Patrícia Moreira, a torcedora do Grêmio que foi flagrada pela câmera da ESPN chamando o Aranha de "macaco" em agosto do ano passado foi tão repudiada que perdeu o emprego, perdeu a moral e envergonhou a grande maioria dos torcedores, homens e mulheres que tem um time de coração e vão no estádio pra vibrar, torcer, se emocionar.
Mas este foi apenas um dos fatos que envolvem a polêmica atuação das mulheres nas arquibancadas.
A atitude desesperada de laçar um bofe jogador – protagonizada pelas famosas Marias Chuteiras, já deu os 5 minutos de fama a muitas delas nas últimas décadas - mulheres essas que em sua maioria não sabem nem o que é impedimento ou tiro de meta. Mas é fato que algumas delas fizeram um golaço em seus objetivos de gerar herdeiros de jogadores milionários. Se aventurar nesse terreno também já rendeu tragédia braba, como foi o caso de Helisa Samudi. Nesse campo de puxada de tapete e muitas passadas de perna uma polêmica só se abafa com a próxima.
Mas tem outro tipo de mulher frequentadora de estádio: a sem noção. É aquela que só dá palpite errado, atrapalha sua concentração no jogo, quer fazer DR em plena arquibancada ou simplesmente adota um time novo a cada namoro que engata- isso tudo pra não permitir que o cara vá sozinho no estádio. Um porre. Não gosta de futebol vai tomar um chope com as amigas, pô!
Mas calma! Também existem muitas mulheres que conseguem ser mais educadas que a Patrícia, mais inteligentes que as Marias, mais seguras que as vira-casacas e que nutrem um amor verdadeiro pelo Botafogo, Corinthians, Flamengo, Palmeiras e tantos outros. Aliás, eu sou uma delas: nascida no meio de um bando de homens, já chorei e gritei muito pelo meu time, mas mais do que isso, sou torcedora autêntica. É que eu acho que essa história de amor com o futebol tem que vir da infância. Quando a gente é menina, ou sua mãe vai te ensinar que futebol é coisa de menino, ou você vai ser incentivada a jogar bola com os irmãos, primos e moleques da rua - nem que for pra ser gandula, e vai entender o quanto é legal pra caraaaalho torcer junto com eles. Não tenho ido aos estádios recentemente, mas nunca deixei de ser uma autêntica torcedora e parte disso se deve à essa memoria afetiva mesmo.
É que sou a única mulher de 3 filhos e meu pai que é economista e bom de matemática adora dizer que fez questão de comer minha mãe num réveillon de 78 para, 9 meses depois, eu nascer! Rá! Na data certa: dia 1 de setembro. Então sou Corinthians desde nascença, literalmente. E me emociono, torço, choro, tomo chuva na cabeça de vez em quando pra sentir aquela vibração que só quem já encarou uma geral conhece. Ser torcedor de coração é igual ser paraquedista: você vive aquela adrenalina apaixonante, que vicia mesmo e que muita gente não entende porque nunca provou.
O que pode não ser muito bem-vindo a um homem apaixonado é a masculinização da torcedora. Não entendo porque algumas mulheres deixam a feminilidade em casa e se vestem de “menino” – em roupa e atitude - pra curtir uma partida no estádio.
Me dá pena de pensar que a história se inverteu tanto. Nos anos 20 enquanto “demoseilles” de fino trato circulavam pelos estádios desfilando elegância e alegria, a poetisa Ana Amélia de Mendonça escrevia um belo e hoje desconhecido capítulo na história do futebol brasileiro. Seu caso de amor e incentivo ao esporte daria um filmão, aliás!
Mas como a história muda de tempos em tempos, hoje a mulherada já representa 30% do faturamento dos estádios no Brasil e eu sinceramente espero que esse número cresça. Sou daquelas que fica torcendo pro amigo São Paulino se apaixonar por uma São Paulina autêntica pra poderem curtir vários clássicos juntos. E confesso: quando me interesso por um cara fico torcendo secretamente para que, de duas uma: ou ele seja corinthiano, ou skatista.
Sobre Tutu Lombardi
Jornalista pós-graduada pela Westminster University, estuda metafísica da saúde há 15 anos, gosta tanto de voar que já tentou pilotar helicóptero mas estaria rica mesmo se estivesse cobrando pelos conselhos que dá.
[+] Artigos de Tutu Lombardi
Jornalista pós-graduada pela Westminster University, estuda metafísica da saúde há 15 anos, gosta tanto de voar que já tentou pilotar helicóptero mas estaria rica mesmo se estivesse cobrando pelos conselhos que dá.
[+] Artigos de Tutu Lombardi