Um caso grave de aneurisma cerebral de uma paciente de 68 anos foi tratado com um procedimento inédito no país pelo Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo. A cirurgia foi feita no dia 6 de julho e é considerada um sucesso: ela aliou duas técnicas, a microcirurgia e a terapia endovascular, que já são utilizadas no tratamento mas, desta vez, utilizadas juntas, de forma simultânea, em um único procedimento.
Há dez meses, essa paciente passou a ter um tipo de dor de cabeça atípica, diferente do que ela já havia sentido antes. A paciente então procurou um médico no estado onde vivia, em Tocantins, que lhe pediu uma tomografia. “E essa tomografia evidenciou a presença de um aneurisma cerebral, algo que já não é usual. Não é frequente os aneurismas cerebrais aparecerem nas tomografias. No caso dela apareceu por causa do tamanho maior do que o habitual”, contou Sérgio Tadeu Fernandes, neurocirurgião do Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo, em entrevista à Agência Brasil. “Mas na cidade não tinham os recursos necessários e a família a trouxe para São Paulo”.
O risco do procedimento era alto. No início, a equipe médica do hospital pensou em fazer um procedimento microcirúrgico. “Mas como o caso demandava um tipo de cirurgia que é extremamente trabalhosa e com risco muito alto, a equipe pensou em minimizar esse risco combinando as duas técnicas”.
A cirurgia da paciente demorou em torno de cinco horas. Caso fosse feita apenas a microcirurgia, por exemplo, a estimativa é de que a cirurgia poderia demorar bem mais, em torno de oito ou dez horas. “E com um risco muito maior”, explicou o médico.
“A cirurgia começou com a microcirurgia convencional. E aí passamos para o procedimento cirúrgico convencional, em que é feita uma incisão e retira-se uma parte do osso. Posicionamos, então, um microscópio cirúrgico e, por meio dele, chegamos na lesão e identificamos o aneurisma. Uma equipe inseriu um cateter na artéria femural e foi com ele até o local onde essa lesão estava.
Por meio desse cateter se passou um microbalão e aí, quando ele foi posicionado no ponto exato desse aneurisma, esse balão foi insuflado e, com ele cheio, impediu que o sangue passasse por dentro do aneurisma. Voltamos para a microcirurgia, esvaziando o aneurisma e deixando a bolha flácida. E não sangrava porque o balão impedia esse sangramento. E esse balão serviu de base depois para colocarmos, na base do aneurisma, alguns clipes [de titânio, empregado para excluir o aneurisma da região cerebral sem prejuízo da circulação] sem que isso prejudicasse o vaso normal”, disse Fernandes.
Após três dias da cirurgia, a paciente teve alta. “Foi uma recuperação fantástica”, disse o médico.
A ideia agora é que o novo procedimento possa ser adotado em vários outros casos de aneurisma, dependendo do tipo, já que ele não pode ser aplicado em todos os casos. O problema, alertou o neurocirurgião, é que seria preciso investir no aparato tecnológico, por exemplo, para a sala de cirurgia, e também no recurso humano, ou seja, na formação e aperfeiçoamento dos médicos e na disponibilidade deles.
“O aneurisma cerebral não é uma doença frequente. Por isso, não se justifica investimento em todos os hospitais. Seria um desperdício montar essa estrutura [em todos o