Para mim, não há adjetivo tão capaz de evidenciar o pavor que o homem brasileiro possui de ter a masculinidade questionada quanto o “boa-pinta”.
Se pensar um pouco a respeito, logo perceberá que o “boa-pinta” vai muito além de um simples sinônimo para belo ou bem-apessoado. Pois é, também, a palavra que o tradicional machão brasileiro elegeu para afirmar a beleza de outro homem e, ao mesmo tempo, não deixar dúvidas quanto à própria masculinidade. Quando um cara diz “Ele é boa-pinta’” está, também e de maneira implícita, querendo dizer: “Mas meu negócio é mulher, ok? Que fique bem claro!”.
Se o Brad Pitt é bonitão – como você bem pode ver e não ousaria negar -, então, responda-me: qual é o problema de afirmar, publicamente, algo como “O Brad é bonito”? Nenhum, respondo.
Diferente do que você está acostumado a pensar, falar “O Malvino Salvador é bonito” não é o mesmo que dizer “Eu gosto de chupar pirocas duras e cabeçudas!” ou “Aí que vontade de dar a bundinha!”. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Se eu acho algum homem bonito? Muitos, irmão. O mundo está cheio deles, não está? E não tenho a mínima vergonha de reconhecer a boniteza de outros caras em bares e churrascos lotados de gente que ainda pensa como pensavam há cem anos. O Johnny Depp é bonito, basta ter olhos para perceber. O Colin Farrell também. O Malvino Salvador... Enfim, eu acho homens bonitos, vários. O que não significa que eu sinta algum tipo de atração sexual por eles, coisa que não seria qualquer demérito ou defeito, que fique bem claro.
Você fala “boa-pinta”, né? Ou é do tipo comum que nunca – nem depois de tortura e socos no baço - elogia a beleza de outro homem? Não se sinta uma alienígena, cara. Você é apenas mais um entre os muitos reflexos de uma cultura que, infelizmente, insiste em separar o mundo em “coisa de macho” e “coisa de mulherzinha”. Ou ainda não percebeu que você, desde criança, segue fielmente o bizarro código de conduta do machão brasileiro? Não segue? Ah é? Então por que você só consegue pensar na palavra “boa-pinta” quando precisa mencionar a beleza de outro homem? Como me explica tantas camisas e nenhuma cor de rosa? O que me diz das várias vezes em que criticou os homens que se cumprimentam com beijos no rosto? Hein? E as lágrimas que não chorou no cinema, o que me fala a respeito delas? Percebe agora? Ufa.
Mesmo assim - depois de tudo o que acabou de ler - você continua preocupado com que os outros vão pensar? Grande idiotice! Por quê? Pois as mulheres – não são elas que lhe interessam? - gostam de caras seguros a ponto de não sentirem qualquer necessidade de sair por aí afirmando que são isso ou aquilo. Aliás, ter medo de afirmar que um homem é bonito demonstra uma insegurança gigantesca e, como eu já disse em outros textos, elas odeiam isso.
Sobre Ricardo Coiro
Vive entre o soco e o sopro. Morre de medo do morno e odeia caminhar em cima do muro. Acha que sensibilidade é coisa de macho e que estupidez é atitude de frouxo. Nunca recusou um temaki ou um café.
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