Sobre o “revenge porn” O que uma dupla sertaneja escrota, o Senador Romário e a divulgação de vídeos íntimos têm em comum? gplus
   

Sobre o “revenge porn”

O que uma dupla sertaneja escrota, o Senador Romário e a divulgação de vídeos íntimos têm em comum?

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É de conhecimento de todos que o século XXI é um livro digital aberto. Todos os nossos segredos, inclusive os mais íntimos, estão em algum lugar da internet para que alguém possa ver. 

E mesmo que tomemos todas as medidas possíveis para que de alguma maneira possamos preservar o que resta de privacidade, ainda podemos padecer na mão de terceiros, seja um estranho na rua ou alguém em quem confiamos. De uma forma ou de outra estamos cercados por todos os lados e isso não é segredo. 

Embora algumas pessoas sejam adictas a prática de superexposição, principalmente por conta de egos inflados e vaidades excessivas, outras tantas acabam sendo expostas por inocência e ingenuidade, afinal, há sempre aquele (a) que cairá no conto do vigário. 

A todo instante uma pessoa má intencionada munida de um celular invade a privacidade de outra e não há como ter controle, afinal de contas é - ou era - tudo uma questão de bom senso - item em falta nas prateleiras há muito tempo. 

Bom senso definitivamente não faz parte do dicionário - e vocabulário - da dupla sertaneja Max e Mariano. A sua “brilhante” canção “Eu vou jogar na internet” é a prova cabal da minha afirmação. 

O tema abordado pela “musica” - se é que podemos chamar assim - é “revenge porn” (pornô de vingança) o que é provavelmente a atitude mais imatura que um homem pode tomar após levar um pé na bunda - cresça cara! Encare isso como um adulto -, duvida? Confira este trecho da “música”: "Eu vou jogar na internet/ Nem que você me processe/ Eu quero ver a sua cara quando alguém te mostrar/ Quero ver você dizer que não me conhece".

Diariamente somos bombardeados com notícias que mostram como atitudes como essa podem destruir a vida de uma mulher, inclusive levá-la a extremos, já vimos vários casos de suicídio e outras atrocidades associados ao revenge porn. 

A pergunta é: até quando vamos permitir que “artistas” como Max e Mariano criem e publiquem este tipo de material que sequer pode ser classificado como entretenimento musical, imagine classificá-lo como música. 

O emburrecimento coletivo que está em alta no mercado “musical” brasileiro está se tornando cada vez mais degradante, não se trata de um pensamento conservador e reacionário, pelo contrário a música de vanguarda não tem tido espaço no Brasil, enquanto este tipo de enlatado inútil nos é posto goela abaixo todos os dias. Os grandes grupos de mídia parecem ter prazer em tornar as próximas gerações cada vez mais analfabetas musicalmente falando. 

A música com poder de transgredir, questionar, apontar um novo caminho é podada no Brasil e em boa parte do mundo, e é justamente este tipo de ação que abre as portas para todo lixo que temos ouvido nos Sertanejos Universitários e Funks Cariocas da vida, e é justamente aqui que mora o perigo. 

Provavelmente as pessoas têm se tornado menos inteligentes - a ponto de gostarem de músicas como a citada acima -, então e uma dupla de babacas sair por aí falando que é legal gravar um vídeo em um momento de intimidade com a sua namorada, mulher ou ficante e que caso o relacionamento não dê certo, por birra você a expõe ao mundo. E o pior de tudo, isso é sério, está cheio de “machão” por aí que adorar se vangloriar de suas conquistas e dividi-las com a web inteira, sem consentimento da parceira. 

Reconheço que as mulheres também tem sua parcela de culpa em alguns casos, a sociedade como um todo é culpada, porque enquanto não é comigo e com você, não tem problema nenhum. Contudo um de nossos representantes resolveu abordar o tema de maneira coesa e sucinta. 

O projeto de lei (PLS 63/2015) tipifica o ato de divulgar fotos e vídeos íntimos sem autorização da vítima. Pela proposta do Senador Romário (PSB/RJ), quem praticar “pornografia de vingança” pode pegar até três anos de detenção, além de ser obrigado a indenizar a vítima. Embora seja complicado chegar até o culpado em alguns casos, eu acredito que este projeto possa pelo menos coibir que outros tantos como Max e Mariano exponham as garotas que tiveram a infelicidade de ter qualquer tipo de intimidade com “homens” indignos e sem caráter. 

Mas só a lei não basta, uma coisa é certa, toda a nossa sociedade deve ser remodelada, se as pessoas se propusessem a ouvir música inteligente, não seriamos obrigados a ouvir tanto lixo como eu tenho ouvido por aí, todos os dias. E temas como o abordado no ruído chamado “Eu vou botar na internet” seriam cada vez mais escassos. Pelo menos estes não chegarão sequer aos 15 minutos de fama.  


Marcel Costa