Sites de respeito muitas vezes publicam questionários que prometem avaliar sua personalidade para lhe dar uma pista do que pode ser a sua outra “metade da laranja”, como diria quem já fez muita calcinha baixar. Esse é o caso do trabalho da antropóloga norte-americana Helen Fisher, que afirma existir apenas quatro tipos principais de personalidade. Para Fisher, cada uma delas é regida por um hormônio e um sistema cerebral, eventualmente influenciando as escolhas de nossos pares amorosos. Será que tudo isso faz mesmo sentido?
Embora ache interessante, a psicóloga Ana Beatriz Cintra desconfia da validade de um teste como esse. “Corre-se o risco da resposta ser baseada em como gostaríamos de ser e não no que somos de fato. Isso sem considerar que podemos ter uma visão deturpada de nós mesmos. Prefiro os testes projetivos, nos quais não temos ideia de qual direcionamento nossas respostas terão -- portanto não vemos riscos em responder o que somos de fato”, alerta a profissional.
Cintra confessa que a teoria de Fisher até pode ter alguma proximidade com o teste de personalidade do renomado psiquiatra suíço Carl Jung -- pois ele também fala de quatro tipos psicológicos. “Contudo, Jung não faz essa relação direta de ‘quem combina com quem’. Ele apenas afirma que as personalidades que se unem são complementares, e que buscamos no outro aquilo que não reconhecemos em nós”, esclarece a psicóloga.
Para ela, os relacionamentos são complexos demais para depender somente de tipos psicológicos e níveis hormonais. O primordial neste campo é a “construção” diária da relação e da vontade em querer estar juntos, além da capacidade de se colocar no lugar do outro (empatia), se analisar e modificar em nome do companheirismo.
De quebra, Cintra joga o papo reto para aqueles que sonham com uma gata muito parecida consigo mesmos que espera o dia em que ambos irão se “esbarrar” na rua um dia desses: “O par ideal depende muito do quanto eu me conheço, reconheço minhas qualidades e deficiências e busco no outro a minha complementaridade. Isso desconsiderando qualquer projeção infantil de parentalidade (semelhança com os pais) ou idealização da companheira perfeita”, conclui ela.