Milagres podem até existir para certas culturas, e na espera de um deles alguns japoneses chegam a abençoar computadores para ter sorte nos negócios. Porém, no mundo dos negócios, é diferente: ele realmente não existe. Se mesmo sem grana você está se coçando para dar destino ao seu rico dinheirinho, é melhor tomar cuidado com aquelas ofertas que parecem irrecusáveis.
Hoje disponível para os mais diversos tipos de bens no mercado, o consórcio estreou no Brasil há 50 anos, e na época era voltado apenas para a aquisição de automóveis. Embora tenha sofrido algumas “atualizações”, a essência desta operação financeira permanece em algumas ofertas encontradas no mercado. Em suma, trata-se de um sistema de compra programada em que um grupo de participantes organizados por uma administradora rateiam o valor do imóvel pelos meses de parcelamento.
De acordo com Reginaldo Gonçalves, coordenador de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM), o grande problema dos consórcios é que eles acabam iludindo quem tem interesse na aquisição de um imóvel. Isso porque, ao ter impressão de não estar pagando juros, o futuro proprietário acredita que a aquisição sairá mais barata.
“Quando se entra num consórcio, o participante tem a opção de fazer um lance com uma carta de crédito mediante à taxa de administração da instituição financeira. Caso contrário, ele deverá aguardar o sorteio -- e mesmo que eventualmente não seja contemplado, deve efetuar o pagamento durante o curso de todo o processo”, explica Gonçalves.
No fim das contas, isso significa que você vai ter o dinheiro que arrecadou com os juros (similares aos da poupança, ou seja, 6% ao ano) descontadas as taxas administrativas. Apesar de seu aspecto de loteria, já que o participante pode ser contemplado e obter o produto antes, não tem mágica: os outros estão pagando pela sorte do felizardo.
“Como se trata de um serviço muito simples -- juntar dinheiro numa aplicação de risco baixo (seja poupança, CDB ou título público) -- você pode fazer por conta própria sem muito sacrifício. Basta falar com seu gerente. É um serviço tão simples que acaba saindo caro demais”, recomenda Samy Dana, professor da escola de economia da FGV-SP.