor em seu primeiro milhão. Sei e lhe apoio, com todas as minhas forças mentais. Contudo, para que não se esqueça do que realmente tem valor, faço-lhe uma pergunta/provocação: de que adiantará enriquecer se não tiver amigos com quem gastar? Nada, respondo. Quer se tornar um milionário solitário que viverá tentando preencher um insuportável rombo colecionando os gadgets moderníssimos indicados pela GQ e comendo putas que gemem teatralmente? Sério? Boa sorte, de coração, e torço para que não acabe asfixiado pela cordinha do varal – ou estatelado depois de se atirar de uma cobertura localizada em algum bairro nobre -, após descobrir que sem amigos todo o resto – até mesmo o dólar– perde completamente o valor.
Não estou dizendo para desistir das suas metas financeiras e começar a vender amendoim na praia. Nada disso. Só recomendo que insira um encontro com seus parças entre uma reunião e outra. E, por obséquio, não venha me dizer que está fechando um negócio grande e que, por isso, anda sem tempo até pra comer, pois sempre dá pra achar uma lacuna na agenda, mesmo que pequena. Ou você é o Obama e este texto chegou até a Casa Branca? Não, não creio. Na boa, pare de inventar desculpas, cara. O tempo está passando e você está cada vez mais longe dos seus camaradas. Não está? Então me diga, sem gaguejar, qual foi a última vez que viu o Pedrinho? Hein? Viu só? Faz tanto tempo que nem consegue se lembrar. E não ouse me dizer que, vez ou outra, você bate um papo de elevador com ele no Facebook. Porque isso é pura ilusão, pequeno complemento do que realmente aduba um laço. Irmão, amizade é olho no olho, tapa carinhoso nas costas, “Te amo, cara” que só sai depois do décimo chope. O resto (papo de Facebook/WhatsApp) não passa de blábláblá que costumamos iniciar para aliviar o peso que cresce em nossa consciência enquanto nos afastamos, milhas e milhas, do que realmente importa.
Outra coisa: não seja do tipo que, quando arruma uma namorada, larga os amigos. Isso é burrice, irmão. Já vi acontecer mais de mil vezes, e sempre termina da mesma forma: o namoro acaba, e o cara, morrendo de vergonha por ter sumido, pede pra voltar. E se a sua namorada pedir para largar os seus amigos, os caras que estavam com vocês muito antes de ela aparecer, dê um pé na bunda dela. Porque a moça que realmente quer seu bem dirá: “Encontre os seus amigos, amor, isso é importante e você está se afastando deles!” Ou ainda: “O que acha de marcarmos um churrasco para que você reencontre os seus brothers?” Amores vêm e vão, né? Você já deve ter percebido isso. Mas uma amizade verdadeira só acaba quando uma das partes morre.
Você não precisa ser do tipo que tem um amigo em cada lugar que vai. Só precisa se dedicar um pouco mais aos poucos que tem e que, sem dúvida alguma, fazem a diferença, principalmente quando a velhice chegar. Aliás, você conhece alguém que foi largando as amizades pelo caminho e que acabou envelhecendo sozinho, sem ninguém? Eu conheço. É triste. Arrisco dizer que afeta até na saúde, na mente. Mas conheço, também, gente que nunca deixou de regar as amizades, e que, na melhor idade, vive rodeado por parceiros de papo furado. Dá pra notar a felicidade na cara deles. Vez ou outra, eu jogo sinuca com uma turma que se conhece desde 1967, e que hoje, muitos anos depois, ainda exala companheirismo.
Esse é o segredo, meu caro. O grande segredo. Amigos, não a sinuca. Amigos que levaremos conosco até o final da vida, por quem acordaremos, por qualquer razão e sem titubear, às cinco da manhã de um domingo chuvoso. Amigos com quem podemos contar para um papo, apenas, não somente quando tem cerveja e mulheres no rolê. Amigos que, pela nossa companhia – e só por ela! -, irão conosco até a lavanderia. Ou à casa do cacete, se pedirmos. Amigos que, mesmo quando estão distantes, têm o poder de fazer com que nos sintamos mais seguros neste mundo cheio de filhos da puta e aproveitadores. Amigos que não se afastarão de nós quando contarmos as merdas que fizemos. Amigos que, sempre, sem hesitar, nos perdoarão por qualquer hiato que deixarmos surgir e, claro, pelos humilhantes chapéus e canetas que insistimos em dar no futebol. Amigos, meu caro, amigos. Eles realmente importam, mais do que qualquer perereca e bonificação que lhe prometeram.
Entendeu? Então pegue a porra do seu celular e ligue para um amigão. E nada de terminar o papo com “Vamos marcar!”. Depois do “Como cê tá, irmão”, vá direito ao “Sexta-feira, no Bar do ____________? Se não puder, pode ser também na segunda. Ou na terça. Fechou?” E se a sua pegada não é bar, convide-o para um café, um suco, sei lá. Mas faça o convite e, se possível, arrume coragem para afirmar que o ama. Pois o amanhã, como sempre digo, não passa de uma hipótese.
Sobre Ricardo Coiro
Vive entre o soco e o sopro. Morre de medo do morno e odeia caminhar em cima do muro. Acha que sensibilidade é coisa de macho e que estupidez é atitude de frouxo. Nunca recusou um temaki ou um café.
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