- O que você faz, irmão? – perguntou-me o Jonas (cidadão que acabou de entrar em nosso time de futebol), enquanto nos hidratávamos com longos goles de cerveja e recuperávamos as nossas energias graças a inestimável ajuda de uma suculenta picanha.
- Eu sou escritor – respondi.
-Porra, legal! E você escreve sobre o quê? Romances policiais? Biografias? Matérias na Playboy?
- Escrevo, principalmente, a respeito de relacionamentos, amor, sentimentos, paixões e outras drogas.
- Ah, saquei... Então você escrevepra mulherzinha, é isso?
- Na real, não. Eu escr...
- Porque homem não precisa ler sobre isso, né? Pode admitir! – ele emendou, antes que eu pudesse terminar a minha explicação.
- Não é questão de precisar, cara, é que homem geralmente tem precon...
- Essa parada de literatura sentimental não serve para seres que têm bagos! – interrompeu-me, mais uma vez, levando-me ao silêncio e direto à seguinte conclusão: muitos homens – muitos mesmo! - ainda têm vergonha de expressar os próprios sentimentos e acreditam, piamente, que conteúdos com maior grau de sensibilidade – e que exploram o universo dos sentimentos – não são capazes de entretê-los ou de acrescentar algo à vida deles.
E o Jonas não foi o primeiro a usar a expressão “pra mulherzinha” depois de eu ter afirmado que escrevo, diariamente, sobre amor: muitos amigos vivem a me dizer a mesmíssima coisa (“pra mulherzinha”) quando estão a fim de zoar e, principalmente, quando tentam me convencer de que meus textos não são para eles. Grande besteira. Pensamento pequeno, melhor dizendo.
Apesar de tudo que provavelmente já disseram a você, irmão, consumir conteúdos com maior carga sentimental, sem a presença de explosões e que carreguem- ou que gerem - sentimentos não fará com que seu pau diminua ou aumentará as suas tetas. Se é esse o seu medinho, pode ficar despreocupado. E se não der tempo de fechar a janela do navegador e, por isso, a sua namorada lhe flagrar lendo um conto meu – ou outro cujo foco é o que se passa em nosso coração -, ela não lhe dará um pé na bunda ou achará que você se tornou um ser meia-bomba, fique frio.
Se você já leu esse tipo de coisa e não curtiu, eu respeito. Faz parte do jogo. Porém, eu torço para que você não seja como muitos que não leem – ou falam – sobre o amor apenas porque acham que homem, de verdade, não faz esse tipo de coisa. E se você resolver ler e, por acaso ou sorte minha, curtir, não se sinta culpado como muitos que surgem em meu inbox e que, antes mesmo de se apresentarem ou elogiarem os meus escritos, sentem necessidade de afirmar: “Eu não sou gay, tá?”. Como se isso fizesse a mínima diferença...
Cara, a verdade é que eu escrevo para gente que não tem medo da própria sensibilidade, pessoas que já descobriram o quão fantástico é se emocionar após o ponto final de um texto, o The End de um filme ou o “obrigado” sincero dito por um ator de teatro. Escrevo para homens, mulheres (não “mulherzinhas”), gays, castores curiosos, alienígenas à paisana etc. Tanto faz. Ou o amor e os sentimentos fodásticos que derivam dele deixaram de ter caráter universal? Acho que não.
Sobre Ricardo Coiro
Vive entre o soco e o sopro. Morre de medo do morno e odeia caminhar em cima do muro. Acha que sensibilidade é coisa de macho e que estupidez é atitude de frouxo. Nunca recusou um temaki ou um café.
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