Fugi da escola aos 13 anos para fumar meu primeiro Marlboro com os maus elementos da turma do fundão. Não apanhei de cinta, não fui parar na FEBEM, mas ouvi poucas e boas da senhora minha mãe.
Não me tornei fumante, nem delinqüente e aprontei várias. Fui direcionada por uma boa educação. Quantas pessoas têm esse privilégio?
Entre Malafaias, Bolsonaros, Cunhas e todos os especialistas de Facebook sem genética de alma para o bom senso, gostaria de levantar alguns motivos pelos quais sou CONTRA a redução da maioridade penal, e não é porque eu tenha prazer em discordar da unanimidade, mas porque está mais do que claro - e estatísticas endossam, que esse tipo de atitude não vai proteger a sociedade castigando menores na carceragem.
Com 13 anos eu era muito infantil, com 14 segui no mesmo formato, com 16 idem e com 18 não mudou muita coisa. Somos todos assim. Agora me diga, antes de encher os pulmões para reforçar seu lado Maria Vai Com As Outras: você acha mesmo que jogar meninos numa escola carcerária é uma medida inteligente sendo que estamos calejados de saber o quão ineficiente e problemático é o sistema penitenciário desse terceiro mundo que as pessoas insistem em chamar de país do futuro?
Ainda que você esteja espalhando hashtags em apoio aos líderes favoráveis à redução da maioridade penal na web, vamos por aqui:
#1 Qual é a idoneidade desses bandidos engravatados que seguem soltos metendo leis no plenário? Busque a ficha corrida deles e pense nisso antes de apoiá-los.
#2 Pare de comparar o Brasil com os resultados desse sistema implantado lá fora. O critério dos países da Europa não é igual ao nosso. Não seja mais um ignorante desinformado endossando este coro da imbecilidade.
#3 Não são só jovens inseridos em comunidades desfavorecidas que praticam crimes, tem muito playboy mau caráter na vida loka, vide a senhorita Richthofen, criada a leite com pêra, que deu cabo dos pais a pauladas.
#4 Qual é o efeito da aplicação dessa lei? Você TEM CERTEZA que ela é capaz de diminuir o envolvimento de jovens com a delinquência?
#5 Acha que quem tem menos que 18 e já cometeu crimes vai parar porque agora tem lei?
#6 Queria contar pra vocês que bandido age no esquema "não tenho nada a perder", tenha ele 13, 16, 23, 45 ou 70 anos. Além do mais, no Brasil, ninguém acredita na recuperação de detentos. Então, menos.
#7 Não adianta tratar jovens como adultos. Se não existe um sistema carcerário eficiente para maiores, por que vamos ter para menores?
#8 Menores são usados por maiores para assumir crimes. Isso é uma máfia, acontece há muito tempo e talvez você estivesse morando em Júpiter e não sabia disso.
#9 O caminho é que eles respondam com base em medidas socioeducativas e não pelo código penal. O sistema prisional brasileiro é dominado por facções criminosas e esses caras vão se juntar a elas e aperfeiçoar a carreira da bandidagem que começou na adolescência.
#10 A dor de quem chora a morte de parentes assassinados por menores não vai diminuir.
#11 O correto é que esses jovens criminosos possam responder dentro de unidades específicas para menores de idade e não numa prisão manjada, dessa forma temos uma possibilidade para que eles possam contornar suas histórias, seus erros.
#12 Pra crianças, adolescentes e marmanjos, o correto seria um trabalho socioeducativo que trabalhasse na ressocialização dos presos. Não é amontoá-los nas prisões. O mundo hoje está discutindo isso, a questão dos espaços socioeducativos.
Mais de 90% dos paulistanos são a favor da lei. Eu penso que isso é um ato de vingança social. Ainda não conheço na prática um modelo de tratamento para adolescentes que cometem crimes cruéis, mas era isso que tinha que ser aprovado no plenário. Resolver o problema pelo fim não adianta. Tem que tratar a causa e não o efeito.
Estou ciente que existem bandidos frios e cruéis que ainda não completaram 18 anos, pessoas com pleno entendimento dos seus atos. Não são anjinhos, sabem dos riscos e das conseqüências e não sou defensora dessa laia, mas peralá, a que ponto chegamos? Nosso sistema não tem correspondido à expectativa do que é previsto na legislação. Logo, esse não é o caminho.
Sobre Denise Molinaro
Denise Molinaro é jornalista, paulista mas prefere o Rio de Janeiro. Gosta de observar as pessoas para escrever sobre elas. Edita o AreaH. Manda sua sugestão de pauta pra ela.
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