Não seja um homem-mimimi O cara que chora e reclama toda hora precisa trocar a cueca boxer por uma fralda Pampers gplus
   

Não seja um homem-mimimi

O cara que chora e reclama toda hora precisa trocar a cueca boxer por uma fralda Pampers

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Este texto é para você, homem-mimimi, que hoje, para não perder o hábito de tentar nos arrastar ao seu inferninho particular, já acordou reclamando da vida, do fim do Carnaval, do recomeço da rotina, da afta que arde quando você come abacaxi, da constante alta do dólar, da sua careca cada vez mais aparente, da chuva que impediu o seu almejado bronzeado, do baixo nível da Cantareira, do trânsito a cada dia pior, do seu chefe carrasco, da sua namorada ciumenta, da sua mãe insistente, do seu pai ausente, do seu time pangaré, do seu joelho enferrujado, da sola do seu sapato suja de fezes, do tamanho do comprimido que você diariamente engole e de outras tantas coisas que - apesar de incômodas, não nego - não deveriam ocupar nem 1% do que sai da sua boca.

Por que você não deve permitir que as reclamações ocupem mais de 1% do que sai de sua boca? Porque agindo assim, irmão, ao invés de investir o seu precioso tempo na busca por soluções efetivas aos seus problemas e por ângulos capazes de motivar sorrisos desenfreados – coisa que recomendo! -, você requenta sensações ruins que já poderiam estar no fundo do lixo e não se desfaz de um vínculo desnecessário com as coisas que lhe fazem mal. Não percebe? E pior: assim você ainda contamina os que estão por perto, fazendo com que eles percam totalmente o interesse pela sua companhia. Ou acha que é legal tomar um chope acompanhado por alguém que só abre a boca para expor queixas e lamúrias? É um saco, se quer mesmo saber. Entendo que você, vez ou outra, sinta a necessidade de desabar, mas todo santo segundo? Não, aí não dá! Aí é demais para qualquer ouvido, até mesmo aos mais pacientes.

E se você acha que apenas os seus amigos vão começar a lhe evitar caso você não pare com essa tempestade de mimimis, saiba que as mulheres também farão o mesmo quando perceberem que você, apesar de bonito, não consegue passar um minuto sequer sem dizer que vida é feia, que o garçom é lento, que a comida veio fria, que o chope já chegou quente, que a cama é dura e que a ducha não tem pressão. 

E antes mesmo que você comece a reclamar de mim e dizer por aí que estou sugerindo passividade total diante de serviços prestados nas coxas e não condizentes com o prometido, caro chorão, saiba que não sou contra todos os tipos de reclamações, afinal, muitas mudanças boas só aconteceram – ou acontecerão! - graças a elas. O me incomoda, de fato, são as reclamações repetidas até a exaustão e, principalmente, aquelas que não contêm foco, disparadas contra ouvidos inocentes e que estão longe de pertencer aos agentes causadores do problema ou a pessoas com algum potencial para resolvê-lo. Sacou? 

Se o chope está frio, reclame ao gerente ou ao dono do bar, não à sua namorada que nem chope bebe. Se você encontrou uma mosca em sua sopa, reclame ao cozinheiro – ou ao Raul Seixas, sei lá -, mas pare de repetir isso ao seu amigo que acabou de chegar e que, diferente de você, está evitando choradeira no papo. Eu tenho cara de São Pedro? Não? Então não me fale mais da falta de chuva. Também não tenho cara de Santo Antônio, viu? E não aguento mais ouvir você dizendo que neste mundo não há mulher pra casar. Aliás, se quer mesmo saber, o que não há, de verdade, é mulher disposta a se casar com alguém como você, que antes mesmo das bodas de papel e de se tornar um quarentão, começará a agir feito um velho ranzinza que reclama, até, de mudanças mínimas na densidade do purê.

Se eu nunca faço reclamações? Claro que sim, irmão. E, às vezes – ou será que faço isso muitas vezes? – reclamo desnecessariamente, exatamente como você, homem-mimimi; ou como a criança que, ao invés de tomar vergonha na cara e começar a fazer os exercícios de matemática (caminho mais trabalhoso, porém verdadeiramente capaz de sanar o problema), prefere sair por aí dizendo que odeia números e que não nasceu para eles (caminho mais fácil, porém que nunca a levará ao X da questão). 

Reclamar também é um artifício covarde que constantemente usamos para terceirizar as nossas responsabilidades e, dos nossos ombros e consciência, remover a culpa que sentimos graças aos treinos que não realizamos, à disciplina que não saiu dos discursos que fizemos logo depois das pizzas que devoramos e às frases que nem sequer dissemos, por medo da resposta. Eu sei que parece mais fácil dizer que o seu chefe é burro, que sua genética é ruim e que as mulheres não prestam, mas ao fazer isso – e colocar toda a responsa na mão dos outros -, você nunca vai ser um profissional melhor, ter o corpo que deseja ou ser bem-sucedido entre as mulheres. Sabe por quê? Porque aqueles que conseguem o que desejam, enquanto você fica de chororô pelos cantos e centros, estão pensando nos erros que cometeram e em formas de não realiza-los outra vez. Os que conseguem geralmente sabem que caminhar reclamando é muito mais difícil do que caminhar em silêncio. 

Pior do que a atitude da cigarra – que só cantou enquanto a formiga trabalhava duro – é a sua, irmão, que vive a reclamar por não ter a voz da cigarra e a disciplina da formiga.

É claro que homem chora. Mas toda hora? Aí é melhor trocar a sua cueca boxer por uma fralda Pampers. E a minha companhia pela companhia de uma boa psicóloga.

Obs: este texto também serve para a mulher-mimimi, antes que você reclame.


Ricardo Coiro