Apalpar mulher, a profissão dos sonhos Como é a rotina de profissionais machos que tem como obrigação profissional vasculhar o corpo das mulheres gplus
   

Apalpar mulher, a profissão dos sonhos

Como é a rotina de profissionais machos que tem como obrigação profissional vasculhar o corpo das mulheres

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Quando você era pivete, muitas coisas passaram pela sua cabeça, assim como na de todo adolescente saudável. Entre elas, os primeiros contatos com o sexo feminino. Conforme o passar dos anos, o questionamento sobre a profissão surgiu e as potenciais carreiras de jogador de futebol e astronauta dividiram atenção com uma outra proposta bem peculiar, digamos. Nada de fama ou deslumbre, como as duas primeiras que acabamos de citar. Apenas estimulada por uma necessidade masculina básica e primitiva: mulher. 

Muitos de nós já pensaram em ser ginecologistas. Claro que na época nem sabíamos pronunciar claramente o nome da profissão, mas sabíamos que o trabalho - se é que podemos chamar assim e não de lazer - poderia ser o auge da satisfação profissional e pessoal que um garoto de 17 anos com hormônios em ritmo de carnaval poderia sonhar. "Claro que a gente queria ver mulher pelada o dia todo. Tudo era mulher. Com 15 anos, pelo menos naquela época, meados de 70, 80. Não tínhamos a facilidade de tocar em uma gatinha como essa molecada tem agora. Óbvio que com o crescimento e amadurecimento, a gente percebe quem não é bem isso. Que se trata de uma respeitada profissão, que visa cuidar da saúde da mulher. Mas é engraçado como a mente de um garoto funciona", comenta o gerente comercial Paulo, que prefere ter a identidade preservada. O mesmo comportamento curioso, que também conta com um pré-conceito social, espande para outra área da medicina: a cirurgia plástica.

Depois de cinco temporadas na TV, o programa do Dr Ray, o cirurgião plástico das estrelas de Hollywood, virou referência na área. Tanto para o bem quanto para o mal. Isso porque a mulherada que não está satisfeita com o corpo pensa que uma intervenção médica como levantar o nariz ou as sobrancelhas é um procedimento simples, o que de fato não é. "Sempre orientamos que uma plástica é um procedimento médico e que possui riscos. Só incentivamos se forem menores que os benefícios, mesmo quando justificados", explica o médico cirurgião Fabio Saito, da clínica Essere. 

E se você acha que esse fator pode ser um aliado da masculinidade, está muito enganado.

Mera ilusão
Assim como as pacientes que vão aos consultórios em busca de um novo suspiro estético, ser cirurgião plástico está tão longe de ser a profissão dos sonhos dos tarados de plantão quanto ginecologia. "É muito difícil escolher a especialização. Tudo conta. Os amigos que não são da área médica acham um barato ser ginecologista, mas eu não. Só vamos resolver problemas de saúde. Nenhuma mulher vai lá porque gosta de ser tocada por um estranho. Elas vão porque estão com diversas complicações que, particularmente, prefiro não lidar", comenta o estudante de medicina Albert Lima, de 24 anos. E assim também é dentro de um consultório de estética. "A maioria das mulheres chega aqui porque está insatisfeitas com seu corpo. Vemos diversos casos de dismorfofobia ou síndrome da distorção da imagem. Precisamos, acima de tudo, dar toda uma orientação que, às vezes, requer encaminhamento com um profissional da área psiquiátrica", explica Fábio. 

Não queremos estragar seus planos de vida, mas se é difícil lidar com uma mulher reclamando sobre um quilo a mais ou uma imperfeição na pele, imagine dezenas de moças com dezenas de preocupações que, na maioria, são elas mesmas que criam? Haja amor pela profissão. "Além disso, as mulheres chegam aqui constrangidas porque ficarão despidas perante um médico. Temos sempre conosco uma assistente de consultório que ajuda a quebrar esse clima embaraçoso e a dar segurança para as pacientes, mas mesmo assim, não é uma situação confortável para elas", adiciona o especialista. 

Essas pacientes sempre chegam aos consultórios por indicação de outras pacientes e amigas, ainda de acordo com o médico, o que facilita a primeira consulta. Mas a rotina de um consultório de estética, assim como um ambulatório de cirurgia plástica, tem muito mais a ver com o psicológico do que ver mulheres peladas o dia inteiro. "Elas chegam aqui com diversas dúvidas. Ajudamos a exteriorizar, explicamos que dificilmente elas ficarão como as modelos das fotos que constantemente trazem consigo. No ambulatório de cirurgia plástica do Hospital das Clínicas, existe uma equipe de profissionais de psiquiatria que acompanham os casos. Essas intervenções devem considerar expectativas irreais das pacientes, assim como exageros nas próteses que querem aplicar. Principalmente com as moças mais jovens", finaliza Saito. 

E não fique deprimido com toda essa história de plástica e um divã para mulheres insatisfeitas com seus corpos. Aguentar tanta reclamação pode não valer a pena para sustentar seu desejo de ver algumas belezas nuas, mas pense por outro lado: uma intervenção de prótese mamária, o famoso silicone que tanto gostamos, custa à paciente de três a nove mil reais, dependendo do procedimento.