Selfie, o esporte dos inseguros Quanto mais inseguro um ser humano é, mais necessidade ele sente de conseguir indícios da aprovação alheia gplus
   

Selfie, o esporte dos inseguros

Quanto mais inseguro um ser humano é, mais necessidade ele sente de conseguir indícios da aprovação alheia

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Estou mentindo? Fiz alguma descoberta capaz de me colocar entre os finalistas de um prêmio Nobel? Claro que não. Nada de novo, eu sei.

A carência de aprovação alheia já é uma ânsia diretamente proporcional à insegurança há muito tempo, desde a época em que o homem vivia dentro de cavernas e caçava para sobreviver, arrisco dizer. 

A grande novidade (já não tão nova assim, mas ainda pouco comentada por aí) é a crescente utilização das ferramentas de comunicação – principalmente das redes sociais – para facilitar a busca e a obtenção da aprovação alheia.

Se antes da internet o inseguro precisava se dirigir até a casa de um amigo – ou a um bar lotado - para conseguir um elogio à tatuagem recém-realizada, hoje - em tempos de murais azuis e de Wi-fi em todo canto -, basta compartilhar uma foto do novo rabisco em alguma rede social que, em questão de segundos, a aprovação pela qual ele tanto anseia para se sentir capaz de confiar na própria opinião – ou para espantar a falta dela - surgirá em formato de “curtida”, de compartilhamento e de comentários como “Ficou linda, cara!”.

A verdade é que a pessoa insegura sempre sente a necessidade de uma segunda, de uma terceira, de uma quarta, de uma quinta, enfim, de muitas outras opiniões. Por quê? Porque ele não consegue confiar na primeira opinião, a própria. Os inseguros têm fome por confirmações que, de alguma forma, reforçam o próprio julgamento, ou seja, mesmo quando gostam do novo corte de cabelo, costumam tirar selfies para arrecadar certezas. 

E antes que você, cidadão cujo perfil do Instagram possui alguns autorretratos, mande-me à merda pela associação direta entre as selfies e à insegurança, eu gostaria de deixar a minha opinião bem clara: nem toda selfie deriva da insegurança; só 98% delas. Ok? Posso ir além? Você não vai ficar bravo e querer me pegar na saída? 

A selfie, em muitos casos, não passa de uma modalidade de pesquisa maquiada e muito tendenciosa. Maquiada porque apesar de ter o mesmo objetivo de outras pesquisas, isto é, utilizar uma amostra para confirmar ou criar uma opinião, ela vem disfarçada de “Galera, só fiz essa foto para desejar tudo de bom no dia de vocês”, de frases de biscoito da sorte e de outras coisas que nada têm a ver com aquilo que o ser que postou a selfie realmente almeja como resultado: nuvens de confetes capazes ofuscar a insegurança. Compreende? E é tendenciosa porque, na maioria das vezes, não utiliza uma amostra neutra e que dará opiniões imparciais. Ou acha que os seus amigos do Facebook, caso achem a sua nova tattoo bizarra, postariam algo como “Ficou zoada, irmão. Laser nela!”? Claro que não! Só personalidades públicas com o Facebook infestado de desconhecidos e haters correm esse risco. Caso contrário, irmão, a selfie ainda é a forma mais barata, fácil e segura de conseguir soterrar um “Será que estou bonito hoje?” com a ajuda de muitos – mas de sinceridade duvidosa -polegares apontados para o céu.

Agora peço licença, pois antes de ir à academia, preciso fazer uma selfie do meu novo tênis. Sabem como funciona, não sabem? Achei lindo no dia em que comprei, mas agora, olhando bem pra ele, parece-me muito colorido, demasiadamente carnavalesco, sei lá, não sei mesmo. Ou será que falta confiança no que acho? Enfim, vou lá... Porque só preciso que alguém – um puxa-saco já serve!- lance um “Quero um igual!” para que eu consiga, finalmente, voltar a acreditar naquilo que nunca deveria ter deixado de ser uma certeza minha, independe do que os outros pensam/pensarão a respeito.


Ricardo Coiro