Um novo estudo desenvolvido por cientistas brasileiros descreveu pela primeira vez com detalhes como a infecção por zika em mulheres grávidas está relacionado ao desenvolvimento de artrogripose nos bebês. A síndrome provoca graves deformidades nas articulações, especialmente em braços e pernas. A pesquisa analisou sete bebês que nasceram em Pernambuco com infecção por zika.
De acordo com a autora principal do estudo, Vanessa Van Der Linden, neuropediatra do Hospital Barão de Lucena, no Recife, a análise mostrou que a artrogripose dos bebês não está relacionada a anomalias específicas das articulações, mas tem origem neurogênica, isto é, ligada ao processo de formação dos neurônios.
"Dois estudos anteriores, feitos no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, já haviam identificado três pacientes com zika e artrogripose, levantando a possibilidade de que a má-formação também estivesse ligada à infecção pelo vírus. Mas até agora nenhum trabalho havia descrito as deformidades em detalhes nem investigado se ela tem origem neurogênica", disse Vanessa.
Para estabelecer a relação com a zika, os cientistas excluíram todas as outras possíveis causas da má-formação, usando exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética.
"Fizemos estudos detalhados dos cérebros e das articulações de sete crianças com artrogripose e diagnóstico de infecção congênita por zika. Nenhuma delas apresentava alguma das demais causas desse tipo de deformidade congênita", disse.
Microcefalia
Seis das sete crianças tinham microcefalia e todas apresentavam sinais de calcificação no cérebro, problema causado pelo acúmulo de cálcio nos tecidos cerebrais. Segundo Vanessa, a hipótese é de que o vírus da zika destrói células do cérebro, formando lesões semelhantes a "cicatrizes", onde o cálcio é depositado.
A principal hipótese é de que a má-formação seja produzida por um processo que envolve os neurônios motores - as células cerebrais que controlam a contração e o relaxamento dos músculos -, levando a posturas fixas no útero que provocariam as deformidades. "Observamos também que quatro crianças apresentavam uma medula espinhal mais fina do que o normal e danos cerebrais, mostrando que realmente existe uma associação entre a artrogripose e as consequências neurológicas da infecção por zika", disse a pesquisadora.
De acordo com Vanessa, o estudo ajudará a entender melhor os sintomas provocados pelo vírus zika, o que contribuirá para entender seus mecanismos de infecção. Vanessa reforça que o fato de um dos bebês não ter microcefalia é uma observação importante. "Isso nos levou a concluir que não há uma correlação necessária entre a gravidade da infecção por zika, uma vez que o caso de uma das crianças não era grave, com a artrogripose."
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